29 novembro 2017

Sem Heineken, Coca-Cola deve ter mais fusões no Brasil

O fim do contrato de distribuição da Heineken com a Coca-Cola no Brasil deve acelerar a consolidação entre as engarrafadoras, abrindo espaço, inclusive, para uma fusão entre a Coca-Cola Femsa (KOF) e a Embotelladora Andina, avalia o Credit Suisse.

“As engarrafadoras do sistema Coca-Cola não tem como compensar o volume de cerveja que vão perder quando a Heineken deixar o sistema”, escreveu a equipe liderada por Antonio Gonzalez, que fica baseada no México. “As pequenas cervejarias não são suficientes para atender a capacidade ociosa do sistema e levaria tempo para que outros players globais construam capacidade no Brasil”.

O encerramento da parceria – anunciado após a Heineken comprar a Brasil Kirin, dona da Schin – é um golpe duro para as engarrafadoras brasileiras, que já vem sofrendo com ociosidade por conta da redução abrupta no consumo de refrigerantes em meio à crise.

Segundo o banco, o contrato de distribuição da Heineken representa de 16% a 20% das receitas da KOF no Brasil desde 2014; no caso da Andina, a fatia foi de 12% a 15%. Em termos de EBITDA, o impacto no indicador pode chegar a 9%.

“Estamos preocupados também que a falta de um portfólio combinado de cervejas e refrigerantes no Brasil coloque as engarrafadoras do sistema Coca-Cola em desvantagem em relação a outros players de distribuição, como a Ambev”, ressaltam os analistas.

A Heineken pretendia migrar a distribuição para a Kirin no fim de outubro, mas foi confrontada por uma briga judicial: as engarrafadoras dizem que a cervejaria teria que dar um aviso prévio de três anos, o que não ocorreu. A disputa foi levada à arbitragem, e o caso só deve ser julgado depois do Carnaval, segundo informações do Valor Econômico. Enquanto isso, as engarrafadoras da Coca seguem distribuindo os rótulos da marca.

Numa longa e detalhada análise do setor, o time do Credit Suisse aponta que o copo das engarrafadoras já estava meio vazio: mesmo com a Heineken no portfólio, a capacidade ociosa tanto da KOF quanto da Andina supera os 40%. Em conversas com outras engarrafadoras de capital fechado, o banco constatou que a situação é ainda pior.

Diante disso, a avaliação é que o mercado deve passar por outro ciclo de consolidação para captura de sinergias – e a KOF, o player com mais escala, é o candidato mais óbvio para liderá-lo. A empresa é a maior engarrafadora da Coca no mundo e responde por 49% da produção no Brasil.

O banco trabalha com dois cenários. No primeiro, a KOF compraria engarrafadoras privadas e de menor porte próximas a sua região de atuação, como a Bandeirantes, que atua em Goiás, a Brasal, do Distrito Federal, e a Coca-Cola Uberlândia, do Triângulo Mineiro. No ano passado, a empresa já arrematou a Vonpar, que atuava no Paraná e no Rio Grande do Sul.

O segundo cenário, mais radical, envolve uma fusão com a Andina no Brasil – uma operação há anos aventada pelo mercado, por conta da complementariedade geográfica. A KOF está presente em todos os Estados da Região Sul, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, enquanto a Andina tem o Espírito Santo. As companhias dividem os dois principais mercados do Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro.

Fora do Brasil, a Andina atua no Chile, Paraguai e Argentina – esse último país também contemplado pela KOF, que é forte no México, na América Central, Colômbia, México e nas Filipinas.

As sinergias de uma fusão chegariam a US$ 150 milhões, equivalentes a 5% das vendas globais da KOF, calcula o CS. O banco lembra que a Femsa, controladora da KOF, está capitalizada: acaba de vender em bolsa uma fatia de 5% da Heineken por US$ 2,8 bilhões (os mexicanos tem uma fatia de 15% na Heineken, que, por sua vez, tem 20% da Femsa).

O mercado já paga um prêmio pela ação da Andina – controlada por cinco famílias chilenas – por sua atratividade como possível alvo de uma aquisição.

“Ainda que a Andina pareça o melhor cenário para a KOF se fundir, destacamos que, ao contrário das engarrafadoras que são 100% expostas ao Brasil, a Andina pode ter paciência, diversificação geográfica (e mais recursos) para esperar um pouco antes de ser forçada à consolidação”, diz Gonzalez.  Natalia Viri Leia mais em braziljournal 28/11/2017


29 novembro 2017



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