20 setembro 2018

China está redirecionando investimentos dos EUA para a Europa

Outras guerras econômicas, além das sobretaxas impostas pelo governo de Donald Trump contra a China, estão ocorrendo de maneira menos aparente e empurrando Pequim a investir mais na Europa, apontam alguns analistas.

“Antes de tudo, a guerra comercial não é uma guerra comercial e sim uma tentativa de conter o desenvolvimento

econômico da China”, avaliam dois especialistas do banco francês Natixis em Cingapura, Alicia Garcia Herrero e Jianwei Xu.

Os analistas observam que a primeira rodada de sobretaxas dos EUA visou limitar exportações chinesas com maior tecnologia, para frear o avanço tecnológico de Pequim. A retaliação inicial chinesa focou mais em produtos agrícolas, por exemplo, de forma a não afetar a importação de produtos que sua indústria necessita para melhorar a competitividade, incluindo semicondutores.

A segunda rodada de sobretaxas de Washington focou em produtos intermediários chineses, para reduzir o papel da China nas cadeias globais de valor e atrair empresas de volta aos EUA. De seu lado, o pacote de retaliação chinês foi em linha com o primeiro, já que tem menos espaço para alvejar produtos americanos de tecnologia.

Fusões & aquisições

Mas outros tipos de guerra estão ocorrendo, notam os dois analistas. Por exemplo, os EUA estão bloqueando cada vez mais operações de fusões e aquisições da China nos EUA, especialmente no setor de alta tecnologia. O instrumento mais óbvio é a Comissão sobre Investimento Estrangeiro nos EUA (CFIUS), que examina os investimentos estrangeiros na economia americana.

Conforme os analistas, recentemente uma boa parte das ações do CFIUS teve como alvo a China e especialmente o setor industrial. Outros estudos calculam que Pequim investe agora nove vezes mais na Europa do que nos EUA.

Segundo o American Enterprise Institute, investimentos chineses nos EUA declinaram de US$ 25 bilhões em 2017 para menos de US$ 6 bilhões no primeiro semestre de 2018, uma queda de 76%.

Ao mesmo tempo, os investimentos chineses em fusões e aquisições na Europa alcançaram US$ 20 bilhões no primeiro semestre, comparado a US$ 30 bilhões em todo o ano de 2017.

“Eu não consigo encontrar uma única transação de fusão e aquisição de compradores chineses no setor de tecnologia industrial nos EUA em 2017, mas posso encontrar centenas delas na Europa”, disse Alicia Herrero em debate esta semana em Bruxelas.

Para a especialista em China, as tarifas impostas por Trump vão forçar a China a acelerar o movimento para aumentar a competitividade de sua indústria, e depender menos dos EUA. Significa que a Europa vai se tornar ainda mais o mercado em que os chineses tentarão adquirir alta tecnologia.

Reação da Europa

Nesse contexto, a União Europeia (UE) estuda uma legislação para controle do Investimento Estrangeiro Direto (IED) diante da crescente presença chinesa em diferentes países do bloco.

Ao mesmo tempo em que criticam medidas unilaterais de Trump, que ameaçam desestabilizar a economia global, a UE reclama que a China pouco avançou nas promessas de fazer reformas, melhorar o acesso a seu mercado e estabelecer mais reciprocidade nos investimentos e comércio.

Para analistas, a reforma tributária de Trump também tem consequências. Isso é especialmente importante para países como a China que tem recebido grandes volumes de IED de firmas americanas e agora podem ver lucros repatriados para os EUA. No entanto, Pequim reagiu oferecendo isenção de impostos para certas empresas estrangeiras.

Para analistas do banco espanhol BBVA, “a agressão comercial dos EUA”, somada a ataques contra empresas de tecnologia chinesas, eleva o temor em economias da Ásia, como Japão, Coreia do Sul e Tailândia. Esses países vendem muitos produtos internediários para a China. E veem risco de a guerra comercial provocar retração na demanda chinesa por esses produtos, que entram na produção final de muitos produtos.

Conforme o Rabobank, da Holanda, não são apenas empresas chinesas as afetadas pela nova rodada de sobretaxas impostas por Trump. Vários equipamentos de tecnologia feitos na China por empresas dos EUA também serão atingidas pela medida. Fonte: Valor Econômico. Leia mais em beefpoint 19/09/2018

20 setembro 2018



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