30 maio 2018

Consolidação na saúde pode ser oportunidade para fabricantes

Potencial. Fornecedores de equipamentos e produtos médico-hospitalares têm procurado “soluções criativas” para conseguir aumentar suas vendas mesmo em período de recessão


Em meio a uma retomada lenta, as perspectivas de um segundo ciclo de aquisições nos serviços de saúde deve render oportunidades para a indústria de equipamentos, que nos últimos anos sentiu um arrefecimento. Para aproveitar a onda, as fabricantes deverão levar em consideração a dificuldade de financiamento e a necessidade de redução de custo na área suplementar.

Na opinião do presidente da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Fehoesp), Yussif Ali Mere Jr, ainda há um grande número de empresas endividadas e com problemas financeiros. Contudo, o viés de recuperação e a entrada do capital estrangeiro no setor despertou um interesse em modernização, ampliação e compra de equipamentos entre os prestadores de serviço que podem atrair investidores. “Essa perspectiva de atrair capital estrangeiro anima a investir”, destaca o executivo.

De acordo com o sócio-líder da área de saúde na Deloitte Brasil, Enrico Vettori, os principais ativos de saúde protagonizaram nos grandes centros uma primeira onda de aquisições, agora esse movimento deve ser observado entre as empresas regionais. Isso não apenas entre os hospitais, muito procurados pelos investidores nos últimos dois anos, como também as chamadas atividades periféricas. Entre elas estão oncologia, oftalmologia, serviços médicos em geral, diagnóstico por imagem, entre outros.

“Com isso é possível imaginar que nesse plano entre manutenção, modernização, padronização da tecnologia de uma maneira geral, que vai desde software de gestão, a ERP e máquinas e equipamentos”, diz.

O CEO e presidente da GE Healthcare para a América Latina, Luiz Verzegnassi, acredita que as oportunidades vão além da aquisição de equipamentos. “Quando há consolidação, você tem que criar sinergias, seja através de tecnologias novas ou novos processos de trabalho. E nós temos outras ofertas como o braço de consultoria em saúde e educação”, detalha.

O desafio, de acordo com ele, é ajudar os investidores a identificar essas oportunidades. “Podemos, por exemplo, modernizar uma máquina de ressonância magnética, porque temos um produto que faz renovação. Muitas vezes ele quer essa opção, por exemplo. Cabe a nós identificar esse tipo de oportunidade”, diz. Segundo ele, mostrar as alternativas permite uma ampliação do relacionamento também.

Questionado sobre as regiões com maior potencial para a empresa, ele destaca que tem projetos em todo o País, mas no interior a atividade tem se mostrado de maneira forte. “É onde tem uma oportunidade importante de acesso a saúde”, destaca.

“Quando olhamos para o Brasil, o número de equipamentos por habitante é menor, principalmente fora dos grandes centros. Às vezes uma pessoa precisa viajar oito horas. Há uma demanda reprimida por equipamentos. Os fabricantes falam muito disso”, acrescenta a superintendente comercial do Banco DLL para as unidades de negócios saúde e tecnologia para escritórios, Mariana Marchesano.

Segundo ela, a interiorização dos fabricantes é um dos principais fatores que tem impulsionado a busca por financiamento nos últimos três anos, somado à queda da taxa de juros dos últimos três anos ante os três anteriores. “Em 2016 aumentou em três vezes o volume financiado, em 2017, duas vezes e meia e a projeção para 2018 é de alta de 50% do montante”, diz. Atualmente, o banco trabalha em parceria com as fabricantes GE, Philips e Siemens e entre seus focos estão o financiamento de grandes equipamentos para clínicas.

O desafio na hora de conceder crédito a empresas de saúde, de acordo com ela, é a formalização das companhias. “Muitas vezes as áreas de contabilidade de empresas pequenas e médias não têm o detalhamento necessário para um financiamento”, diz.

Uma dificuldade que o presidente da Baumer e diretor titular da ComSaúde, Ruy Baumer, observou é o aumento da restrição do BNDES, que sempre foi um financiador importante do setor. “O crédito hoje ainda é um problema para o setor”, diz, ao ressaltar que ocorre tanto na indústria quanto para os clientes.

Como alternativa, na Hill-Rom, o diretor regional, Bernardo Medrado, comenta que na retração econômica teve que recorrer à força americana e começar a oferecer outras soluções de financiamento. No período outras formas de aquisição de equipamento também ganharam relevância na empresa. O comodato, aluguel e outros modelos hoje são 20% dos contratos, antes 100% eram compras.

Outra estratégia da empresa para atingir os 28% de crescimento em 2017 foi apostando em um papel mais estratégico. “Você deve mensurar os resultados e conseguir dividir os riscos”, diz. Segundo ele, a empresa está acompanhando o resultado dos equipamentos vendidos, caso não tenha ocorrido o prometido, a Hill-rom estabelece um plano de ação ou oferece um desconto.

Na Baumer, Ruy aponta que entre as estratégias estão exportação, internacionalização, inovação e aumento de eficiência. “Também estamos investindo em melhorias, ampliação e lançamentos, mas apenas no que tem demanda factível. O que tiver demanda só no futuro vamos esperar”, explica. Para ele, hoje a reposição tem demanda superior aos novos mercados. “A preocupação, agora, é o soluço que a economia deu”. diz.

Para o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para a Saúde (Abimed), Carlos Goulart, mesmo que as projeções do PIB tenham sido revistas, se a economia crescer 2%, é possível que os fabricantes consigam expandir em 4%. “Em média, pois o setor tem muitos produtos e é possível encontrar desempenhos melhores ou piores”.

Segundo ele, em 2017 a demanda começou a reagir e agora em 2018 tende a se consolidar. Mesmo grandes equipamentos, que acabam sendo mais afetados durante uma recessão econômica, estão aos poucos voltando a ter um reaquecimento. Vivian Ito Leia mais em dci 29/05/2018

30 maio 2018



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