Além de uma demanda retraída por conta da alta capacidade ociosa do País, a baixa vantagem comparativa do Brasil também tem limitado a entrada de recursos internacionais neste ano
A taxa de investimento ficou praticamente no mesmo nível da de poupança no segundo trimestre. O movimento sinaliza a baixa capacidade do País em atrair capital estrangeiro e só melhora em 2019, com maior clareza nos ambientes doméstico e internacional.
Os últimos dados divulgados na última sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a taxa de investimentos no País ficou em 16% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, valor bastante semelhante ao observado na poupança bruta, que ficou em 16,4%.
Segundo o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo de Souza Junior, isso se explica tanto pela baixa demanda no País, como pela falta de confiança do investidor estrangeiro. “Há uma capacidade ociosa muito grande e uma demanda crescendo em ritmo muito lento.
De qualquer forma é uma taxa pequena e que vai levar um tempo para se elevar”, explicou. A taxa de investimento no segundo trimestre foi a segunda menor da série histórica do índice do IBGE.
O menor valor foi visto em iguais três meses do ano passado, quando estava em 15,3%. Para o professor de economia do Insper Alexandre Chaia, o movimento é influenciado por conjunturas negativas que estão acontecendo, ao mesmo tempo, tanto dentro quanto fora do País.
“Ao mesmo tempo que não precisamos tomar dinheiro de fora, o investidor estrangeiro também não está vendo vantagem comparativa do Brasil ante outros países”, reitera.
Ele pondera que, quanto mais esse movimento se estende, mais difícil é a captação de recursos, uma vez que o País já possui uma taxa de poupança bruta historicamente baixa. “Possivelmente num quadro um pouco mais claro e transparente do que vai acontecer em 2019 e 2020 e com um cenário mais positivo, voltaremos a ter a possibilidade de investimento estrangeiro, mas dificilmente na fartura que víamos no passado”, diz Chaia.
O resultado total do PIB no segundo trimestre foi de uma leve alta de 0,2% ante os primeiros três meses do ano. Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 1,693 trilhão, sendo um total de R$ 1,450 trilhão de Valor Adicionado a Preços Básicos e outros R$ 242,9 bilhões em Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios. Frente ao período de abril a junho de 2017, o aumento foi de 1%.
No acumulado dos quatro últimos trimestres o PIB cresceu 1,4% ante o período imediatamente anterior. O professor de economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Orlando Assunção Fernandes, pondera ainda que a revisão do PIB dos últimos dois trimestres por parte do IBGE também não aparenta ser “bom sinal”. “Isso mostra o quanto a economia está com um ritmo muito lento de crescimento.
O segundo trimestre fraco não sinaliza apenas um evento específico [a greve dos caminhoneiros], mas uma questão mais estrutural”, afirma Fernandes. Ele comenta ainda que, mesmo com um direcionamento mais claro sobre a corrida eleitoral, existe o impacto do câmbio.
“O dólar disparando nas últimas semanas encarece alguns produtos e também afeta a questão do comércio exterior, que apenas se soma à cautela do empresariado pelas atuais incertezas do País. É algo para se atentar”, acrescenta.
Baixa produção
Na separação da atividade econômica pela ótica da produção em relação à série com ajuste sazonal, o principal destaque foi o setor de Serviços, que registrou um aumento de 0,3%.
Em seguida veio a Agropecuária que se manteve estável e, por fim, o setor industrial que registrou uma retração de 0,6% no período observado.
De acordo com Chaia, apesar de o segundo semestre ser sazonalmente melhor para os setores de comércio e serviços, sem uma clareza que possa impulsionar a retomada dos financiamentos, a indústria e também a construção civil ainda sentirão dificuldades.
“Apesar da dificuldade na agropecuária, com a greve dos caminhoneiros e a queda em relação à safra recorde do ano passado, o setor continua sendo o carro-chefe da produção brasileira.
De qualquer forma, não vejo recuperação alguma para o PIB este ano”, diz. Segundo Souza Junior, do Ipea, há a possibilidade de uma revisão para baixo do PIB deste ano.
“Projetamos um terceiro trimestre melhor, mas existem alguns acontecimentos recentes que precisamos considerar. Não será grande, mas há possibilidade de revisarmos a projeção do PIB de 2018 para baixo”, conclui. ISABELA BOLZANI Leia mais em dci 03/09/2018
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segunda-feira, setembro 03, 2018
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Ruy Moura
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