19 agosto 2017

Quero ser grande

Quinto maior grupo de ensino superior do País, mas com uma participação de apenas 2,3%, a Ser Educacional investe em ensino a distância, aquisições e novos campi para fazer frente às gigantes do setor

Para um observador desatento, a movimentação no mercado brasileiro de ensino superior privado, no início de julho de 2016, sugeria um quadro desanimador para a Ser Educacional. Comandado pelos irmãos Jânyo e Janguiê Diniz, o grupo acabara de perder a disputa pela carioca Estácio para a Kroton, do CEO Rodrigo Galindo. Com um valor de mercado de R$ 30 bilhões e uma base de 1,6 milhão de alunos, a nova operação criava uma gigante com uma escala incomparável em relação aos demais concorrentes. Engana-se, porém, quem pensa que a Ser Educacional ficou de braços cruzados. O caminho escolhido foi acelerar um plano iniciado três anos antes, quando a companhia captou R$ 619 milhões em sua abertura de capital.

Agora, a Ser Educacional começa a enxergar os primeiros frutos dessa estratégia. “Estamos vivendo um dos nossos melhores momentos”, afirma o paraibano Jânyo Diniz, CEO da companhia. O plano ganhou ainda mais fôlego no fim de junho, quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica vetou a fusão bilionária. Na ocasião, Diniz chegou a afirmar que não descartava uma nova investida em uma fusão com a Estácio. Mas, na sexta-feira 18, essa alternativa ficou mais distante. A gestora de private equity Advent comprou as ações do empresário Chaim Zaher na Estácio, por R$ 76 milhões, assumindo uma participação de 8,67% na empresa e duas cadeiras no conselho.

Zaher, que também é dono do grupo SEB, focado no ensino médio e fundamental, vinha tendo uma relação conflituosa com o conselho. “Eu não queria mais brigar”, disse Zaher. “Estava deixando de cuidar do meu negócio para me concentrar em um lugar onde não me queriam.” Longe dessa briga, a Ser busca ganhar musculatura e não tem medido esforços. Quinto maior grupo de ensino superior privado do País, mas com uma participação de mercado ainda baixa, de apenas 2,3%, a Ser Educacional, hoje, se vê mais preparada para ocupar um novo espaço no setor. Nessa trilha, o principal atalho é o ensino a distância (EAD).

Publicada no início de junho, uma portaria do Ministério da Educação (MEC) que flexibiliza e acelera a oferta de cursos superiores nessa modalidade é o combustível por trás dessa aposta. “Todo o mercado está entrando na corrida do ouro do ensino a distância”, diz William Klein, CEO da consultoria Hoper Educação. Entre outras questões, o formato é visto como uma alternativa para ampliar rapidamente o alcance do ensino superior e atrair alunos que, hoje, têm menor poder aquisitivo, especialmente em um contexto de crise e de redução do Financiamento Estudantil (FIES). “O marco muda profundamente a dinâmica do mercado e a Ser Educacional tem totais condições de ser uma das protagonistas nesse novo contexto”, afirma Klein.

Hoje, o segmento de EAD é liderado pela Kroton, com cerca de 37% de participação, segundo a Hoper Educação. A Ser Educacional estreou nesse mercado em 2014, anos depois do que boa parte de seus principais concorrentes. E ainda não figura no ranking. A vertente representa 1,7% da receita do grupo, que faturou R$ 1,12 bilhão em 2016. Os planos de expansão, no entanto, são ambiciosos. Com a flexibilização das regras, a companhia já tem autonomia para o lançamento de 550 polos de EAD por ano. Outros 250 estão em fase de liberação, sob a bandeira da Universidade da Amazônia (Unama), adquirida no fim de 2014.

Diante desse novo desenho, a Ser Educacional já está se movimentando. O grupo vai adicionar 100 polos à sua base atual de 18 unidades de EAD até o fim de 2017. Desde o início do segundo semestre, todos esses polos já estão em fase de captação de alunos. Com a estimativa de oferecer cursos com preços das mensalidades de 30% a 40% menores do que na modalidade presencial, a estratégia da empresa seguirá uma abordagem regional. No Nordeste, a bandeira usada será a da Uninassau, enquanto nas regiões Norte e Sudeste, terão como marcas a Unama e a Univeritas, respectivamente.

O crescimento na modalidade de ensino presencial é outro pilar que vem sendo construído desde 2014 e que ganhou força nos últimos meses. Com 48 campi, o plano é adicionar 45 novas unidades até 2019. Desse total, 23 já obtiveram aprovação, 17 delas no primeiro semestre desse ano, em cidades como Porto Velho, Rio Branco, Macapá e em municípios do interior de Pernambuco. “Nossa expectativa é encerrar 2017 com 31 novas unidades credenciadas”, afirma Diniz. Além de consolidar a já forte presença do grupo no Norte e no Nordeste, a expansão para outras regiões é mais uma prioridade. Nessa frente, um dos principais passos foi a chegada a São Paulo, com a integração da Universidade de Guarulhos (UNG), comprada no fim de 2014, por R$ 200 milhões.

No início desse ano, a Ser Educacional também lançou a Univeritas, marca que, com três unidades, simbolizou sua estreia nas capitais Belo Horizonte e Rio de Janeiro, e no Centro-Oeste, com um campi em Anápolis (GO). Sob os mesmos preceitos da expansão orgânica, a terceira frente que sustenta a estratégia da Ser Educacional para os próximos anos é o investimento em aquisições. Diniz observa que há uma série de negociações em andamento, especialmente com ativos de pequeno e médio porte. Ele ressalta, no entanto, que também há espaço para aquisições de maior fôlego.

“Temos uma situação de caixa e uma capacidade de alavancagem bastante confortáveis”, afirma. A empresa encerrou o primeiro semestre com R$ 341,3 milhões em caixa e com uma dívida líquida de R$ 95,8 milhões. No início do mês, o grupo também anunciou uma segunda emissão de debêntures, com o plano de captar até R$ 200 milhões. A partir desses números, o empresário reforça a confiança no plano traçado pela companhia. “Nenhuma instituição se preparou tanto quanto a Ser nos últimos anos. E todos os nossos projetos de crescimento estão começando a se materializar agora.”Moacir Drska Leia mais em istoe 18/08/2017

19 agosto 2017



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