25 outubro 2016

Economia real não responde e Ibre piora previsões

O maior otimismo embutido na percepção de empresários, consumidores e nos preços de ativos financeiros ainda não encontra paralelo nos indicadores reais de atividade, segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Como o desempenho da economia real continua surpreendendo negativamente, apesar da melhora das expectativas, a instituição reviu para baixo suas estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre e, também, do ano.

Na edição de outubro do Boletim Macro, divulgada com exclusividade ao Valor, o Ibre prevê queda de 0,6% do PIB entre o segundo e o terceiro trimestres, feitos os ajustes sazonais. A projeção anterior era de redução mais modesta, de 0,3%. Após a mudança, a perspectiva para 2016 passou de recuo de 3,2% para retração de 3,4%.

A análise de que a atividade só deve voltar a crescer a partir dos primeiros três meses de 2017 permanece, assim como a expectativa de alta de 0,6% da economia no ano que vem, mais fraca do que o consenso de mercado, de expansão de 1,2%.

"Vivemos uma situação tão dramática, com recessão aguda e profunda, que a mudança de governo levou a um excesso de otimismo, mas o realinhamento macroeconômico é um processo difícil", afirma Silvia Matos, coordenadora técnica do boletim. O recente comportamento ruim dos indicadores de atividade não é demérito da nova equipe econômica, pondera Silvia, mas reforça a visão de que a saída da crise não é algo trivial.

A revisão pessimista para o período de julho a setembro foi provocada pela produção industrial, que registrou recuo de 3,8% no mês de agosto, eliminando a expansão acumulada nos cinco meses anteriores. Para setembro, a expectativa é de avanço de 0,9%, recuperação pouco robusta na avaliação da entidade. Com esse desempenho, o PIB industrial deve cair 1,1% na passagem do segundo para o terceiro trimestre nas estimativas do Ibre, depois de ter aumentado 0,3% de abril a junho.

De acordo com Silvia, a volta ao terreno negativo não significa que a reação da atividade industrial foi abortada, e parte do tombo observado em agosto é explicado por fatores temporários. O setor deve voltar a crescer nos últimos três meses do ano, afirma a economista, mas o processo de retomada da produção é "mais lento e doloroso" do que o sugerido pelas expectativas de empresários, que vêm puxando a alta da confiança da indústria sem contrapartida da avaliação sobre a situação atual.

De agosto para setembro, o Índice de Confiança Empresarial - medição do Ibre que agrega os indicadores de indústria, comércio, serviços e construção - subiu 1,5%, para 82,4 pontos. Segundo os economistas Aloisio Campelo e Viviane Seda, responsáveis pela seção de confiança, as expectativas explicam 75% da variação positiva. Para a coordenadora do boletim, diante da fraqueza da demanda interna e da perda de fôlego do setor externo como indutor de crescimento, é de se esperar alguma reversão do excesso de otimismo nos próximos meses.

Do ponto de vista do consumo das famílias, a taxa de juros elevada e a escassez do crédito não serão revertidas no curto prazo, acrescenta Silvia. O Banco Central agiu corretamente ao promover um "modesto ajuste" da taxa Selic em outubro, de 0,25 ponto, defende o economista José Júlio Senna na seção de política monetária do boletim, uma vez que o recuo das expectativas e da inflação corrente ocorre em velocidade lenta.

"Quanto mais conservador for o Banco Central nesta fase inicial da flexibilização, maior será o ganho em termos de expectativas e de redução da própria inflação, abrindo-se espaço para quedas de juro mais expressivas ao longo de 2017, condicionadas, evidentemente, a um avanço concreto nas reformas fiscais", comenta Senna.

Para o Ibre, a PEC 241, que impõe um teto aos gastos da União, é um primeiro passo nessa direção, mas precisa ser complementada por outras medidas para ter sucesso, como a reforma previdenciária e a instituição de regras mais duras para os reajustes salariais de servidores públicos. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 25/10/2016

25 outubro 2016



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