11 setembro 2018

François Luscan, da Albéa: "É preciso aliar competências em diversas áreas"

Em conversa com o site Brazil Beauty News, o número um da Albéa traça um panorama preciso dos objetivos do Grupo e de seus desafios, poucos meses depois da incorporação da empresa pela PAI Partners, seu novo acionista. Globalmente, a mensagem do presidente é: "Trabalhar mais rápido, reforçar as bases da empresa, preservar nossa reputação e oferecer sempre os melhores serviços aos clientes".

Brazil Beauty News - Com que desafios uma empresa como a Albéa precisa lidar no dia a dia?
François Luscan - Sei que minha resposta vai parecer banal, mas não posso deixar de dizer que o mercado está cada vez mais acelerado: o número de lançamentos, os prazos de desenvolvimento e de abastecimento de matérias-primas, as novas tendências que não param de surgir... Tudo está acontecendo bem mais rápido. Isso nos obriga, a nós como a todas as indústrias do setor, a reforçar nossos alicerces, particularmente em matéria de desempenho operacional. Precisamos agilizar, simplificar e tornar mais eficazes todos os processos de decisão, compra, planejamento, beneficiamento, fabricação e inovação. Embora muitas vezes a tendência seja dar prioridade à tecnologia e aos recursos digitais — que, sem dúvida alguma, são formidáveis fatores de impulso para a indústria —, estou plenamente convencido de que são as pessoas, sua criatividade, sua capacidade de adaptação, seus valores e seu compromisso que fazem a diferença e garantem a boa reputação de uma empresa e o futuro da indústria. Em suma, nossos desafios atuais estão nas oportunidades da indústria 4.0, na guerra de talentos, na importância da capacitação dos profissionais e nas questões ambientais.

Brazil Beauty News - Há menos de dois anos, nós, do Brazil Beauty News, tivemos a oportunidade de conversar com o senhor. Nesse meio tempo, a empresa mudou de acionista. Que consequências essa mudança teve para o Grupo?
François Luscan - Se me permite, vale a pena dizer duas palavrinhas sobre aPAI Partners, o novo parceiro da Albéa. A empresa, cuja história teve início em 1872, contribuiu para a industrialização da França no final do século XIX e começo do século XX. Atualmente, a PAI Partners cultiva uma visão de longo prazo em relação aos investimentos industriais e foca sua ação em setores bem específicos. A PAI Partners tem um compromisso concreto com o crescimento.

Com nosso antigo parceiro, a Sun Capital, a prioridade era a otimização industrial, e os investimentos tinham como objetivo dar maior rapidez aos processos, melhorar o desempenho e ser uma empresa mais moderna. Foi nessa época que o Grupo comprou e integrou sete empresas, entre as quais nossa mais recente aquisição, a Covit, fabricante de peças de metal. A operação foi realizada em fevereiro de 2018.

Com a PAI Partners, inauguramos um novo capítulo de nossa história, voltado para o crescimento orgânico, bem como para a expansão externa. Temos um plano estratégico sólido, que recebeu o aval de nosso acionista e conta com o apoio dos clientes e das equipes da empresa.

Brazil Beauty News - Em dois anos, o Grupo Albéa continuou investindo não somente em seu próprio parque industrial, como também na conquista de novas fatias de mercado, com a aquisição de novas empresas.

François Luscan - Sim, de maneira geral, mantivemos o ritmo dos investimentos industriais em cerca de 80 milhões de dólares ao ano. Graças a esses investimentos, foi possível inovar, automatizar, criar novas linhas de produção e ampliar a capacidade e o desempenho da empresa, incorporando novos processos de fabricação.

Em matéria de aquisições, vale ressaltar a compra da Covit, fabricante espanhol de peças de metal, bem como a de uma unidade de produção de tubos laminados em Levice, na Eslováquia. Nem preciso dizer que as peças metálicas estão entre os componentes críticos de alguns dos itens mais importantes de nossa carteira de produtos, como tubos para batom e bombas. A Covit era um dos nossos fornecedores estratégicos na Europa. O Grupo Albéa já dispunha de uma fábrica nos Estados Unidos e de capacidade de produção na China. Com a aquisição da Covit, estamos contribuindo para o desenvolvimento de um fornecedor mundial de peças metálicas, com atuação sólida e reconhecida no mercado. A Albéa e a Covit estão trabalhando para desenvolver uma expertise conjunta, embora tenhamos conservado métodos de gestão relativamente independentes.

Em relação à unidade industrial de Levice, a aquisição permitiu consolidar nossa presença no segmento de tubos na Europa e integrar um novo modelo de negócios que associa grandes contas e pequenos clientes, seguindo um modo de funcionamento estritamente empresarial.

Essa é mais uma ocasião para ressaltar nossa visão em matéria de aquisições, bem como em relação às joint ventures e parcerias que estabelecemos. Acredito em sistemas flexíveis que permitam desenvolver know-how, compartilhar recursos financeiros e aumentar a capacidade industrial - tudo isso seguindo um modelo de integração que pode ser total ou parcial, por exemplo no caso de se optar pela liberdade de ação empresarial, ou caso apenas os ativos industriais sejam adquiridos.

Brazil Beauty News - Os recursos digitais, o meio ambiente, a responsabilidade social das empresas e o modelo full service são, mais do que nunca, elementos de destaque nos mercados de hoje. Como a Albéa se adapta a esses novos desafios e que recursos são mobilizados para que a empresa reafirme seu diferencial?

François Luscan - A Albéa tem um compromisso histórico em matéria de RSE, um compromisso que remonta a 2004. Desde então, nossas convicções nessa área não mudaram. A RSE representa um impulso para o crescimento, bem como para a reputação e a atratividade da empresa, seja em curto ou longo prazo. Como exemplo, podemos citar a conquista do prêmio Luxe Pack in Green, em 2016, que coroou nossas iniciativas na área. Mas não podemos negar que o mercado vem evoluindo com muita rapidez. A questão da RSE está se tornando cada vez mais importante para nossos principais clientes, sem falar que as normas internacionais estão ganhando mais espaço. O tema também é importante para nosso posicionamento como empregador, para nossos funcionários e futuros contratados, e particularmente para a geração Millenials, que se mostra ainda mais engajada que seus predecessores. Quanto ao meio ambiente, sabemos a importância que tem essa questão para os Estados e as associações internacionais do setor.

Falando especificamente da Albéa, desenvolvemos uma política baseada em quatro princípios fundamentais.

Primeiramente, as pessoas. O objetivo é garantir a segurança, o bem-estar e a conformidade das operações da empresa no plano social, bem como desenvolver expertises essenciais ao setor de embalagens.

Em segundo lugar, estão nossas operações e a firme determinação de reduzir nossa pegada de carbono e o consumo de energia e água.

O terceiro alicerce de nossa política envolve os produtos que fabricamos. A ideia é contribuir ativamente para o desenvolvimento de uma economia circular eficaz no setor de higiene e beleza, tendo em vista a importância da embalagem primária e respeitando os compromissos assumidos por nossos clientes.

Por fim, o quarto princípio fundamental abrange todos os nossos parceiros, sejam eles clientes, fornecedores ou associações profissionais. Nesse campo, decidimos lançar um levantamento denominado "Análise de Materialidade", voltado para todos os parceiros com quem trabalhamos, seja dentro da empresa ou externamente. Graças a essa Matriz, poderemos definir um novo plano de RSE quadrienal, identificando, priorizando e nos comprometendo com as políticas mais apropriadas para a Albéa. Como sempre, o objetivo é garantir a coerência com nosso ecossistema e a participação das equipes. Os resultados estarão disponíveis até o final deste ano.

Quanto à dimensão que os recursos digitais têm adquirido, não temos como negar que essa realidade vem transformando os hábitos de consumo, de comunicação, de compartilhamento de dados e de interação com os consumidores, com as marcas e com os fornecedores. As ferramentas digitais abrem espaço para o surgimento de influenciadores, e-stores e marcas Indies, contribuindo para conectar o universo da beleza. Além disso, permitem inovar de maneira colaborativa e transversal, com agilidade e rapidez.

