20 junho 2020

Nos EUA, empresas de tecnologia vão à Bolsa na pandemia

Depois do primeiro choque da crise do coronavírus nos Estados Unidos, startups correm para abrirem capital na bolsa em momento de alta no mercado das ações

Em março, quando o coronavírus começou a se espalhar pelos EUA, a Vroom, uma startup que vende veículos usados online, arquivou seus planos de abrir capital (IPO, na sigla em inglês) e correu para reforçar suas operações. Mas, com muitas concessionárias fechadas sob as ordens de quarentena, as pessoas começaram a comprar mais carros online, impulsionando a Vroom com vendas recordes em março e abril, informou a empresa.

"Vimos o mundo inteiro se estabilizando", disse o presidente executivo Paul Hennessy. "No final de abril, dissemos: OK, talvez seja a hora de retomar a ofensiva". A Vroom, que tem sede em Nova York, coroou essa ofensiva com a abertura de capital na semana passada. O preço de suas ações mais do que dobrou no primeiro dia de negociação e a empresa captou US$ 495 milhões na oferta pública.

A Vroom faz parte de um grupo de startups que correu para abrir capital quando passou o primeiro choque do coronavírus. O mercado de ações, que despencou quando o surto atacou os Estados Unidos, voltou a subir fortemente nas últimas semanas. Desde seu ponto mais baixo, no final de março, o índice S&P 500 subiu 40%. À medida que o mercado se recuperava, a SelectQuote, uma provedora de seguros online; o ZoomInfo, um fornecedor de dados de software de vendas; o Warner Music Group, uma gravadora; e a Vroom abriram capital na bolsa. E mais ofertas públicas estão a caminho.

A Lemonade, uma startup de seguros avaliada em US$ 2,1 bilhões, anunciou na semana passada que havia se preparado sigilosamente para abrir capital. A DoubleDown Interactive, uma empresa de jogos para dispositivos móveis, também se preparou para a operação este mês.

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Algumas das maiores startups do Vale do Silício também estão adotando medidas para a abertura de capital. O Airbnb, a startup de aluguel de imóveis avaliada em US$ 31 bilhões, disse que não descartara a possibilidade de abrir capital este ano. A Palantir, uma empresa de vigilância digital avaliada em US$ 20 bilhões, está se preparando para o IPO nas próximas semanas, disse uma pessoa informada sobre os planos da startup, que não quis ser identificada porque as negociações eram sigilosas.

A Palantir se recusou a comentar; a Bloomberg já havia se pronunciado sobre seus planos de IPO. "A janela está aberta", disse Previn Waas, parceiro de IPOs na empresa de serviços profissionais Deloitte. "Todo mundo descobriu que é possível fazer IPO virtual. Há muito apetite para que as empresas abram capital". Jeff Thomas, diretor de listagens e mercados de capitais da West Coast na Nasdaq, disse: "Todo mundo que estava nesse processo agora está retomando a marcha".

O Morgan Stanley passou os últimos meses ajudando as empresas afetadas pelo coronavírus a buscar financiamento de todas as formas - exceto ofertas públicas, disse Colin Stewart, diretor de mercados de capitais de tecnologia do Morgan Stanley. O mercado está muito volátil e as empresas precisam avaliar como o vírus mudou suas previsões financeiras, disse ele. Mas, agora com o mercado de ações mais estável, a situação mudou. "Está claro que há muita demanda reprimida de investidores para analisar IPOs", disse Stewart.

Wall Street está adotando os IPOs, apesar de muitas empresas estarem perdendo dinheiro. A Vroom perdeu US$ 143 milhões no ano passado com US$ 1,2 bilhão em receita, de acordo com suas divulgações. A startup de entrega de alimentos DoorDash, que se preparou para abrir capital em fevereiro e observou um aumento no uso da pandemia, também queimou centenas de milhões e não está dando lucro.

No ano passado, grandes empresas que perderam dinheiro, como Uber e Lyft, também abriram capital - e logo começaram a derrapar no mercado de ações. Suas performances decepcionantes e o fracasso no IPO do WeWork geraram uma onda de prudência no mundo das startups.

Mas o entusiasmo por novos papéis - especialmente de empresas de tecnologia em rápido crescimento - deixou de lado a questão da lucratividade. Os investidores ficaram mais tolerantes com as empresas que perdem dinheiro porque o vírus acelerou a adoção de tecnologias como comércio eletrônico, educação virtual, streaming, serviços de telessaúde e entregas, disse Gavin Baker, diretor de investimentos da Atreides Management, que investe em empresas privadas e públicas. "O coronavírus puxou o mundo para 2030", disse Baker.

A janela para IPOs talvez seja pequena. Uma segunda onda de paralisações relacionadas ao vírus pode empurrar o mercado de ações para mais uma queda. As empresas também precisam passar pela divulgação dos dados financeiros do segundo trimestre. Além disso, tem as eleições presidenciais americanas de novembro, que podem criar volatilidade no mercado.

Como resultado, mais empresas do que o habitual pretendem abrir capital em agosto, um mês que tradicionalmente evitavam porque as pessoas costumavam sair de férias, disse Thomas, da Nasdaq. A bolsa está dizendo às empresas que fiquem prontas para abrir capital a qualquer momento, disse ele, e que tenham um financiamento alternativo pronto, caso não consigam fazê-lo.

Para os executivos que estão tentando abrir o capital de suas empresas agora, o momento é de roer as unhas. Henry Schuck, fundador e presidente executivo do ZoomInfo, planejava colocar a empresa no mercado de ações no final de março. Mas, quando o vírus chegou, ele começou a ficar de olho no VIX, um índice que mede a volatilidade do mercado de ações todos os dias. O índice quase não passou de 20 na última década, mas, em março, superou 80. "O mercado simplesmente não estava bom para uma abertura de capital", disse ele.

Em maio, quando o mercado se estabilizou, Schuck decidiu ir em frente. Mas havia outros desafios. Embora os executivos normalmente participem de um roadshow para apresentar as ações de suas empresas aos investidores, ele ficou em casa.

Então, ele fez inúmeras reuniões virtuais com investidores numa única semana. Mesmo em casa, contou ele, vestiu terno e até sapatos. Na manhã do IPO do ZoomInfo, em 4 de junho, Schuck apertou um botão cerimonial para abrir as negociações, ao lado de sua esposa e da filha de 4 anos. As ações do ZoomInfo subiram mais de 60% no primeiro dia de negociação. / tradução de renato prelorentzou.  Erin Griffith Leia mais em terra 20/06/2020







20 junho 2020



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