Depois de entrar no consórcio do Galeão e anunciar a aliança com a Petrobras para construir uma refinaria no Comperj, os chineses pretendem estender seus negócios no estado. O projeto de privatização da Cedae, a venda da Light, a injeção de capital na Oi e o término da construção da usina nuclear de Angra 3 estão na mira. Se forem concretizadas, essas transações podem resultar em pelo menos R$ 32 bilhões em investimentos, revelam BRUNO ROSA e RAMONA
ORDOÑEZ. O movimento é reflexo de um processo de internacionalização da China e da recessão que deixou os ativos mais baratos no Brasil e, em especial, no Rio. Os principais ativos no Rio de Janeiro hoje têm um personagem em comum: a China. O projeto de privatização da Cedae, o processo de recuperação judicial da Oi, a venda da Light e o término da construção da usina nuclear de Angra 3 contam com chineses na mesa de negociações, revelam fontes ouvidas pelo GLOBO. As estatais do país asiático já mostraram seu poder de fogo recentemente, com a compra de parte do aeroporto internacional do Galeão e a aliança estratégica com a Petrobras, que pode resultar na construção de uma refinaria no Comperj, em Itaboraí. Se concretizadas, essas transações podem significar pelo menos R$ 32 bilhões, entre aquisições acionárias e investimentos.
O movimento é reflexo de um processo de internacionalização das estatais chinesas mundo afora. Além disso, destacam os especialistas, os ativos do Rio estão ligados à infraestrutura, como saneamento, logística, telecomunicações e energia, os favoritos dos asiáticos por serem concessões e terem uma receita fixa, o que reduz o risco. Segundo o presidente de uma companhia brasileira, o governo chinês, ao injetar dinheiro através de um banco estatal, rentabiliza o investimento, com cláusulas que atrelam a contratação de fornecedores chineses.
— A intenção é fazer alianças baseadas em ganha-ganha, mas a China não é um Papai Noel. Há um interesse elevado pelos ativos do Rio, mas muitos deles ainda têm problemas a serem resolvidos. Vamos agora organizar um road
show na China para mostrar as oportunidades em saneamento e outros setores — destacou Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China.
OI FARÁ ALIANÇA COM TELE CHINESA PARA 5G
Os asiáticos já estão de olho na Cedae, concessionária de água e esgoto do estado. De acordo com uma fonte, os chineses se reuniram com o governo estadual para buscar informações sobre a companhia e entender as perspectivas.
— É um consórcio chinês formado por um banco de fomento, uma empresa de construção e outra de equipamentos. Essa é a forma como eles se montaram para esse projeto da Cedae. Eles já avisaram para serem informados de quando será lançado o edital — disse uma pessoa próxima a negociação.
O interesse também só aumenta na Oi, que tem o China Development Bank (CDB) como um dos principais credores e a Huawei como uma de suas maiores fornecedoras. Os principais sócios da Oi já iniciaram conversas com teles chinesas para fazer uma aliança industrial, como a China Mobile. O objetivo é desenvolver iniciativas para a futura implantação da rede 5G. Em outra frente, os bancos Barclays e Modal têm feito a ponte entre executivos da Oi e estatais chinesas, como o CDB, a ZTE e o fundo de investimento de Hong Kong TGP.
— O projeto da ZTE com a TGP prevê a compra de equipamentos financiados em oito anos. A ideia é que esses investidores da China entrem no processo de capitalização que a Oi pretende fazer de R$ 8 bilhões. Eles poderiam entrar com uma boa parte desse valor, mas isso ainda não está fechado, pois vai depender se a Oi vai conseguir aprovar seu plano de recuperação judicial — disse uma fonte do setor.
Segundo Renato Kloss, sócio do setor regulatório do Siqueira Castro Advogados, o foco dos chineses é o longo prazo. O advogado diz ainda que a recessão econômica deixou os ativos em geral mais baratos no Brasil e em especial no Rio, que enfrenta ainda uma crise fiscal:
— A Cedae é o principal ativo do Rio e já passou por um saneamento financeiro e melhora em sua governança. Além disso, é uma empresa importante do ponto de vista de construção civil, pois há um pacote expressivo de obras a ser feito. A empresa tem um mercado cativo.
Na energia elétrica, os chineses da State Power e da China Three Gorges (CTG) participam da negociação envolvendo a Light, que é controlada pela mineira Cemig. Segundo uma fonte, o negócio está avaliado em R$ 2,2 bilhões. A Cemig ainda não decidiu como será a venda da Light, se inteira ou em blocos, separando os ativos de geração e distribuição. Isto porque, segundo esse executivo, as empresas chinesas estariam mais interessadas na geração.
— Mesmo que a distribuição de energia não seja o foco dessas empresas, os chineses buscam ativos com perspectivas de expansão futura do negócio — destacou uma fonte do setor.
Entre os aeroportos, a chinesa HNA está investindo R$ 4 bilhões no Galeão para indenizar a Odebrecht e assumir seu lugar no consórcio que administra o aeroporto do Rio de Janeiro. Com a Petrobras, a CNPC assinou um memorando de entendimentos para avaliar investimento em conjunto. Segundo fontes, um desses projetos é a construção de uma refinaria no Comperj, que deve custar entre US$ 3,5 bilhões e US$ 4 bilhões (cerca de R$ 12,8 bilhões).
— Após a atração de investidores estrangeiros para a China em meados dos anos 1970 e a busca de matérias-primas mundo afora, estamos hoje em uma terceira onda, com a internacionalização das estatais chinesas. Essas aquisições de empresas estão dentro do planejamento do governo chinês, e é ancorado pelo atual plano quinquenal de Pequim, que prevê taxas de crescimento de pelo menos 6,5% ao ano — disse Hsieh Yuan, diretor da consultoria Mazars Cabrera.
META É VENDER REATOR NUCLEAR
A energia nuclear também está na mira. A China Nacional Nuclear Corporation (CNNC) já manifestou interesse em participar da conclusão da polêmica Angra 3 (cujas obras foram iniciadas há 33 anos). Para terminar a usina, que está cerca de 70% pronta, mas com as obras paradas desde 2015, por conta da Operação LavaJato, são necessários investimentos de cerca de R$ 13 bilhões. Os chineses estão concorrendo com o consórcio franco-japonês Areva/Mitsubish e a russa Rosatom. Mas a China também está de olho no fornecimento de reatores nucleares para as usinas brasileiras no futuro.
— O objetivo é que esse parceiro entre com todos os recursos financeiros para concluir a obra, pois a Eletronuclear não tem dinheiro, independentemente da fatia que esse novo sócio terá na usina nuclear. Os chineses (CNNC) tem menos experiência nesse tipo de negócio de parceria em usinas fora da China, mas tem muito dinheiro. Sem parceria não tem a menor chance de a usina ser concluída. Já se gastou muito. Só nesta última fase foram R$ 10 bilhões, dos quais R$ 8 bilhões foram financiados pelo BNDES — disse uma fonte.
De acordo com esse executivo próximo à Eletronuclear, a expectativa é que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) tome uma decisão a respeito da continuidade das obras em setembro, quando seriam então iniciadas as negociações em busca de um sócio. Procurados, os acionistas das empresas não quiseram se manifestar sobre as negociações. - O Globo Leia mais em portal.newsnet 17/07/2017
17 julho 2017
Negócios da China no Rio
segunda-feira, julho 17, 2017
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Ruy Moura
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