Os recursos digitais são parte integrante dos desafios da indústria 4.0, desafios estes que a empresa vem se empenhando para vencer. Temos que nos adaptar a um mundo cada vez mais complexo, volátil, incerto e ambíguo. Para tornar as coisas ainda mais difíceis, esse mundo — cada vez mais digital e interconectado — vem ganhando mais velocidade. No nosso caso, a indústria 4.0 abrange a realização de protótipos 3D, impressão digital, robótica e inteligência artificial, além de open innovation, criatividade, inteligência humana e muito mais. A indústria 4.0 tem como base o desenvolvimento de competências e equipes, a integração de novos profissionais em um cenário mundial de "guerra de talentos" e a simplificação dos processos industriais e administrativos. Ou seja, trabalho é o que não falta!

Em relação ao modelo full service, gostaria de lembrar os comentários feitos recentemente por nosso colaborador Xavier Leclerc de Hauteclocque, responsável pela divisão Beauty Solutions, que movimenta cerca de 100 milhões de dólares. Sintonizada com a evolução do mercado, essa divisão passou a oferecer soluções turnkey, ou seja, pacotes completos. Para tanto, a Albéa contratou novos profissionais, especialmente na área de formulação — não para fazer o trabalho dos formuladores, mas para identificar, de maneira proativa, as tendências em matéria de formulação e o impacto que elas representam para as embalagens, de forma a proporcionar um ganho de tempo para os clientes. Nosso desejo é colaborar com os formuladores, cada um em sua área de expertise, e oferecer às marcas um modelo de gerenciamento de projetos bem adaptado. Temos também procurado desenvolver nosso ecossistema de fornecedores e parceiros, priorizando critérios rigorosos em matéria de qualidade e RSE. Para completar, nossa oferta é estruturada de forma a atender às necessidades de cada tipologia de cliente. A Albéa acredita no valor de se trabalhar dentro de um ecossistema, inclusive para o modelo full service.

Brazil Beauty News - Para a Albéa, 2018 será um ano positivo? Quais são as previsões para 2019?

François Luscan - Não tenho bola de cristal, mas sabemos que o mercado vem crescendo em todas as regiões do mundo, principalmente na categoria luxo e em praticamente todos os segmentos nos quais atuamos. O que posso dizer é que, globalmente, o primeiro semestre foi animador e que, segundo nossas previsões, 2018 deverá ser um ano positivo para a empresa, com crescimento de 3% a 4%. Mas, para alcançar esse resultado, é fundamental oferecer "paz de espírito" aos clientes que confiam em nós — por isso, todas as equipes da Albéa estão mobilizadas nesse sentido.

Ao mesmo tempo, se olharmos um pouco mais longe, veremos que o mercado está mudando muito rápido. Em nossa carteira de clientes, temos grandes grupos do setor, mas também um número crescente de pequenas marcas. Esses clientes têm necessidades distintas, sobretudo se fizermos uma segmentação mais detalhada. A maioria dessas empresas estão crescendo e têm modelos de negócios bem diferentes. O grande desafio é acompanhar o crescimento desses diversos mercados em paralelo, oferecendo soluções adaptadas a cada um.

Em relação aos produtos, a inovação precisa ser mais rápida e mais personalizada. Portanto, é preciso contar com uma organização ágil, que mantenha uma governança bem equilibrada entre mercado local e mercado global, entre um design inspirado em tendências atuais e uma inovação revolucionária, entre a promoção das linhas de produtos existentes e a busca por novidades, entre uma solução de uso generalizado e uma solução para uso específico, de forma que o mercado reconheça a solidez de nossos processos e a qualidade de nossa expertise técnica.

Brazil Beauty News - O senhor menciona com frequência o desafio que o meio ambiente representa para a empresa.

François Luscan - A questão dos plásticos é um problema que diz respeito a todo mundo. A começar pela Albéa, é claro, mas essa situação afeta também os fornecedores, os clientes e os consumidores. Nesse aspecto, a parte mais visível do problema é o fim do ciclo de vida dos produtos e das embalagens de plástico, em particular descartáveis (single-use). A verdade é que o consumo de descartáveis vem aumentando matematicamente com a urbanização, o crescimento demográfico, a afluência de pessoas. Todos os setores de consumo são afetados — por exemplo, a sacola distribuída no caixa da loja, o pacote de batata frita, a garrafa de água, os produtos de limpeza e, naturalmente, os produtos de higiene pessoal e de beleza.

