20 agosto 2012

Gosto pela especialização

Profissional tarimbado da área de private equity, Nelson Rozental dedica-se à BRZ Investimentos desde 2006. Naquele ano, a gestora passou a ser uma subsidiária independente da GP Investimentos, empresa da qual ele se tornou sócio em 1998. Além de presidente do conselho de administração da BRZ, Rozental é responsável pela área de longo prazo da gestora, dedicada à estruturação de fundos de private equity setoriais. Despertam o interesse da BRZ os segmentos de logística, infraestrutura e agronegócio. Os recursos são captados hoje, exclusivamente, no mercado local. Mas, em breve, isso deve mudar. "Nossa ideia é conversar com investidores estrangeiros a partir do segundo semestre", conta Rozental.

 CAPITAL ABERTO — Por que a decisão de trabalhar com fundos setoriais? 

NELSON ROZENTAL — Acreditamos que essa estratégia agrega mais valor, além de ser uma demanda do investidor local. Para o estrangeiro, um fundo dedicado ao Brasil já é um foco, mas, para o local, você precisa criar algo mais específico. Também não é bom ter muita gente fazendo a mesma coisa, para não bater cabeça. Considerando isso, a BRZ lançou, em 2006, um primeiro fundo de logística, que foi uma oportunidade que nós enxergamos por entender de ALL, Globo Cabo, Telemar. No início, o foco era em companhias do setor ferroviário, mas, depois, passamos a olhar também o segmento de portos. Investimos nos portos de Itapoá, São Francisco do Sul e no Terminal de Granéis de Santa Catarina, um porto greenfield. Nós colocamos os três debaixo de uma holding, a LOGZ. Também vimos a oportunidade de captar outro fundo localmente, o Empreendedor Brasil, para encorajar o empreendedorismo. A ideia é investir em empresas de médio porte, com faturamento líquido de R$ 100 milhões a 150 milhões.

 A BRZ também faz a gestão de um fundo agrícola. Qual a sua avaliação desse setor? 
Como grande parte da carga do segmento de logística é agrícola, acabamos entrando nesse segmento. O Banco do Brasil abriu, há alguns anos, uma seleção para gestão do Fundo Brasil Agronegócios, e, dentre as mais de 30 casas de private equity que participaram, nós ganhamos. É um fundo de grande porte, captado no Brasil, com foco em agricultura. Nele podemos olhar o setor de modo amplo, desde fertilizante e plantação até logística e comercialização de produto agrícola. O Banco do Brasil atua como gestor financeiro do fundo. Depois desse fundo, veio a possibilidade de captar um outro com foco em sustentabilidade. A ideia é investir em projetos de crédito de carbono, manejo florestal, plantação de florestas em regiões degradadas, biomassa, mudança de modal. Ao atuar nesses setores, expandimos o nosso grau de visão, mas sempre trazendo conhecimento adicional ao que a já fazemos. O fundo de sustentabilidade captouR$ 420 milhões, e 30% a 40% desse valor já foi investido. "O estrangeiro está ganhando confiança no Brasil e, hoje, já aceita falar em greenfield, coisa que antes não aceitava"

E como tem sido a experiência da BRZ com o segmento de sustentabilidade?
 Esse é um investimento que você tem que estudar bastante, porque alguns nichos dentro da área de sustentabilidade não têm uma equação de risco e retorno adequada. Em alguns, essa equação fecha, mas o ativo está com um preço muito elevado. Então, às vezes, você tem de partir para o investimento em um projeto greenfield.

 Em quais nichos a equação não fecha? 
Energia eólica é um deles. Em projetos desse tipo você tem um risco diferente daquele da hidrelétrica, porque só recebe se entregar a energia. Na hidrelétrica, mesmo que falte água, você tem seu fluxo de caixa, já que o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) tem um sistema de compensação. Em projetos de energia eólica, é preciso ter um retorno com folga, para quando faltar vento. E nós não vemos isso. A rentabilidade está muito justa. Biomassa também estava com um preço elevado, mas, agora que saiu um pouco de moda, os valores tendem a ajustar para o mundo real. Em logística aconteceu isso. Investimos bem no comecinho; depois, no período pré-2008, tudo ficou muito caro e paramos de investir. Aí, no meio da crise, acabamos de investir o dinheiro todo. Em biomassa é a mesma coisa. Está muito caro. Nessas horas, você tem de esperar o momento certo e acalmar o cotista, porque às vezes ele tem ansiedade de investir.

 Tem crescido a participação de private equity no setor de óleo e gás. Esse segmento não interessa à BRZ? 
Não temos nenhuma vantagem comparativa nesse setor. Além disso, os projetos estão sendo muito disputados. O setor está na moda, como esteve lá atrás o setor de álcool. Então, vamos deixar passar essa primeira onda.

 Por que você julga não ter vantagem comparativa? 
Eu não entendo nada de óleo e gás. Teria que contratar consultores externos. O setor depende muito de uma demanda final da Petrobras, e existe um risco grande de concentração num único cliente. No futuro, acredito que vamos ter outros players no mercado.

 Em sustentabilidade vocês também não tiveram de montar equipe? 
Sim, mas já entendíamos de agricultura e logística. Se você pensa em manejo florestal, crescimento de floresta em área degradada, mudança de modal, há uma sinergia. É diferente de quando você tem que montar um time totalmente separado para estudar um determinado ativo. Além disso, o setor tem que ter uma vantagem, uma diferença. No setor de óleo e gás, há muita concorrência de capital.

