01 setembro 2014

Investidores resgatam usina goiana de etanol

O estrago deixado pelo revés financeiro que se abateu sobre os canaviais em 2009 tem obrigado as usinas sucroalcooleiras a buscarem diferentes alternativas no mercado para reverter a crise que atingiu boa parte do segmento. Em Jandaia, no Estado de Goiás, a Destilaria Nova União S.A. (Denusa) recorreu ao apoio de dois investidores — GL Consultoria em Engenharia e RTB Holding Energia. Somado à ajuda de incentivos fiscais do governo local e do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), esse apoio viabilizou a injeção de R$ 220 milhões no empreendimento.

Na prática, o projeto idealizado pelos novos parceiros se baseia na criação da sociedade de propósito específico (SPE) Nova Geração Bioenergia, que impôs aos atuais donos a perda do controle sobre a gestão do negócio. Em contrapartida, a solução encontrada pela destilaria de etanol fundada em 1980 envolveu a reestruturação do negócio, com o aumento da moagem de cana de 1,2 milhão para 1,7 milhão de toneladas por safra, além de um ganho adicional de receita a partir da cogeração de energia em uma unidade de 43 megawatts (MW).

No mercado, poucas usinas puderam contar com apoio de seus grupos de controle para eventuais repasses de recursos no enfrentamento da crise de cinco anos atrás. Muitas tiveram que apelar para a venda de ativos ou recorrer a uma captação de recursos com uma decorrente diluição da participação societária.

Abrir mão da gestão do negócio foi o caminho encontrado pelos proprietários da antiga destilaria goiana — em processo de recuperação judicial — para resgatar a saúde financeira do negócio, garantir a retomada dos investimentos na lavoura e sanar as dívidas.

O atual superintendente da Denusa, Marcelo Barbosa, afirmou que a recuperação foi homologada no início de 2012. A negociação da dívida previu seu pagamento em um prazo de nove anos, com carência de três anos. O plano de quitação terminará em 2023.

O contrato firmado entre as partes, na sociedade recém-constituída, tem duração de 20 anos. A maior parte do investimento será realizada dentro do prazo de um ano e meio, até que seja concluída a instalação do novo projeto. O aumento da produção se dará em 2016, quando a geração de energia também atingirá o pico esperado.

Os atuais donos permanecerão com uma fatia de 25% da sociedade. A maior participação ficará com a GL Consultoria em Engenharia. Outra parcela idêntica à dos proprietários ficará com a RTB Holding Energia e Participações. A receita será repartida nessa mesma proporção. Essa estrutura de remuneração permanecerá até 2035, quando o empreendimento retorna, integralmente, às mãos dos empreendedores originais.

O sócio-diretor da GL Consultoria em Engenharia, Gerfson Giovanini, afirmou ao Valor que a empresa, nos últimos dois anos, tem se especializado na estruturação técnica e financeira de projetos. Nem todos os recursos virão dos próprios investidores, que vão desembolsar R$ 40 milhões. O Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) colocará a maior parte — R$ 180 milhões.

No caso da Nova Geração Bioenergia, Giovanini disse que foi realizado um trabalho típico de consultoria, com a avaliação de todos os potenciais e os riscos do empreendimento. Essa análise, segundo ele, considerou as perspectivas do mercado de etanol, açúcar e energia elétrica, as possibilidades de ganhos de produtividade — por exemplo, com o aperfeiçoamento do sistema de irrigação — e a observação da estrutura tributária, ao considerar os incentivos fiscais oferecidos pelo Estado de Goiás.

Giovanini considera que o setor ainda não deu os sinais de melhora que permitissem chegar às expectativas mais positivas de investimento. “Vimos que o preço internacional do açúcar na bolsa de Nova York ainda está ruim. Ainda é mais vantajoso fabricar etanol, por mais complicado que seja para competir [no mercado nacional]”. Até agora, não houve interesse em adaptar a planta à produção de açúcar.

A possibilidade de ganho com a venda do excedente de energia elétrica é considerada importante para a sustentabilidade do plano de negócio da Nova Geração Bioenergia. Porém, os investidores decidiram não apostar todas as fichas na permanência da alta de preços no mercado de curto prazo (spot), que tem se mantido aquecido diante da falta de chuvas para recompor o nível dos reservatórios das Hidrelétricas. “Temos consciência que não dá para brincar no mercado spot, que, às vezes, funciona como uma bolsa [de valores]. Vamos focar em contratos com preços menores, que garantem o retorno que esperamos”, disse.

O gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Zilmar José de Souza, disse ao Valor que a produção de energia elétrica com a queima de bagaço representou de 2% a 3% da receita do setor em 2013. Nesse período, 389 usinas usaram a cogeração para garantir sua autossuficiência. Porém, outras 170 usinas estruturaram a geração para a venda de excedente ao sistema elétrico. “Quando pegamos esse segundo conjunto de usinas, conseguimos perceber que a participação da cogeração na receita subiu para o patamar de até 12%”.

A estratégia do projeto goiano é usar a cogeração, prioritariamente, para garantir a autossuficiência de suprimento de energia. Com isso, a lavoura será toda irrigada, a fim de minimizar o risco de quebra de safra atrelado ao Clima. Todo processo industrial da usina deverá consumir 23 MW. A sobra de 20 MW será despachada na rede do sistema elétrico para comercialização. Atualmente, a usina possui uma central geradora de 6,2 MW, movida a óleo diesel, que atende — com restrições e custo elevado — o mecanismo de irrigação.

O principal o executivo da RTB Holding Energia, Sérgio Souza, afirmou que podem ser implantados mais quatros projetos semelhantes à Nova Geração Bioenergia se for confirmada a viabilidade econômico-financeira do negócio. Os novos projetos, também em sociedade com GL Consultoria, poderão sair do papel até 2017.

Souza ressaltou a importância do programa de incentivo fiscal à geração sustentável concedido pelo estado por meio da isenção de ICMS. Segundo a Secretaria de Indústria e Comércio de Goiás, o benefício à planta da Nova Geração Bioenergia valerá até 2040. “A diversificação da produção do grupo Denusa em Goiás cumpre dois objetivos estratégicos para o Estado. Ao mesmo tempo em que contribui para o avanço da economia local, permite o cumprimento de uma política pública de incentivo à produção de Energia Limpa”, afirmou o secretário William O'Dwyer. Fonte: Valor Econômico | Leia mais em revista canavieiros 01/09/2014

01 setembro 2014



0 comentários: