12 maio 2017

Itaú paga R$ 6,3 bi por 49,9% da XP

Depois de dois meses de negociações travadas discretamente, o Itaú Unibanco fechou ontem à noite a compra de 49,9% do capital total (sendo 30,1% em ações ordinárias) da XP Investimentos por R$ 6,3 bilhões, o que inclui R$ 600 milhões em recursos que o banco injetará na empresa. Com a transação, o maior banco privado do país reserva seu espaço no processo de desbancarização em curso.

O acordo assinado permite que Guilherme Benchimol e seus sócios fiquem no comando da XP até 2033, se assim desejarem. A partir disso, caberá ao Itaú decidir se quer exercer o direito de comprar o controle do "supermercado financeiro". Caso os atuais sócios da XP decidam sair do negócio antes disso, eles podem vender o controle já em 2024.


Até lá, no entanto, o Itaú se compromete a aumentar sua participação no capital total para 64,2% em 2020 e para 74,9% em 2022, com 49,9% das ações ordinárias. É isso que permitirá a saída total do fundo de private equity, General Atlantic e da gestora Dynamo. Inicialmente, eles venderão 60% da participação que detêm. Juntos eles possuem 49,5%.

Durante as longas noites de negociações nesta semana, os sócios da XP buscaram resguardar a liberdade de gestão do negócio, inclusive para concorrer com o próprio Itaú. Em comunicado, a XP afirmou que o acordo prevê "a independência operacional e livre competição entre as empresas; a manutenção da plataforma aberta e taxa zero; a preservação dos acordos comerciais com atuais parceiros e a valorização da profissão de agente autônomo de investimentos".

"Esta associação só foi possível porque o Itaú Unibanco entendeu nossos princípios e valores, concordando com condições fundamentais para o acordo", disse Guilherme Benchimol, presidente do Grupo XP, em um comunicado.

Por outro lado, de acordo com uma fonte próxima à negociação, o Itaú terá na XP o controle de risco e de operações. Com isso, o banco e a corretora buscaram assegurar a independência da gestão, ao mesmo tempo em que trazia solidez do maior banco privado do país.

Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco, garantiu a continuidade do modelo de negócio da XP com total independência de gestão, de formar a contribuir para o crescimento da empresa e geração de valor ao acionista. "A XP vem fazendo um trabalho inovador no mercado de investimentos", destacou, em comunicado.

O Itaú começará com dois membros no conselho de administração, de um total de sete, e chegará a três indicados no quarto ano, quando os fundos das gestoras Dynamo e General Atlantic sairão completamente.

Na operação, o Itaú concordou em avaliar a XP em R$ 12 bilhões, que era justamente o piso de valor pretendido pela empresa na sua oferta inicial de ações. Esse valor equivale a um múltiplo de 20 vezes o lucro projetado para 2018.

A XP pediu anteontem seu registro de oferta, mas ela será cancelada caso o acordo saia. Os R$ 12 bilhões representam o valor da XP antes do aumento de capital que o Itaú fará como parte de sua entrada.

De acordo com uma fonte, o espírito do acordo é de uma associação de longo prazo, que preserva a capacidade dos sócios da XP de manter a liderança e a independência do modelo de venda de produtos financeiros, mas agregando a solidez e credibilidade do Itaú.

Embora seja um acordo de longo prazo, ele contém cláusulas de saída. Caso decidam vender o controle ao Itaú no futuro, os controladores da XP terão direito a um prêmio.

Ao se tornar sócio da XP Investimentos, o Itaú Unibanco vai automaticamente se tornar um dos grandes beneficiários do processo de "desbancarização" na área de investimentos pessoais. Com a aquisição, também se defende de uma corretora que podia capturar seus clientes.

Fundada em 2001 em Porto Alegre, a corretora XP ganhou mercado nos últimos anos como shopping de investimentos alternativo aos grandes bancos, seguindo o modelo das gigantes americanas Charles Schwab e Fidelity.

No fim do ano passado, a XP tinha 276 mil clientes e cerca de R$ 65 bilhões em ativos sob custódia. Já para este ano, o supermercado financeiro prevê quase triplicar a base de investidores, alcançar lucro de R$ 480 milhões e R$ 130 bilhões em ativos sob custódia.

O Itaú Unibanco se tornará um dos grandes beneficiários do processo de "desbancarização" com uma eventual compra de participação na XP Investimentos. Ao mesmo tempo, ainda se defende do avanço de um competidor com grande potencial de estrago, de acordo com analistas.

A lógica é que, com a XP, o Itaú passará a abocanhar indiretamente um pedaço dos ativos que estão sob custódia de seus concorrentes, sejam eles bancos ou outras corretoras independentes.

Incomodado com o avanço da XP, no começo deste ano o Itaú passou a oferecer a seus clientes de alta renda a possibilidade de investir em fundos e títulos de outras instituições financeiras. A alternativa, porém, acabou não se mostrando a melhor estratégia para acompanhar o ritmo de crescimento da XP.

A XP Investimentos atua em 130 cidades brasileiras, além de ter escritórios em Nova Iorque, Miami, Londres e Genebra. A empresa conta com 850 colaboradores, 2 mil agentes autônomos, 410 mil clientes e possui R$ 85 bilhões de ativos sob custódia e R$ 12 bilhões de ativos administrados.

O negócio está sujeito à aprovação dos órgãos reguladores.- Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 12/05/2017

12 maio 2017



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