A questão poderia consistir simplesmente em abandonar o atual modelo de embalagens descartáveis e adotar um modelo em que as embalagens sejam recicláveis e recicladas. Mas isso envolve, por um lado, o setor de coleta de resíduos e a organização da cobertura territorial e, por outro lado, o setor de processamento (disposição em aterro, incineração e, naturalmente, reciclagem), o que exige uma reflexão sobre a eficácia ambiental desse sistema em curto, médio e longo prazos, sem falar nas normas relativas aos tipos de materiais plásticos, muitas vezes autorizados para certas aplicações e não para outras. Uma questão importante também é a tributação das empresas do setor de coleta e tratamento de resíduos, que deve promover novos equilíbrios econômicos.

No caso específico da indústria de cosméticos, se considerarmos o volume global relativamente pequeno e a dimensão reduzida das embalagens, bem como a imagem veiculada pelos produtos (o fato de ser de plástico é menos importante que o prazer estético proporcionado pela embalagem) e suas funções (que muitas vezes envolvem diversos componentes e materiais), o principal desafio de hoje é o desenvolvimento de uma economia circular eficaz ao longo de toda a cadeia de valor: como organizar sistemas de coleta adaptados? Como adequar a legislação fiscal, ambiental e sanitária para garantir o sucesso dessa transição? Em relação aos fornecedores para a indústria, a exemplo da Albéa, como continuar desenvolvendo produtos com design ecológico (menos componentes, menos materiais, menos plásticos) e, acima de tudo, que ofereçam um "design circular", tornando nossas embalagens reutilizáveis ou recicláveis e usando matérias-primas recicladas ou de fontes renováveis?

Esse é um verdadeiro desafio para toda a indústria — mas tenho plena certeza de que, junto com os clientes, fornecedores e concorrentes, saberemos vencê-lo de forma brilhante.

Brazil Beauty News - No cenário atual, é fácil atuar como fornecedor de embalagens, levando em conta as numerosas exigências feitas às indústrias, em um universo no qual tudo acontece muito rápido - às vezes rápido demais - e sem que seja dado o devido valor à legitimidade industrial e técnica?

François Luscan - Sou fascinado pela indústria de cosméticos e tenho muito orgulho de atuar nesse setor. Veja como é interessante: alguns dos nossos gestores que iniciaram a carreira na indústria automotiva costumam dizer que no setor de cosméticos tudo é mais rápido, mais imprevisível e mais estimulante, pelo fato de termos, o tempo todo, novos e numerosos desafios a enfrentar.

Para mim, a indústria é feita de pessoas, fábricas, geografias, história e competências raras. Não vejo como exigências, mas como valor. É por isso que a RSE é tão importante para o Grupo Albéa. Os desafios são o que me dão estímulo — e o desafio atual é tornar a indústria mais ágil e apostar na audácia, na criatividade e no uso de recursos digitais.

Brazil Beauty News - O senhor sempre previu que haveria uma intensificação dos processos de concentração industrial. Aliás, a Albéa é uma ilustração perfeita desse tipo de operação. Na sua opinião, essa tendência vai se confirmar?

François Luscan - Sim, o processo de concentração de empresas vai prosseguir. O mercado mudou muito, trazendo novas exigências como time to market, uso de recursos digitais, velocidade, agilidade e o buzz das soluções turnkey. Muitas empresas estão chegando ao mercado, novos modelos de negócios estão sendo lançados. Todas essas empresas, pequenas ou grandes, antigas ou novas, terão que se adaptar o mais rápido possível.

Quanto a mim, como disse anteriormente, acredito muito no poder das parcerias. Nesse mundo complexo em que atuamos, é preciso encontrar oportunidades nas quais todos saiam ganhando. É possível estabelecer associações apenas em uma determinada região ou em escala internacional, em um segmento inteiro ou apenas em um mercado. Fundamentalmente, considero que qualquer operação financeira, seja aquisição, parceria, joint venture ou venda de ativos, tem sempre um mesmo objetivo: oferecer melhores serviços aos clientes. A compatibilidade dos valores das empresas é essencial, bem como a qualidade dos profissionais. Desejo ampliar minha família, e não eliminar os concorrentes nem lançar reestruturações difíceis que retardem o crescimento da Albéa.... Leia mais em brazilbeautynews 11/09/2018



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