20 janeiro 2017

Ajuste e cenário global são riscos para 2017

Os maiores riscos para a economia brasileira, nos próximos meses, são economia global, cenário político e ajuste fiscal, apontam economistas de bancos e consultorias ouvidos pelo Valor. Destacam-se na composição do risco economia global, o governo Donald Trump, que assume a presidência dos Estados Unidos hoje, desconforto com a política na zona do euro e apreensão com o ritmo de expansão da economia da China.

Na composição do risco político estão eventuais desdobramentos da Operação Lava-Jato - agora com ainda mais incerteza, depois da morte do relator da processo no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki. O risco fiscal comporta duas preocupações: a possibilidade de a Câmara dos Deputados rejeitar a proposta do governo para reforma da Previdência e o ajuste fiscal ficar aquém do esperado.

O Valor consultou 23 economistas sobre os riscos que podem assombrar o cenário básico das instituições e 80% dos analistas mostraram preocupação semelhante - e elevada na comparação com outros riscos- com a economia global e o cenário político doméstico; 56% dos entrevistados destacaram a eventual frustração do ajuste fiscal como fator altamente perturbador; 21% demonstraram desconforto com a zona de euro e a política econômica chinesa. A inflação não foi citada como fonte de preocupação, mas ninguém despreza efeitos de aumento de preços das commodities, em especial petróleo - se ocorrer.

Determinadas preocupações são comuns a profissionais de instituições estrangeiras. Eles também listam um número maior de variáveis sob disciplinado monitoramento - o que se explica pela atuação global de bancos. Bancos e consultorias nacionais preocupam-se, pela ordem, com o fator Trump na economia global, com o cenário político doméstico e com resultados de medidas fiscais.

Paulo Gomes, estrategista e economista-chefe da Azimut Brasil Wealth, sintetiza: "Politicamente, o risco está na não aprovação de uma reforma previdenciária e ajuste fiscal em linha com as expectativas". No cenário externo, há dúvidas quanto ao governo Trump e a consequente política monetária que o Federal Reserve possa adotar para acomodar a nova realidade, conjuntura na zona do euro e economia chinesa.

André Muller, economista da AZQuest, cita riscos externos semelhantes aos listados por Gomes e classifica como "mais relevantes" os internos: "A continuidade da aprovação da agenda fiscal do governo (Previdência e solução para a dívida dos Estados com a União) é condição necessária para que a economia brasileira passe a apresentar expansão sustentável, sem aceleração da inflação e juros mais baixos ao longo de 2017 e 2018."

Gustavo Arruda, do BNP Paribas, destaca o risco de mudança radical da política econômica americana. Eventual desaceleração do crescimento chinês, incerteza com o governo Trump e risco político na Europa estão no pacote. "No âmbito interno, nosso cenário básico contempla aprovação da reforma da Previdência, além de eventuais reformas que facilitem o ambiente de negócios. Os riscos a esse cenário são associados ao aumento da instabilidade política."

"Instabilidade política interna" também é o principal risco na visão de Rafael Bevilacqua, da Eleven Research. Patrícia Krause, economista-chefe da Coface para América Latina, não descarta maior turbulência no cenário político com a homologação da delação premiada da Odebrecht, "trazendo riscos à atividade e ao ajuste fiscal". José Claudio Securato, presidente da Saint Paul Escola de Negócios, avalia que será preciso aguardar os resultados de delações. Para ele, "o risco político de afastamento do presidente Temer e dos principais ministros do núcleo econômico, incluindo presidente do Banco Central" são muito baixos.

Daniel Gomes da Silva, do Modal, afirma que a continuidade do cenário de incerteza política é o principal risco. E enumera os eventos que podem provocar reviravoltas nas expectativas: delação da Odebrecht, julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE e proximidade das eleições majoritárias de 2018 conforme o calendário avança. "A combinação desses eventos pode reduzir a capacidade do governo Temer impor reformas e medidas a um ritmo acelerado."

"Os riscos para as perspectivas do Brasil são: não crescimento econômico e político", resume o Departamento Econômico do Santander. David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, chama atenção para crescimento como o maior risco para o Brasil nos próximos meses e alerta: "Sem crescimento, a questão fiscal se complica muito." Roberto Luis Troster, diretor da Troster & Associados, considera que o baixo crescimento deixa o país mais vulnerável a choques de oferta.

Os analistas do Departamento Econômico do Bradesco avaliam que os principais riscos para o BC neste momento derivam do sentimento de frustração com o tempo que pode durar a contração da atividade tornando a retomada mais tardia e lenta do que o esperado. A equipe do Bradesco aponta a existência de riscos adicionais e imprevisíveis. "Riscos de mensuração existem: a continuidade das investigações sobre corrupção no Brasil e seus eventuais efeitos secundários sob a estabilidade política, além das incertezas em relação às medidas na área econômica e de política externa que o novo governo americano encaminhará."

Thiago Carlos, economista do UBS, aponta como principal fator de risco "a eventual ausência de um equilíbrio político que provoque desancoragem das expectativas fiscais". Ele cita como exemplo a não aprovação de reformas estruturais no Congresso. "Nesse cenário, o PIB se contrairia de forma mais intensa e o câmbio se desvalorizaria; seria um complicador para a convergência da inflação para meta." Carlos acrescenta o risco de aumento mais acentuado da taxa de juros nos Estados Unidos, "tapering" na União Europeia e/ou desaceleração mais forte da economia chinesa. "Esses eventos externos, se confirmados, podem aumentar a volatilidade nos preços de ativos globais", afirma.

O Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco trabalha com a perspectiva de que "internacionalmente as mudanças na política econômica americana sejam suaves - com moderado estímulo fiscal e sem maiores rupturas no comércio internacional - e, domesticamente, que se complete essa etapa da agenda fiscal, com a aprovação da reforma da previdência".

Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a maior fonte de incerteza é a política doméstica e chama a atenção para a "agenda muito apertada". "O posicionamento para 2018 está cada dia mais próximo, e Temer está entre uma reforma ministerial, a Lava-Jato e a proposta de reforma da previdência. Um tema cada dia mais presente vai ser crescimento versus ajuste fiscal. O próprio governo adotou estratégia para termos aumento real de gastos em 2017, o que pode compensar em parte a trajetória de estagnação da atividade no que toca decisões privadas. O ajuste fiscal trará de volta o tema mais impostos."

Sílvio de Campos Neto, economista da Tendências Consultoria Integrada, cita entre as preocupações internas a crise fiscal do Estados. "A crise dos Estados situação política no Brasil estão no front das preocupações. A Lava-Jato segue como um elemento de risco contínuo ao governo Temer. A aprovação da reforma da Previdência é fundamental e eventual aumento da tensão política dificultaria tal desfecho. Uma retomada econômica ainda mais lenta colocaria pressão adicional no governo", avalia.

Newton Rosa, superintendente de Economia da SulAmérica Investimentos, destaca como um risco de cunho político a demora para a economia brasileira dar sinais de superação da recessão. "Essa demora pode minar a governabilidade do presidente Temer, limitando sua capacidade de levar adiante sua agenda de reformas fiscais", afirma. "Pressões inflacionárias podem estar presentes diante da percepção de que o endividamento público sem sinais de estabilização. A pressão inflacionária viria pelo canal do câmbio que responderia ao aumento do risco país."  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 20/01/2017

20 janeiro 2017



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