21 outubro 2016

O que Pércio de Souza, da Estáter, aprendeu trabalhando com fusões e aquisições

Não dá para ser craque em várias áreas, mas você pode aprender habilidades que te ajudam em diversas situações

Sócio fundador da Estáter, empresa que se define como uma boutique de investimentos, Pércio de Souza tem extensa experiência com fusões e aquisições de empresas. Ele ganhou destaque ao assessorar Abilio Diniz no movimento de expansão do Pão de Açúcar e acompanhou os primeiros passos da disputa do empresário e Jean-Charles Naouri, do Grupo Casino. Engenheiro civil por formação, ele diz ter dificuldade de focar em apenas um ponto. “Se eu fosse criança, iam falar que eu tenho distúrbio de atenção”, diz ele. Hoje, além da assessoria a empresas, a Estáter também tem um braço de investimentos – controladora da Tecsis, uma das maiores produtoras de pás eólicas do país.

Ainda na faculdade, Pércio entrou no Citibank, “foi a realização de todos os meus sonhos, eu consegui trabalhar em escritório”. Depois do Citibank, ele foi para o BBA. “Foi com o plano real que vi a oportunidade de um banco de investimento”, conta. Em 1999, conseguiu comprar a corretora da Icatu.

Em 2003, o empreendedor fundou a Estáter. Quatro anos após a criação da consultoria, Pércio de Souza decidiu ampliar o escopo de seus investimentos e criou a Estáter Gestão e Investimentos, em 2007, a fim de viabilizar nossa participação em pequenas e médias empresas de capital fechado.

Descubra o que quer fazer – e aprenda na prática

Durante o ensino médio, Pércio conseguiu uma vaga no Centro Federal de Educação Tecnológica, em Curitiba, e escolheu fazer mecânica. “Primeira coisa que percebi foi que não queria coisa técnica, queria mais trabalhar em escritório do que fábrica”, conta. Com afinidade na área de exatas, ele decidiu cursar engenharia civil. “Vi que isso iria me abrir muito mais portas do que a mecânica.”

Já na faculdade, ficou frustrado com a distância entre o que aprendia nas aulas e a realidade do trabalho. “Percebi que eu gostava disso, mas não vi que aquilo não ia me preparar para o trabalho”, diz. Depois, ele buscou uma parceria entre sua universidade – a Universidade Federal do Paraná (UFPR) – e o CIEE, para viabilizar estágios aos alunos.

Perceba seus pontos fortes

Para ganhar dinheiro, no início da faculdade, Pércio de Souza começou a dar aulas particulares a seus colegas. “Mas quando reparei que no meu cartão estava escrito que eu dava aula de matemática, física, química, português, geografia, me dei conta de que não era a parte técnica que eu estava ensinando, mas eu estava ensinando as pessoas a estudar.” Para ele, foi um passo importante entender que não era preciso saber tudo, mas que era possível aprender algumas habilidades e aplicá-las em várias situações.

Não precisa ser craque em tudo

Pércio de Souza aplica o pensamento de que não é preciso saber de tudo em seu trabalho de assessoria de fusões e aquisições. Segundo ele, não é necessário entender as especificidades de cada negócio: “Meu trabalho é ajudar na gestão, catalisar movimentos de gestão. Tem algumas habilidades que te ajudam a fazer isso. No fim do dia, as dificuldades das empresas vão se repetindo”. “Não existe fórmula certa para nada, existe fórmula certa para determinadas circunstâncias”, diz.

Unir culturas é o maior desafio

“Acho que o grande desafio de fusões é o das culturas, a união, e a técnica de absorver e catalisar duas culturas diferentes”, diz Pércio de Souza. Ele conta que, durante o processo, há sempre insegurança e resistência nas empresas.

“Em qualquer processo de fusão ou reestruturação, é preciso planejar muito as medidas, mas elas têm de ser rápidas. O pior erro é lentidão na reestruturação. As pessoas que vão perder percebem que vão perder, as que ganham não tem certeza de que vão ganhar, e a cultura se perde no processo”, afirma.

Planeje sua carreira também

Aos 45 anos, Pércio de Souza começou a pensar no que seria de sua carreira nos próximos 25 anos. “Olhei para a frente e pensei onde quero chegar. Depois dos 70 anos, fazer fusões e aquisições seria muito difícil, porque no período de fechar os negócios são semanas dormindo muito pouco”, diz ele. Contudo, Pércio não imaginava se aposentar. Foi então que veio a ideia de investir, de forma mais intensa, em empresas. “Tinha um projeto pessoal de poder, lá na frente, falar que eu tinha investido em várias empresas”, conta. Para que a Estáter expandisse sua atuação, contudo, ele afirma que o principal desafio foi a formação de pessoas. “Em uma empresa, o grande gargalo não é dinheiro, é formação de gente.”

Não descarte oportunidades fáceis

Durante o crescimento do Grupo Pão de Açúcar, Pércio de Souza diz que houve um fracasso que poucos percebem: a demora na compra do Atacadão. “O Pão de Açúcar podia ter comprado o Atacadão por R$ 1,750 bilhão. O Abilio Diniz sabia a oportunidade que era, mas o conselho não concordava. Depois, quando o Carrefour apareceu com uma proposta de mais de R$ 2 bilhões, o negócio despertou o interesse”, diz. “Quando o negócio está muito fácil, a tendência do ser humano é recusá-lo. Quando está muito difícil, tende a pagar preço mais alto do que vale.”  POR DANIELA FRABASILE Leia mais em epocanegocios 18/10/2016







21 outubro 2016



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