21 setembro 2018

Ofertas 'no forno' somam R$ 25 bilhões

Um número relevante de companhias tem se preparado para fazer oferta de ações logo que o cenário eleitoral for definido. Se todas as empresas brasileiras que estão contratando assessores financeiros e jurídicos para ofertas iniciais (IPOs) e subsequentes ("follow-ons") depois das eleições se concretizarem, será uma avalanche da ordem de 20 ofertas entre o fim de 2018 e de 2019. Conforme levantamento feito pelo Valor com bancos de investimento, escritórios de advocacia e empresas, isso representa um volume da ordem de R$ 25 bilhões.

Os bancos BMG e Agibank, as empresas de tecnologia e serviços Tivit, Movile e Neoway, as elétricas Neoenergia, Light e Equatorial, a resseguradora Austral Re, a holding seguradora Caixa Seguridade, a mineradora Vale e a varejista Quero Quero são algumas das empresas na lista de IPOs e follow-ons previstos para essa reabertura do mercado de ações. Duas fontes incluem o grupo de infraestrutura Invepar nessa lista.

"Vinte é um número razoável de ofertas para um período de 14 meses após a eleição. Pode ser até mais que isso", diz Eduardo Miras, chefe do banco de investimentos do Citi Brasil. Segundo o executivo, houve uma mudança no ritmo das empresas desde agosto. "Depois de uma esfriada no fim do primeiro semestre, o diálogo com as empresas para acessar o mercado se intensificou bastante nos últimos dois meses", afirma.

Uma das questões principais é a proximidade com a data das eleições presidenciais e estaduais e a interpretação sobre as pesquisas eleitorais. Há três meses, nem os nomes dos candidatos estavam definidos e, há dois meses, pouco se sabia sobre sua força de atração de voto - o que aumentava a invisibilidade de empresas e investidores sobre o potencial desfecho nas urnas.

"A cada pesquisa, fica claro como o mercado reage a esse ou àquele candidato, e as empresas e investidores se preparam para isso, independentemente de suas preferências partidárias", diz o chefe de um banco de investimento brasileiro, que prefere não ser identificado. "No fim das contas, o que o investidor quer saber é se o novo patamar de câmbio é R$ 4 ou não, por exemplo", complementa.

Para Eduardo de la Peña, diretor da área de mercado de capitais do Credit Suisse, a principal questão é a redução de incertezas. "O mercado não gosta de incertezas porque fica difícil traçar cenários, ter percepção do risco e, consequentemente, há falta de disposição para teses novas de investimentos", diz o executivo. "Quando a incerteza está fora do tabuleiro, os investidores decidem se estão dispostos a tomar aquele risco específico."

Para dois bancos e dois escritórios de advocacia, como a alocação atual de investidores estrangeiros em ativos brasileiros é baixa, o caminho é de crescimento de aportes. O impacto da definição do candidato eleito se daria na velocidade com que essa volta ao Brasil aconteceria, o que influencia o ritmo de ofertas de ações. "Num cenário positivo, empresas financeiras e de consumo atraem os investidores, enquanto num cenário mais defensivo, empresas de saúde e de energia tendem a atrair demanda", afirma André Rosenblit, responsável pela área de renda variável do Santander.

Nas contas do Santander, são esses cenários que vão definir o espaço que, no mapeamento do banco, indica 30 ou 10 IPOs de empresas brasileiras, conforme o cenário nacional e externo em 18 meses.


Para as instituições, um volume maior de IPOs no início do ano pode acontecer porque, além das operações que já foram adiadas em uma primeira tentativa, há uma "janela" maior para ofertas com resultados no terceiro trimestre, segundo o Credit Suisse. "As companhias podem usar os números do terceiro trimestre para ofertas de novembro a fevereiro", diz De la Peña.

A percepção dos bancos é semelhante a do escritório Mattos Filho. "Tem muita oferta represada. Foram quase três meses de calmaria, sem andamento de processos, mas a perspectiva mudou muito recentemente", diz Vanessa Fiusa, sócia de mercado de capitais do Mattos Filho. "Tem muita empresa se organizando para estar com tudo pronto imediatamente após a eleição e sair com as ofertas principalmente no início de 2019."

