25 novembro 2017

Uma megafusão em apuros

Os Estados Unidos vão tentar barrar na Justiça a união da AT&T com a Time Warner, um negócio de US$ 85,4 bilhões

A união da operadora de telefonia AT&T com o conglomerado de mídia Time Warner, anunciada no ano passado, mostrava um caminho para poderia ser percorrido pelas empresas do setor. A simbiose de infraestrutura de telecomunicações com conteúdo de alta qualidade seria a receita para enfrentar a saturação do mercado de celulares e a competição com as plataformas de streaming de vídeos e música, como Netflix e Spotify, e com outros serviços de internet, como o aplicativo de mensagens WhatsApp, do Facebook. Na ocasião, o CEO da AT&T, Randal Stephenson, foi enfático em defender o acordo, alegando que o conteúdo Premium sempre ganha. “Isso tem sido verdade na tela grande, na tevê e, agora, nas telas dos smartphones”, afirmou o executivo, em outubro do ano passado, quando os planos de fusão das duas empresas foram anunciados.

Essa trajetória que parecia inexorável para a maioria das operadoras de telefonia do mundo encontrou uma pedra no meio do caminho. E não é uma pedra pequena. Na segunda-feira 20, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ) entrou com uma ação para impedir o negócio de US$ 85,4 bilhões entre a AT&T e a Time Warner, no que pode ser uma das maiores disputas antitrustre das últimas décadas em solo americano. A decisão do órgão levantou uma série de suspeitas de uma possível interferência do presidente Donald Trump, que vive às turras com a rede de televisão de notícias CNN, um dos ativos da Time Warner, que faz duras críticas ao republicano. Um dia depois da decisão do DoJ, Trump não se furtou a comentar o assunto e, ao seu estilo boquirroto, não deixou dúvidas sobre o que pensava. “Não vou me envolver no litígio, mas pessoalmente sempre senti que esse negócio não era bom para o país”, disse Trump.

A decisão do DoJ, de fato, não deixa de ser fora do padrão. Em geral, o órgão não impõe restrições a fusões que combinam dois tipos de negócios diferentes. “A ação do Departamento de Justiça marca uma mudança radical e inexplicável de décadas de jurisprudência antitrustre”, afirmou, em comunicado, David R. McAfee 2º, diretor jurídico da AT&T. A AT&T é a segunda maior operadora de telefonia dos Estados Unidos. A Time Warner, por sua vez, atua no segmento de mídia e entretenimento, com marcas como HBO, produtora das mais aclamadas séries televisivas do momento, como Games of Thrones e Westworld, e o infantil Cartoon Networks, além do estúdio que produz filmes como Batman e Harry Potter. Por outro lado, a união criaria um conglomerado gigante. Juntas, ambas faturam US$ 214,5 bilhões (aproximadamente R$ 690 bilhões). Rivais da AT&T, como o canal de TV paga Starz, e grupos de defesa do consumidor temem que esse gigantismo poderia ser usado para elevar preços aos consumidores e limitar a competição.

Nos bastidores, comenta-se que as motivações para barrar a fusão seriam outras, segundo relatou o jornal americano The Washington Post. Em uma reunião a portas fechadas, no início de novembro, autoridades antitrustre afirmaram a executivos da AT&T que a aquisição seria reprovada se alguns ativos não fossem vendidos. Entre eles, a Turner Broadcasting, que é dona dos canais CNN, TNT e Cartoon Network. O CEO da AT&T, Randal Stephenson, deixou claro que não tem nenhuma intenção de vender qualquer ativo e declarou que vai brigar na Justiça pela união. Sua luta parece fazer sentido. “A ideia da fusão é criar uma gigante capaz de competir com empresas que estão operando em uma plataforma integrada, como o Google”, afirma Daniel Domeneghetti, CEO da consultoria E-Consulting.

A não aprovação da megafusão AT&T Time Warner seria também um banho de água fria nos planos das principais operadoras globais. Essas empresas lutam para não ser apenas fornecedores de infraestrutura, enquanto provedores de conteúdo lucram com suas redes.

No Brasil, essa tendência já chegou. Por aqui, a Vivo conta com diversas parcerias de conteúdo e fornece mais de 80 serviços digitais aos seus clientes. A América Móvil, dona da Claro, NET e Embratel, oferece os serviços Claro Música e Vídeo, que concorrem com Spotify e Netflix, respectivamente. A decisão americana de barrar a fusão, se confirmada, pode ser um pedra no caminho na qual todas as operadoras globais podem tropeçar. Leia mais em istodinheiro 24/11/2017

25 novembro 2017



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