 A BRZ acha que os ativos estão caros? 
Agricultura não está caro, e em logística há muita oportunidade. Eu não estou falando do porto pronto, numa área como Santos, em que está todo mundo dando cabeçada. Eu estou falando de um porto por fazer ou em expansão, em que você tem que tirar a licença, fazer a obra, resolver problemas de acesso, comprar equipamentos. Nós gostamos de coisas que dão muito trabalho, que são complexas. Como ficou um pipeline grande não atendido pelo primeiro fundo de logística, montamos o Brasil Portos e Ativos Logísticos FIP. Fechamos a primeira rodada de captação em R$ 570 milhões, e nosso target são R$ 900 milhões.

 Hoje, os investidores dos fundos da BRZ são todos nacionais. Vocês não pensam em fazer uma captação externa? 
Sim, seria interessante fazer uma captação externa para complementar o funding da captação local. O estrangeiro está ganhando confiança no Brasil e, hoje, já aceita falar em greenfield, coisa que antes não aceitava. Mas ainda há alguns questionamentos. Muitas vezes eles querem investir direto na empresa, mas nós fazemos isso por meio de fundos. Não queremos mudar para atender o externo; queremos achar o externo que se interesse pelo que já fazemos.

 Os investidores estrangeiros não apoiam a instalação de um comitê de investimento com participação do cotista, mas essa é uma exigência do investidor local. Qual sua opinião sobre a constituição desse órgão? 
Ele tem vantagens e desvantagens. Ao mesmo tempo em que toma tempo e pode tornar as discussões mais lentas, o comitê reúne os cotistas, ajuda no pipeline e possibilita a troca de ideias. Dado que o comitê de investimento é uma realidade no nosso mercado, eu trabalho com ele. Mas, no futuro, acho que alguns gestores vão receber um mandato que lhes permita tomar as decisões de investimento, desde que obedecidas determinadas regras. Nesse formato, o comitê de investimento evoluiria para um conselho de enquadramento, no qual o investidor olharia para o projeto e verificaria apenas se ele se enquadra ou não no mandato que deu ao gestor. Dessa forma, é fácil ter um estrangeiro participando, porque ele só olha o mandato. O que ele não quer é delegar para pessoas diferentes do gestor a decisão de investimento. "Em projetos de energia eólica, é preciso ter um retorno com folga. E nós não vemos isso. A rentabilidade está muito justa"

E quem seriam os gestores elegíveis a esse mandato? 
Gestores de grande porte, que não possam fazer aventura por terem um relacionamento forte com os investidores, e que já completaram ciclos de captação, investimento. Pouquíssimos completaram um ciclo inteiro.

Mas o investidor nacional aceitaria esse conselho de enquadramento? 
Alguns sim, outros talvez não. Acho que esse modelo se aproxima mais do padrão internacional. O conselho de enquadramento não entraria em discussão sobre preço, momento da aquisição ou desinvestimento. Ele apenas verificaria se o investimento se enquadra no mandato do gestor. O conselho de enquadramento é, portanto, uma forma de agilizar as discussões. O estrangeiro tem uma restrição de participar do comitê de investimento, pois, nesse caso, ele se torna corresponsável pela decisão. O fundo de pensão local quer participar, porque, fazendo parte do comitê ou não, ele responde pelas decisões perante a Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar). Para o estrangeiro, não participar é melhor para a proteção dele.

 Vocês pretendem fazer uma captação externa ainda este ano? 
Nossa ideia é conversar com investidores estrangeiros a partir do segundo semestre. Mas, agora, meu foco são os fundos que temos aqui dentro, cuja captação é voltada para o investidor local. Só pensamos em lançar outros fundos no ano que vem.

 A GP não se incomoda com a ideia de vocês captarem no exterior, uma vez que esse é o foco deles? 
Caso haja alguma sobreposição, temos que discuti-la com a GP. Se isso ocorrer, a gente se organiza. Embora a GP controle a BRZ, as nossas decisões de investimento acontecem num ambiente interno, em que a GP não participa. Para se ter uma ideia, ficamos sabendo do pipeline da GP pelo jornal. Não existe uma pré-consulta. Temos um mandato para operar e operamos dentro desse mandato.

 E qual tem sido o canal mais comum de desinvestimento? 
Olhamos muito para o desinvestimento pela bolsa, mas, na prática, estamos vendendo muito para estratégico, porque, no momento, é ele quem está pagando mais, com menor grau de incerteza. Além disso, a bolsa tem problemas para receber companhias de menor porte. A Maria Helena Santana (presidente da Comissão de Valores Mobiliários à época da entrevista) e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) têm mostrado preocupação em criar atratividade para o Bovespa Mais. Algum benefício fiscal, de custo, vai ter que ser dado para justificar o gasto adicional que essas empresas vão ter com transparência e divulgação.

 Vocês olham oportunidades de pipe (investimentos em companhias listadas em bolsa)? 
Esse é um desejo nosso, porque há empresas no mercado que não estão precificadas adequadamente. Além disso, hoje há mais empresas listadas, com uma cobertura adequada, e em setores que nós entendemos profundamente. Então, pode ser que a BRZ faça um pipe no futuro, sim. Mas não vai ser algo amplo, e sim restrito a algum foco.Por Simone Azevedo e Luciana Tanoue
 Fonte: Revista Capital Aberto Especial 20/08/2012

20 agosto 2012



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