16 maio 2018

Estresse externo pressiona dólar e eleva dúvidas sobre taxa de juros

Os mercados de câmbio e juros do Brasil voltaram a sentir a pressão externa que tem abalado ativos emergentes da Ásia à América Latina. O dólar aproximou-se ontem da marca de R$ 3,70, menos de uma semana depois de ter cruzado a linha de R$ 3,60 pela primeira vez em dois anos. A nova rodada de desvalorização do real pesou sobre o mercado de juros. Alguns vencimentos foram às máximas do ano. E até mesmo taxas de curto prazo, mais sensíveis à política monetária, subiram no pregão de ontem.

O movimento dos contratos de DI mais curtos se deu na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o rumo da taxa básica de juros da economia - a Selic. A despeito da inflação contida, a piora do quadro externo desafia o espaço para queda final da Selic a uma nova mínima histórica, de 6,25% ao ano. A chance de corte de 0,25 ponto percentual da taxa ficou em 67% no fim da sessão de ontem. As apostas para a trajetória de juros, entretanto, têm passado por solavancos e já chegaram a embutir mais de 90% de chance de corte semanas atrás.

No centro do acirramento das dúvidas sobre a política monetária está o câmbio. Desde a mínima do ano - de R$ 3,1315, em 25 de janeiro -, o dólar já sobe 17%. Ontem, a moeda americana cravou a terceira alta seguida, para R$ 3,6617, maior patamar de encerramento em 25 meses. Na máxima, chegou a R$ 3,6932.

No mercado, a grande discussão é menos sobre as causas desse movimento e mais a respeito de sua duração e seus impactos ao Brasil. Por ora, não há qualquer sinal de falta de moeda no mercado, diz Rodrigo Azevedo, exdiretor do Banco Central, atualmente sócio da gestora Ibiuna Investimentos.
"Existe uma demanda por 'hedge' cambial. E existe o dólar forte no mundo.

[...] O componente majoritário para a alta do dólar é externo", diz.
Mas o fator eleição tem sido cada vez mais citado por analistas. Para David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch (BofA) no Brasil, a taxa de câmbio ainda pode sofrer influência das eleições no Brasil, uma vez que hoje o cenário incerto limita apostas ligadas ao evento político. Porém, o profissional chama atenção para a ideia de que o real está se desvalorizando "sem pânico". Para ele, essa é a uma mudança importante, uma vez que depreciações semelhantes no passado ocorriam em meio a um sentimento de crise. Beker explica que a ausência dessa sensação de pânico se dá justamente pela melhora do balanço de pagamentos, classificado por ele como "robusto".

Ainda assim, um real mais depreciado parece o novo normal, pelo menos por enquanto, segundo Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina. Para ele, um dólar acima de R$ 3,50 "veio para ficar" até pelo menos as eleições. Ramos destaca que, apesar de condições macro melhores que em 2013 (período do Taper Tantrum, de forte alta dos juros de mercado nos EUA), por exemplo, o Brasil preferiu trabalhar com uma estratégia "gradualista" na resolução do problema fiscal. E isso se combina à incerteza eleitoral como fator a pressionar a taxa de câmbio. "Não acho que há um 'overshooting' [exagero na alta] no dólar. A taxa perto de R$ 3,70 é condizente com os riscos", afirma.

Na política monetária, a forte alta do dólar tem deixado para trás o cenário consolidado de expectativas para os juros. Até recentemente, a leitura era de que a meta Selic só voltaria a subir em meados do ano que vem. No entanto, o mercado já precifica alta de 252 pontos-base no juro ao longo de 2019. "O estresse do câmbio, num ambiente de incertezas eleitorais, embaralha as cartas desse jogo", afirma o operador Matheus Gallina, da gestora gaúcha Quantitas.

E instabilidade é uma palavra que define bem o comportamento recente do mercado de juros. Ontem, entre a máxima e a mínima no dia, algumas taxas percorreram mais de 20 pontos-base. O DI janeiro de 2025, por exemplo, chegou a cair para 10,040% ao ano depois de bater 10,270% no começo dia.
No fim da sessão regular, enquanto o vaivém se acomodava, a taxa era negociada a 10,100%, pouco acima do nível de 10,080% no ajuste anterior - Valor Econômico Jornalista: José de Castro e Lucas Hirata Leia mais em portal.newsnet 16/05/018

16 maio 2018



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