11 setembro 2019

Alta ociosidade deverá abrir espaço para Selic ficar abaixo de 5% em 2020

Alguns economistas avaliam que fraca atividade econômica e pouca expansão na renda não irão gerar pressões inflacionárias relevantes para 2020; outros especialistas veem cenário com cautela

Há espaço para uma queda da taxa de juros básica (Selic) abaixo de 5% em 2020. Como a ociosidade das empresas ainda está elevada e a renda pouco tem crescido, uma redução maior da Selic não geraria pressões inflacionárias.

É o que avalia o economista da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo. Ele espera que o Banco Central (BC) corte os juros em um ponto percentual até o final de 2019, levando a taxa de 6% ao ano a um patamar de 5%.

Alexandre acredita que o BC deve parar por um tempo “nesses 5%” para avaliar riscos externos e o andamentos das reformas. Porém, ele vê espaço para os juros caírem a 4,75% e até mesmo a 4,50%, a partir do próximo ano.

“Trabalho com um cenário de PIB [Produto Interno Bruto] crescendo perto de 2% em 2020. Mas a inflação vai continuar muito comportada, em torno de 3,70%, abaixo da meta de 4,00%”, projeta.

Para ele, a expansão um pouco maior da economia em 2020 não gerará riscos de pressão inflacionária. “Um ponto importante é que no ano que vem ainda teremos uma ociosidade grande nas empresas. O desemprego vai começar a cair mais rápido do que em 2019, no entanto estamos vendo uma migração para as atividades informais”, afirma Alexandre.

“O crescimento do consumo em 2020 não irá bater na inflação”, reforça o economista. Ele lembra que boa parte do trabalho informal gera ganhos menores para o trabalhador do que um emprego com carteira assinada, por exemplo, o que significa que a expansão dos rendimentos dos brasileiros não será tão expressiva em 2020 a ponto de resultar em um descontrole inflacionário.

O ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa também defende um corte maior dos juros. Em um evento na última segunda-feira (9), na capital paulista, Barbosa comentou que o aperto fiscal mais forte projetado para 2020 tende a desestimular mais a economia. “O volume de cortes propostos para o ano que vem, teoricamente, pode ser compensado por uma redução maior da taxa Selic. Neste caso, teria que cair abaixo de 4%”, ressaltou o ex-ministro.

O Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2020 prevê uma redução de R$ 13 bilhões nas despesas discrionárias do governo na comparação com este ano (de R$ 102,4 bilhões para R$ 89,1 bilhões). Os gastos discricionários incluem despesas de custeio (luz, água, transporte) e investimentos.

Cautela excessiva
O professor de economia da FAAP, Eduardo Mekitarian, avalia que o processo de redução da taxa de juros no Brasil foi muito lento, devido à espera do andamento de reformas estruturais. “Creio que há uma cautela excessiva do Banco Central. O ambiente econômico no Brasil é recessivo. A taxa de juros real está em torno de 2,25%, 2,50%. É um patamar alto em relação a outros países”, diz Mekitarian.

A taxa de juros real é a taxa nominal menos a inflação. Para o professor da FAAP, o BC tem que deixar a cautela de lado nas suas próximas reuniões e reduzir mais o patamar dos juros. Na visão de Mekitarian, uma Selic de 5% ao ano poderia garantir ao País uma taxa de juros real entre 1% e 1,5%, o que, para ele, seria um nível estimulativo para o Brasil.

Já Patrícia Pereira, especialista da Mongeral Aegon Investimentos, afirma que a cautela do BC é o que tem conferido credibilidade à autoridade monetária. Ela vê com cautela uma redução de juros abaixo de 5%. “A expectativa é que a inflação feche 2020 em torno de 3,80%, próxima à meta de 4,00%. Qual o benefício de reduzir em mais 0,25 pontos a Selic e ter menos margem de política monetária depois para reverter eventuais choques?”, questiona a especialista.

A posição do estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, é semelhante. Segundo ele, o BC não pode “queimar” muito a Selic hoje sob o risco de não ter espaço mais para a frente de dar estímulos adicionais para a economia. Ele destaca que no momento em que a confiança voltar com mais força, diante das reformas estruturais e privatizações, o governo terá que dar estímulo ao crédito para que as empresas nacionais possam competir com os investidores internacionais que passarem a ingressar no País... Leia mais em dci 11/09/2019

11 setembro 2019



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