13 novembro 2017

Estrangeiro exige retorno maior para assumir riscos no mercado brasileiro.

A rentabilidade exigida pelos estrangeiros para assumir riscos no Brasil vem subindo desde o fim de setembro. Esse movimento é percebido pelo comportamento do cupom cambial, instrumento de mercado que reflete qual é a taxa de juros em dólares no país. Essa taxa voltou a subir sob efeito tanto do movimento de saída de recursos do país, em meio a incertezas na cena política, como da reavaliação do cenário global de juros baixos, que tem levado a uma elevação das taxas globais.

Na sexta-feira, a taxa do FRA de cupom cambial - que representa a taxa de juros em dólar e serve de termômetro de liquidez - subia a 2,34% no contrato para janeiro de 2018. Esse é o maior nível desde que tocou 2,77% em 27 de setembro, considerando também o contrato com prazo mais curto na época, que costuma ser o mais líquido. O impulso mais recente veio justamente no começo de novembro, quando o dólar chegou a tocar R$ 3,30 diante da onda de venda de ativos de emergentes. Foi justamente no último dia 3 que houve saída líquida de US$ 1,065 bilhão do país, como mostram dados recentes do Banco Central.

Para o profissional de tesouraria de um grande banco, a alta do cupom é explicada, em grande medida, pela saída de recursos do mercado local pela via financeira. Nas últimas semanas, tem havido retirada de recursos externos tanto da bolsa brasileira como dos fundos globais dedicados a mercados emergentes. "Como a liquidez já está reduzida, o cupom cambial acaba sendo pressionado de forma mais forte pela fluxo negativo."

O efeito é intensificado por fatores técnicos. O mercado local vinha bastante "vendido" em dólar, ou seja, as apostas se concentravam na queda da moeda. Mas, com o movimento de fortalecimento do dólar no mundo, a cotação aqui também avançou, tocou os R$ 3,30 - e agora consolidou-se acima de R$ 3,20. Esse movimento de alta levou muitos agentes a zerar essas posições. Esse movimento de saída pressiona tanto a cotação quanto o cupom.

A sazonalidade é apontada como outro elemento que também joga contra o mercado de câmbio local. "Daqui até o fim do ano, deve continuar uma pressão de dólar mais forte porque muitos estrangeiros acabam diminuindo as posições em ativos de emergentes e levam recursos de volta para seus países", diz o profissional. É um período também de remessa de lucros e dividendos, que eleva a saída de dólares no país.

O gerente de tesouraria do Bank of China, Jayro Rezende, observa ainda que o investidor global também tem reagido à mudança no cenário de juros no exterior. A expectativa de juros mais altos lá fora tem levado investidores a exigirem um prêmio de risco mais alto. "O cupom cambial do Brasil ficou parado por um tempo enquanto os juros lá fora estavam subindo. Essa correção, portanto, já era esperada", observa. Mesmo com o ajuste recente, entretanto, ele ainda define o preço do cupom como "neutro". "O nível do cupom aqui, quando comparado ao movimento lá fora, não está alto o suficiente para puxar um grande movimento de arbitragem", acrescenta.

A taxa Libor de um ano em dólar, destaca Rezende, vem subindo com mais intensidade desde meados de setembro. Na época, a métrica de juro internacional estava em cerca de 1,70%. Agora alcançou 1,88%. Por aqui, o movimento do cupom - apesar de ter mais solavancos no caminho - ganhou força a partir do início de outubro.

O pano de fundo do movimento diz respeito, principalmente, à perspectiva de normalização de condições monetárias em economias desenvolvidas. Grandes bancos centrais, a exemplo do Federal Reserve, têm reiterado o plano de reduzir a posição mais expansionista, com alta gradual de juros. E os ativos financeiros se ajustaram, de forma mais direta, nas últimas semanas.

A alta do cupom cambial também é fruto da subida no mercado de juros futuros, denotando o aumento do prêmio exigido por aqui. O contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2021, por exemplo, saiu de 8,8% ao ano no começo de outubro para 9,23% na semana passada. "Com a esticada do dólar e dos juros, é natural a alta do cupom. Esse conjunto indica uma exigência maior de rentabilidade dos estrangeiros num momento bastante delicado interno, por causa da incerteza sobre a reforma da Previdência, e lá fora", diz o operador Cleber Alessie Machado Neto, da corretora H.Commcor.

Na semana passada, os ativos locais foram alvo de venda, principalmente no caso da bolsa, diante da percepção de que o governo poderia ter desistido de retomar o debate sobre a reforma. Desde então, o governo Michel Temer se esforça para mostrar que a aprovação da medida - mesmo numa forma mais enxuta - é possível antes de 2019. Ainda assim, persiste o ceticismo entre os agentes financeiros e cresce a preocupação com a disputa eleitoral no ano que vem.

"O que está me preocupando mais no câmbio é a antecipação da discussão eleitoral, mais do que a perspectiva de fluxo", diz um economista de um grande banco no Brasil. Para o profissional, ainda há recursos para entrar no país, a exemplo do que se viu nos leilões de blocos de petróleo e ofertas iniciais de ações. Mas o risco é que o debate prematuro sobre a eleição traga volatilidade e aversão ao risco que só deveriam começar a ocorrer com mais intensidade a partir do primeiro trimestre de 2018. - Valor Econômico Jornalista: Lucas Hirata Leia mais em portal.newsnet 13/11/2017

13 novembro 2017



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