02 maio 2017

Depois de três anos de queda, investimento ensaia melhora

Depois de acumular queda de 25,9% nos últimos três anos, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas, equipamentos, construção civil e pesquisa) pode ter pequena alta em 2017, ainda que muito tímida, afirmam analistas. Para eles, não dá para esperar forte recuperação de investimentos em um cenário de incerteza ainda elevada e capacidade ociosa muito alta, mas a recuperação da confiança, a queda dos juros e a expectativa de melhora da demanda mais à frente devem destravar projetos engavetados ao longo dos últimos anos.

A taxa de investimento da economia brasileira, que caiu de 20,9% em 2013 para 16,4% no ano passado, significa que, em alguns casos, as empresas não estão nem repondo o desgaste sofrido pelas máquinas no período - a depreciação do capital, no jargão dos especialistas -, o que poderia incentivá-las a voltar a investir.

O Bradesco estima que, depois de três anos consecutivos de queda, o investimento deve subir 2,5% em 2017. Para Igor Velecico, economista do banco, o ciclo de queda da taxa básica de juros, iniciado em outubro do ano passado, com corte de um ponto percentual na reunião de abril, deve dar um alívio no caixa das empresas, já que a maior parte das dívidas corporativas é indexada ao CDI. Além disso, afirma, o fator confiança também deve ajudar nessa recuperação, principalmente se confirmada a expectativa de crescimento da economia no primeiro trimestre e aceleração ao longo do ano.

Para Velecico, com esse "respiro" as empresas devem voltar pelo menos a realizar investimentos necessários para manter o estoque de capital constante. "Como as empresas tiveram problema de endividamento, tiveram que travar o investimento nas quatro rodas para fazer caixa. Quando a incerteza e a taxas de juros diminuem, elas voltam a respirar, podem começar a pensar em dois, três anos à frente", diz Velecico.

O economista do Bradesco vê alguns indícios de que a economia está nesse ponto de virada. O indicador de intenção de investimentos calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), por exemplo, subiu de 82,5 pontos no segundo trimestre de 2016 para 100 pontos no primeiro trimestre de 2017, considerado o nível "neutro".

Ainda que bastante inferior ao nível observado em anos anteriores, o percentual de empresas que afirmou pretender aumentar investimentos subiu cinco pontos ao longo dos últimos seis meses, para 19,9%, enquanto caiu o percentual daquelas que dizem que vão cortar aportes.

Outro sinal de certa estabilização do investimento é o Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Em fevereiro, o índice subiu 3,4% em relação ao mês anterior, feitos os ajustes sazonais, recuperando parte da queda de 5,3% observada em janeiro. No trimestre encerrado em fevereiro, a alta foi de 0,6%.

Para Leonardo Carvalho, economista do instituto, em momentos de transição do ciclo econômico há certa "flutuação" dos indicadores, com altas e baixas, ainda que a tendência seja de estabilização, o que tem acontecido também com outras séries de dados, como produção industrial. "Saímos de trajetória de queda para estabilidade, mas o desempenho atual ainda não é de crescimento mais efetivo", diz. O índice calculado pelo Ipea estima a evolução mensal dos investimentos em máquinas e equipamentos e na construção civil, com base no consumo aparente desses bens.

O Ipea estima alta de 0,1% do investimento em 2017. Para o economista, a retomada da formação de capital fixo deve ser muito gradual porque alguns fatores ainda limitam seu crescimento, como nível de utilização da capacidade muito baixo, estoque de caminhões ainda elevado e dificuldades no segmento de construção civil.

De qualquer forma, afirma, a queda dos juros e o andamento das reformas, que devem melhorar as expectativas para a demanda no médio prazo, tendem a levar os investimentos a se recuperar, especialmente em 2018, quando o Ipea espera crescimento de 8,5% desse componente do PIB, diz Carvalho. "A crise foi tão severa que há potencial para uma recuperação cíclica expressiva."

Olhando para o histórico das crises e recuperações da economia brasileira, o investimento deve ser o componente do PIB, sob a ótica da demanda, a puxar a recuperação, avalia Tatiana Pinheiro, economista do Santander, que projeta aumento de 3,5% da formação de capital fixo neste ano e de 6% no ano que vem. "O consenso é que a recuperação, mesmo que muito fraca, virá dos investimentos e do excelente desempenho esperado para a agricultura neste ano."

Segundo Tatiana, o aumento da ociosidade dos fatores de produção também aconteceu em outras crises. "Estimamos uma alta de 3,5% do investimento, depois de contração de 4,2% em 2014, 13,9% em 2015 e 10,2% em 2016, então não é o suficiente nem para começar a repor essa destruição. Depois de três anos, a necessidade de recomposição do capital é elevada", diz. O Santander estima crescimento de 0,7% em 2017 e de 3% em 2018.

Para Carvalho, do Ipea, o segmento de máquinas e equipamentos deve se recuperar primeiro justamente por causa do forte ciclo de destruição de capital ao longo da recessão. Esse "setor", porém, representa apenas 30% da formação de capital, contra 55,5% do segmento de construção e 14,4% de outras áreas, como a de pesquisa, segundo dados das Contas Nacionais de 2016.Valor Econômico - Leia mais em abinee 02/05/2017

02 maio 2017



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