07 outubro 2015

Haitong deve fazer novo aporte no Brasil

Um novo aporte de capital deverá marcar uma das primeiras iniciativas do banco chinês Haitong na gestão do recém-adquirido Banco Espírito Santo Investimento (Besi) no Brasil. O banco ainda não detalhou o aporte, mas a estratégia faz parte de uma série de ações que o grupo chinês planeja levar adiante para fazer a filial brasileira crescer, mesmo em meio ao processo de recessão que tem feito bancos de investimento repensarem a continuidade de suas estruturas no país.

“Nós não temos uma visão oportunista do nosso negócio. Nós não vamos ao Brasil quando as coisas estão boas e saímos do país quando as coisas pioram”, avalia o presidente do grupo Haitong, José Maria Ricciardi. No país, o banco também passa a se chamar Haitong.

Ricciardi está no Besi desde 1992 e assumiu a presidência do banco em 2003. Membro de um dos ramos da família Espírito Santo, que controlava o banco, ele é primo de Ricardo Salgado, ex-presidente do BES. Os dois se desentenderam continuamente à frente do grupo, desde por questões envolvendo a sucessão de Salgado até pelos episódios que levaram à quebra do grupo. Dos membros da família Espírito Santo, Ricciardi é um dos poucos a não ter sido inabilitado a dirigir instituições financeiras em Portugal.

Hoje Ricciardi comanda as operações do Haitong nas Américas e Europa. De Portugal, o executivo falou com o Valor por teleconferência realizada na sede do banco chinês em São Paulo.

Ele diz que, sob o controle do Haitong, a filial brasileira tem maior capacidade de crescimento por ter um acionista com maior força financeira. Nesse sentido, além de reforçar o capital, o banco deverá recrutar profissionais no país para ampliar áreas que ainda têm potencial de expansão para gerar novos negócios.

Nos planos de contratação, também há a perspectiva de substituir o atual presidente da filial brasileira, Rafael Valverde, que numa estrutura atípica, nesse período de transição também comanda as filiais do Haitong nos Estados Unidos e em Portugal. A ideia é contratar um presidente brasileiro que, inicialmente, irá se reportar a Valverde, e depois deverá assumir as operações em definitivo.

Outras contratações devem vir em linhas de atuação específicas. “Vamos investir mais em áreas em que ainda somos incipientes como private banking, wealth management e asset management”. No private, o banco avalia, inclusive, a possibilidade de fazer aquisições.

Para crescer no Brasil em meio ao freio da atividade econômica, a estratégia do banco é preencher lacunas e atender as necessidades das empresas em meio à crise. Na visão de Ricciardi, quando os mercados não estão bons, também há oportunidades que podem ser aproveitadas pelos bancos. “As empresas têm de vender subsidiárias, algumas precisam pagar dívidas, alongar prazos, outras precisam se capitalizar”, exemplifica.

Para além da fronteira brasileira, o banco quer aproveitar sua estrutura na China, onde é o segundo maior banco de investimentos, para ampliar o diálogo com o Brasil e o país asiático. Questionado se a redução do crescimento econômico na China não poderia atrapalhar esses planos, o executivo diz que não.

Para ele, ao contrário do que o mercado prevê, os diversos investimentos da China no exterior prosseguirão porque há um crescimento grande da classe média chinesa, que passou de 100 milhões para 300 milhões de pessoas. “A classe média chinesa deve chegar a 800 milhões de pessoas, em 2030. Esse aumento vai ampliar o consumo interno e compensar uma possível queda nas exportações”, avalia.

Além disso, ele prevê que investidores chineses, que acumularam capital ao longo dos últimos anos, deverão buscar a diversificação de seus investimentos e terão a América Latina, os Estados Unidos e a Europa no foco. O Haitong espera intermediar essas operações.

“Os chineses vão começar a internacionalizar os ativos e investir em fundos de pensão e fundos de investimento, não apenas em infraestrutura”, diz o executivo português. A aproximação entre os dois países também prevê a possibilidade de que o banco faça a ponte entre empresas brasileiras de capital aberto que querem negociar suas ações na bolsa de Shangai e companhias chinesas que querem ter seus papéis negociados na bolsa de valores brasileira.

Os planos são ambiciosos e o Haitong almeja estar entre os participantes mais importantes do Brasil. Além da vantagem de pertencer ao segundo maior conglomerado chinês, o banco fará uma campanha de marketing para reforçar sua marca no mercado brasileiro. A primeira fase da campanha começou em setembro e deve durar três meses.

A proposta é usar uma ponte como símbolo dessa campanha, mostrando a ligação entre uma das maiores economias do mundo e o país líder da América Latina.

Por enquanto, no entanto, o que o Haitong tem nas mãos é a herança do antigo controle do Besi, que terminou o primeiro semestre com um lucro de R$ 2,2 milhões, quase 12 vezes menor que o reportado em igual período de 2014. O resultado foi afetado por receitas menores e um maior volume de despesas financeiras e de provisões.

O Besi foi comprado em dezembro pelo Haitong International Holdings, que ficou com 80% do controle da instituição no Brasil. Os outros 20% permanecem nas mãos do Bradesco e não há planos para que essa parceria seja desfeita. O Haitong adquiriu o controle das mãos do Novo Banco, instituição financeira que foi criada com os ativos saudáveis do Banco Espírito Santo (BES), após seu colapso e a intervenção do Banco de Portugal.

O Grupo Espírito Santo, ex-controlador do banco, está em processo de reestruturação para levantar recursos para pagar seus credores. O grupo colocou ativos não financeiros à venda, inclusive no Brasil, como participações que detinha em empresas como a Monteiro Aranha e a Brazil Hospitality Group (BHG). A perspectiva é encerrar o processo de venda desses ativos no país até o fim de 2016. Valor Econômico – SP Leia mais em sbvc 06/10/2015

07 outubro 2015



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