Animada com cadastro positivo, Boa Vista refaz planos para retomar IPO
A Boa Vista SCPC está refazendo os planos de estreia na bolsa, uma vez que a rápida expansão das consultas ao cadastro positivo faz o segundo maior bureau de informações de crédito do país mudar o foco para crescimento orgânico, em vez de aquisições para ampliar o leque de serviços.
A Boa Vista pediu registro para oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) no começo de março, mas suspendeu o pedido logo depois, à medida que a pandemia da Covid-19 provocou um cataclisma nos mercados.
Um dos gatilhos para a revisão dos planos da Boa Vista foi o crescimento acelerado das consultas ao cadastro positivo, o sistema que contém histórico de crédito que dá aos tomadores adimplentes a chance de obter novos empréstimos mais baratos.
O modelo passou em fevereiro a funcionar no esquema 'opt out', no qual as informações de todas as pessoas entram no banco de dados automaticamente, exceto se pedirem a exclusão.
"Não acho que sem a pandemia o volume de consultas tivesse crescido tanto", disse o presidente da Boa Vista, Dirceu Gardel, em entrevista à Reuters.
Tendo como sócios o fundo TMG Capital e a norte-americana Equifax, além de entidades de lojistas de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Porto Alegre, a Boa Vista divide o mercado de informações de crédito no país com a líder Serasa Experian e a Quod, que pertence aos cinco maiores bancos brasileiros. O lucro líquido da Boa Vista em 2019 somou 74,4 milhões de reais, crescimento de 58% sobre o ano anterior.
Empresas como a Boa Vista recebem de bancos, varejistas e outras companhias que oferecem crédito e compras financiadas uma tarifa quando acessam e analisam dados de clientes, dando às informações um "score", uma medida do risco do tomador.
Ainda sem uma base de comparação robusta por ser um sistema recente nesse modelo, Gardel afirmou que o cadastro positivo teve alta de 15% nas consultas de abril para maio na Boa Vista.
BOOM DE INADIMPLÊNCIA?
O aumento na demanda pelo cadastro positivo acontece em meio às previsões de um salto nos índices de inadimplência devido aos efeitos das medidas de isolamento social a partir de março para conter a pandemia e que devem fazer disparar o desemprego e o encerramento de pequenas empresas.
Ao divulgarem resultados do primeiro trimestre, os grandes bancos do país anunciaram um reforço significativo de suas provisões para perdas esperadas com calotes.
Dados preliminares, conta Gardel, mostram que o nível de atrasos em pagamentos medidos pela Boa Vista cresceu 5% em abril sobre um ano antes, bem menos do que se imaginava.
"Mas isso foi influenciado pelo fato de os bancos terem aberto carência para pagamento de dívida e renegociações", disse o executivo. "Os índices de inadimplência devem crescer mais depois, assim como os encerramentos de negócios."
A própria empresa ampliou o prazo de hibernação, período de atraso a partir do qual inclui no 'cadastro negativo' o CPF dos tomadores com dívida em atraso, de 15 para 40 dias. Além disso, governos municipais e estaduais interromperam o envio de títulos vencidos para protesto.
Com menor visibilidade sobre a situação de curto prazo, bancos de fintechs passaram a ser mais restritivos na concessão de novos empréstimos, exigindo scores de crédito maiores dos tomadores do que os de antes da crise, disse Gardel.
Assim, dados antes indisponíveis, como a adimplência no pagamento de contas de serviços públicos por parte de indivíduos não bancarizados, público estimado em cerca de 20 milhões de pessoas no Brasil, passaram a ser ainda mais valiosos.
Para o executivo da Boa Vista, a análise qualitativa dos dados de crédito, ao lado da ajuda emergencial do governo, deve ter papel crucial na retomada das atividades do varejo. Segundo ele, atualmente o ritmo das consultas totais na Boa Vista está em cerca de 80% da média anterior à crise.
Diante desse quadro de recuperação gradual da economia, a Boa Vista avalia voltar com os planos de IPO, embora ainda não tenha prazos definidos.
Uma coisa é certa: a expectativa para captação de recursos terá que ser diminuída. Em vez de aquisições para poder oferecer uma ampla maior de serviços, vai se concentrar no que já é especializada.
"A gente queria dar saltos, adquirindo empresas menores, com produtos antifraudes", disse Gardel. "Agora, o foco será em investimento orgânico.".. Reuters Leia mais em yahoo 22/06/2020
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