06 setembro 2018

Valor que empresas trazem do exterior quintuplica este ano

O fluxo de recursos que as empresas brasileiras com ativos no exterior trouxeram de volta ao país se intensificou nos últimos meses. Entre janeiro e julho, os valores resultantes de venda de participação acionária de empresas brasileiras no exterior que foram retornados ao país aumentaram quase seis vezes na comparação com o mesmo período do ano passado, saindo de US$ 2,4 bilhões para US$ 13,6 bilhões.

Para ter uma ideia de como o movimento é intenso, o valor que voltou ao Brasil como resultado do desinvestimento neste ano em sete meses já é maior do que o volume total de US$ 6,4 bilhões de todo o ano passado.

Os valores, segundo analistas, refletem movimento de reavaliação de ativos no exterior por empresas brasileiras, num momento de economia interna em lenta recuperação, moeda nacional desvalorizada e percepção de avanço do protecionismo no mercado internacional. Durante o primeiro semestre, companhias como CSN e Gerdau alienaram participações societárias no exterior.

Dos investimentos desfeitos neste ano, US$ 12,1 bilhões - praticamente 90% - retornaram ao país de abril a julho, segundo dados do Banco Central (BC). Nesses quatro meses o pico de US$ 5,6 bilhões foi em junho, com média mensal de US$ 3 bilhões em reingressos. Do início de 2014 até hoje a média de recursos vindos de desinvestimentos é de US$ 750 milhões ao mês.

Os números, dizem Luis Afonso Lima, da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), refletem um movimento de revisão de ativos que as empresas brasileiras adquiriram no exterior, com venda de participações acionárias num momento de economia ainda desacelerada e em alguns casos direcionados para o pagamento de dívidas. "Há também fatores externos, como uma perspectiva de recuperação econômica internacional ainda lenta e aumento do protecionismo no comércio."

Welber Barral, sócio da Barral M Jorge e ex-secretário de Comércio Exterior, diz que, apesar da existência de fatores externos, o que mais contribui para a onda geral de desinvestimento é o cenário interno. A desvalorização do real também cria uma oportunidade para aceleração desses reingressos, avalia ele. "Algumas empresas aproveitam a oportunidade do câmbio para desinvestir e resolver um problema aqui dentro, onde a baixa atividade econômica ainda provoca prejuízo e muitas vezes se enfrenta uma dívida com juros altos."

Segundo dados do Banco Central, no período mais recente, dos últimos cinco anos, os reingressos somente passaram por movimento maior de aceleração em 2015, ainda assim de forma menos intensa. Naquele ano voltaram US$ 10, 6 bilhões em participações desfeitas no exterior. A depreciação do real chegou a 29,5%, considerando a cotação do dólar pela Ptax média de 2015 contra o ano anterior, em iguais critérios. Em 2015, lembra Barral, também houve desvalorização do real, mas a crise ainda estava no início.

Procurado, o Banco Central, em nota, diz que as "as empresas no Brasil investem e desinvestem em seus negócios no exterior ao longo do tempo. Embora os regressos de investimento brasileiro direto no exterior, modalidade participação no capital, estejam mais elevados em 2018 (13,6 bilhões de janeiro a julho), os investimentos em participação no capital (incluindo compras de novas empresas) somaram US$ 7,3 bilhões nos primeiros sete meses de 2018". O BC ainda ressalta que, considerando desinvestimentos - regressos - e investimentos em participação no capital, os fluxos líquidos ao exterior somaram US$ 27,2 bilhões entre janeiro de 2015 e julho de 2018.

Segundo o relatório de setor externo do BC, com o aumento dos desinvestimentos, os regressos superaram em US$ 6,32 bilhões os investimentos diretos externos em participação de capital, considerando o reinvestimento de lucros no exterior. No ano passado o quadro foi inverso. Os investimentos em participação externa, no mesmo critério, superaram os reingressos em US$ 1,72 bilhão.

Barral destaca o efeito negativo dos reingressos no médio prazo. "A participação brasileira no exterior diminui. Isso significa menor influência do país, menor força para as marcas do país, menor fatia no processo de internacionalização de tecnologia e de talentos, o que também traz reflexos para o comércio exterior."

Entre as companhias de capital aberto, o ano até agora trouxe uma predominância das vendas de participações de brasileiras no exterior dentro do setor de siderurgia. Altamente endividadas nos últimos anos, por causa da depressão nos preços internacionais do aço e da recessão brasileira (que erodiu a demanda no mercado interno), as companhias elegeram o desinvestimento como saída para melhorar a saúde financeira.

No primeiro semestre, foram concluídas três vendas relevantes, totalizando US$ 654 milhões. A maior delas, feita também pela empresa com maior dívida, foi a saída da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) da área produtiva nos Estados Unidos. O grupo vendeu a LLC, uma laminadora que mantinha em território americano para fornecer especialmente ao setor automotivo, para a Steel Dynamics, por US$ 400 milhões.

Além disso, a Gerdau foi a segunda grande protagonista das vendas de ativos em 2018. A empresa já anunciou operações que somadas superam R$ 6,5 bilhões nos últimos quatro anos, mas só nos primeiros seis meses de 2018 recebeu cerca de US$ 254 milhões pela alienação de uma fábrica de fios-máquina nos EUA e a totalidade de seu negócio no Chile.

Até o fim do ano, a siderúrgica de origem gaúcha espera também embolsar US$ 600 milhões - valor ainda não corrigido pela venda das unidades americanas que produzem vergalhão à Commercial Metals Company (CMC).Valor Econômico - Leia mais em abinee.05/09/2018

06 setembro 2018



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