O banco gaúcho Agibank, que suspendeu a operação em junho, prefere fazer a operação ainda este ano - o concorrente mineiro BMG quer tentar fazer antes, ou seja, também pode sair ainda em 2018.

Empresas que precisam fazer oferta para dar saída a acionistas, como Neoenergia (IPO) e Light (follow-on), devem ficar para o primeiro semestre de 2019, por diferentes motivos. "No caso da Light, não vai sair negócio de empresa de controle estatal antes da definição da eleição e posse dos novos governos", diz um executivo. "Quem vai investir ali sem saber a linha do governador de Minas?", questiona, referindo-se ao acionista controlador da elétrica, a estatal mineira Cemig.

Citada por alguns assessores de operações, a oferta inicial da Caixa Seguridade também é diretamente dependente do governo eleito, apontam as fontes - o que empurraria uma oferta, se for em 2019, para o segundo semestre.

A empresa de tecnologia e análise de dados Neoway começou a contratar bancos e se preparar para uma oferta de ações em 2019, com listagem dupla na B3 e na Nasdaq. A empresa de meios de pagamento Stone e a dona de aplicativos Movile pretendem fazer oferta de ações somente nos Estados Unidos. A Movile é dona, por exemplo, do aplicativo de entrega de refeição iFood e do aplicativo de eventos Sympla. A decisão da oferta será tomada pela acionista Naspers.

A gestora de participações Vinci Partners também pretende fazer uma oferta pública de ações da resseguradora Austral Re no ano que vem, conforme uma fonte. A gestora tem conversado com o banco Brasil Plural para uma fusão de suas operações de resseguros - a do banco é a Terra Brasis Resseguros. O IPO seria um segundo passo para a companhia após essa operação, já que a companhia precisa aumentar de tamanho, conforme uma fonte. Outras gestoras de private equity, como Carlyle, GP Investments e Advent, também podem retomar ofertas de empresas de seus portfólios.

Algumas das companhias da lista estão buscando soluções privadas e têm o mercado de ações como alternativa, caso não haja transação direta. É o caso da Invepar, que opera o aeroporto de Guarulhos e o Metrô Rio, entre outros. Os acionistas (fundos de pensão e a construtora OAS) negociaram com o fundo árabe Mubadala e com a canadense Brookfield, mas não saiu negócio.

"Bancos têm sondado e a companhia considera a possibilidade de IPO. Mas acho difícil", considera uma fonte próxima à Invepar. O Grupo Pão de Açúcar (GPA) também tenta achar um comprador para sua participação na Via Varejo, de eletroeletrônicos. Mas, conforme duas fontes, pode optar por um follow-on em 2019 se a venda não sair no médio prazo. O GPA diz que "o processo de alienação da Via Varejo está em andamento", sem citar venda ou oferta.

Segundo os bancos, ofertas maiores nesse momento de mercado tem maior probabilidade de sucesso por questões técnicas. Investidores institucionais preferem ofertas acima de US$ 500 milhões, para garantir liquidez ao papel. Mas esse número fica cada maior no caso brasileiro, devido ao câmbio. "Para isso acontecer, haveria uma diluição grande, com venda de controle, o que os empresários normalmente não querem fazer no primeiro acesso ao mercado", diz Vanessa, do Mattos Filho.

Por isso, um volume razoável considerado hoje pelos estrangeiros para liquidez de companhias brasileiras é acima de bilhão. "São ofertas entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão, em média, então estamos falando de uma perspectiva da ordem de R$ 25 bilhões em volume", diz Marcelo Millen, responsável pela área de mercado de capitais para renda variável do Citi Brasil.

Apesar do reaquecimento gradual nos preparativos de ofertas, as empresas ainda não estão nem perto da fase de precificação. "Não adianta falar com o comprador quando ele não quer comprar", afirma Millen. A ponta compradora, de fato, ainda está em compasso de espera. "Não dá para colocar preço em ativo novo hoje, mas tem dinheiro parado para aumentar participação em bolsa", afirma o gestor de uma carteira de mais de R$ 4 bilhões em ações.

Questionados, Citi, Credit Suisse, Santander e Mattos Filho não falaram sobre empresas ou ofertas específicas.  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 21/09/2018

21 setembro 2018



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