23 outubro 2017

Alta performance

O estudo preparado pela consultoria internacional McKinsey, pela fundação CPqD e pelo escritório Pereira Neto Macedo Advogados para subsidiar a elaboração do Plano Nacional de Internet das Coisas (IoT), do governo federal, evidenciou o potencial e os negócios atuais no país em torno do conceito. IoT é a tecnologia que permite conectar à web dispositivos eletroeletrônicos do cotidiano, como eletrodomésticos e carros. O trabalho indica impacto entre US$ 50 bilhões e US$ 200 bilhões até 2025, com metas como inserção do país entre os protagonistas mundiais do segmento.

O plano deve ser implantado por decreto até o fim do ano e dá prioridade aos setores de saúde, agronegócios, cidades e indústria. Sua estrutura tem como pilares o desenvolvimento de capital humano, infraestrutura de conectividade, regulação e segurança e privacidade, com 76 iniciativas nessas áreas, como detalha Patricia Ellen Silva, sócia da McKinsey.


"O plano está calcado em ambiente de negócios, sob o guarda-chuva da estratégia para a transformação digital do país", explica o diretor de ciência, tecnologia e inovação digital do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), José Gontijo.

"A IoT vai acontecer a despeito de o Estado induzir ou não", afirma Ricardo Rivera, chefe do departamento das indústrias TIC do BNDES. O banco é um dos articuladores da nova política e vai reforçar os financiamentos de serviços e os aportes para IoT. Além de nove fundos aplicáveis, com R$ 500 milhões para os próximos três anos, o BNDES lança este ano um fundo de debêntures para estimular investimentos de empresas com faturamento até R$ 90 milhões, com remuneração atrelada à performance e, até 2018, um fundo de capital anjo.

O BNDES ainda oferece serviços técnicos para o poder público estruturar PPPs, como as de iluminação pública. Uma delas, em Belo Horizonte (MG), apoiou 28% das 382 empresas respondentes do Mapa de IoT incluído no estudo e deve ampliar os financiamentos para investimentos anuais em infraestrutura de conectividade de R$ 2 bilhões para R$ 5 bilhões.

Pesquisa da Logicalis aponta a evolução da IoT. Neste ano, 37% dos entrevistados afirmam que ela é importante ou muito importante para seus negócios, em comparação aos 27% de 2016, enquanto 18% já adotam e 19% estão em processo de adoção de IoT. Para atuar no segmento, a Logicalis criou a plataforma Eugenio e passou a desenvolver sensores e gateways para driblar a dificuldade e custos com as importações.

Uma de suas parceiras é a AES Eletropaulo. A empresa já conta com infraestrutura de comunicação e 2 mil sistemas de isolamento com autocorreção em sua rede. Agora, investe R$ 75 milhões em um piloto em Barueri (SP), que prevê instalação de 62 mil medidores inteligentes.

Um dos desafios é o preço do medidor, de cerca de R$ 700. Outro é o nível de interferência nas frequências livres empregadas. Mas os resultados devem somar redução de furtos e de custos operacionais, combate à inadimplência e benefícios para os clientes como acionamento de equipamentos a distância, segundo o diretor de engenharia Charles Capdeville.

Fornecedores de tecnologia confirmam a vitalidade do segmento. Na Schneider Electric, 54% da receita provém de soluções conectáveis. "A expectativa é que o volume continue crescendo", diz o presidente Cleber Morais. As soluções de IoT estão dentro da plataforma aberta EcoStruxure e, no Brasil, a empresa tem usuárias como a Etirama, fabricante de máquinas para impressão de rótulos com aplicação para substituição de engrenagens mecânicas.

Roberto Murakami, diretor de soluções para operadoras da NEC no Brasil, registra o avanço nos últimos três anos, com adoção de soluções como a de reconhecimento facial para plataformas de identificação de pessoas, empregada em projeto implementado pela Receita Federal em aeroportos. A SAP, que lançou a plataforma como serviço Leonardo para integrar legados e tecnologias como machine learning, IoT e blockchain, já contabiliza mais de uma centena de casos de IoT no Brasil em áreas como agronegócio, indústria, logística e varejo.

Entre eles, o sensoriamento de câmaras frias em lojas do Burger King, a leitura automática e em tempo real dos produtos de lojas O Boticário para reposição imediata e a coleta de informações no campo por equipamentos agrícolas da Stara, também em tempo real, exemplifica o vice-presidente de vendas Jaime Muller.

Parcerias com startups estão na mira das empresa. A SAP criou o programa Startup Focus para capacitação na plataforma. O programa BizSpark da Microsoft atraiu especialistas como a Things Expert, que monitora qualquer coisa móvel sem usar GPS ou plano de dados em dispositivos a custo reduzido, segundo o diretor de engenharia e inovação Alessandro Jannuzzi.

Uma das usuárias das plataformas Microsoft é a Hi Technologies, criadora do Hilab, equipamento para realização de exames de sangue que dispõe de cápsula com reagentes e conexão com nuvem para fornecer em minutos resultados de exames que vão de gravidez a marcadores tumorais, com preços a partir de R$ 30 para o paciente. "A meta é ter 10 mil equipamentos rodando até metade de 2018 e, com maior escala, chegar aos preços do SUS", antecipa o CEO Marcos Figueiredo.

A Qualcomm Ventures, braço de investimentos da Qualcomm, também faz investidas ligadas a IoT. Entre elas, a WebRadar, empresa de big data analytics que permite a gestão em tempo real de bases massivas de dados geradas por dispositivos conectados, e a Strider, fornecedora de soluções para gestão de fazendas. A Qualcomm participa de pilotos e testes como o projeto de conectividade rural em parceria com a TIM e o uso da tecnologia LTE CatM1 para IoT com a Claro. Também é parceira da Logicalis para desenvolvimento de soluções e da Embrapa para processamento de imagens agrícolas geradas por drones, informa o diretor de novos negócios, Oren Pinsky.

Integradores e prestadores de serviços também registram resultados. A Tivit tem projetos em áreas como construção e utilities. A Ampla, distribuidora de energia para 66 cidades do Rio de Janeiro, fornece sistema de monitoramento e controle de equipes de campo que gerou ganho de 25% na produtividade, conta o diretor de operações Fabiano Droguetti.

Estudo apoiado pela Tivit apontou que uma em cada quatro de 193 startups pesquisadas no Brasil estão voltadas a IoT. "Os brasileiros têm oportunidade para se destacar na evolução da IoT", diz o diretor de soluções de segurança Leonardo Cassimi. Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 23/10/2017

23 outubro 2017



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