A chance de haver uma oferta pública de ações neste ano no Brasil, num quadro de recessão, instabilidade política, volatilidade dos mercados e perda do grau de investimento é zero. Mas isso não significa necessariamente que a bolsa não terá novas empresas negociando ações em seu pregão nos próximos meses.
Alguns bancos de investimento estão encubando operações de ofertas de ações, mas via esforços restritos - em que limita-se o número de investidores que podem comprar o ativo.
Há um ano, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) permitiu esse tipo de estrutura, já muito usada para debêntures, também para a venda de ações. Nesse desenho, a oferta não é registrada na autarquia e um ponto principal é que pode ser concluída mais rapidamente do que uma operação pública. No Brasil, no máximo 70 investidores podem ser visitados e até 50 entram efetivamente na operação. A oferta não é direcionada ao varejo, apenas ao aplicador qualificado, aquele que tem pelo menos R$ 1 milhão em investimentos. Isso elimina, por exemplo, a necessidade do calhamaço do prospecto da distribuição.
A captação pode ser feita em uma semana e esse procedimento passou a ser alternativa para que negociações privadas entre empresas e investidores com perfil de longo prazo resultem em novas companhias na bolsa.
O Valor apurou que o Credit Suisse vem se dedicando a esse tipo de operação. A concretização de ofertas do gênero teria potencial de povoar o Bovespa Mais, mercado de acesso da bolsa paulista. Como esse tipo de oferta prevê o ingresso de poucos investidores, a empresa que a fizer não terá condições de atender às regras de dispersão do Novo Mercado. Sendo assim, se quiser um selo de governança da BM&FBovespa, a única opção é o Bovespa Mais.
As possíveis novas ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) são de empresas de médio porte, mas elas poderão abrir o caminho para, no futuro, as pequenas acessarem o mercado. O interesse de um assessor financeiro no segmento era um dos pontos necessários para que decolasse avaliavam especialistas. Credit Suisse e BM&FBovespa não deram entrevista.
O Valor apurou que entre as empresas que estudam ir a mercado por meio dessa estrutura estão a varejista de moda Inbrands, a rede de academias Smartfit e a Ômega Energia Renovável. Nenhuma delas deu entrevista. Companhias que recentemente aderiram ao Bovespa Mais sem fazer captação também são candidatas.
Os possíveis IPOs com esforços restritos serão resultados de negociações privadas e já em andamento que, por alguma razão, interessa às partes listar a empresa na bolsa. "Pode ser porque algum investidor envolvido procura uma companhia aberta, porque se trata de uma nova associação que já quer nascer na bolsa ou porque ficará mais fácil precificar a empresa", diz uma fonte.
Os bancos calculam que esse modelo é viável para captações entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões. E elas não dependem exatamente da recepção do mercado. "Já há previamente acordado alguns investidores dispostos a suportar boa parte da operação. Se houver demanda expressiva do mercado, eles podem ser menos alocados", diz um banqueiro. Mas ainda assim, não é possível dizer que o ambiente de mercado não interfere nessas operações. "O mercado sempre vai dar o contorno da operação. Os investidores vão usar as empresas do mesmo setor como um referencial de preço, por exemplo, ou para avaliar o potencial do negócio", explica um executivo de banco de investimento. "Mas são operações que podem vir a ter um impacto menor do momento do mercado."
A perda do grau de investimento do Brasil pela Standard & Poor's não tem impacto relevante para essa tese, avaliam fontes. "O rebaixamento da nota brasileira já estava no horizonte de quem negociava essas operações. Talvez não se esperasse o anúncio agora, mas o preço dos ativos já levava isso em consideração, como mostrou o próprio comportamento da bolsa", diz Carlos Lobo, sócio do Veirano Advogados.
Um executivo de banco pondera que a notícia da S&P pode abrir novas negociações de preço se algum segmento se mostrar mais afetado. "Dá mais poder de negociação para o comprador, mas certamente não inviabiliza nenhum negócio", diz. Por outro lado, se o anúncio da S&P resultar em medidas mais concretas do governo, poderá até mesmo ajudar a clarear o cenário.
Lobo observa que o investidor que deverá ancorar essas ofertas é aquele menos preocupado com liquidez e o curto prazo.
"Para ele é interessante entrar numa companhia aberta, pois ele espera ganhos de governança e de transparência. Oferecer isso possibilita a empresa negociar um desconto menor do que teria de conceder se fosse uma negociação privada", afirma Lobo.
Vanessa Fiusa, sócia do escritório Mattos Filho, afirma que os bancos tendem a procurar investidores no Brasil para suportar essas operações, uma vez que notícias como a da S&P podem ter um peso maior para o investidor externo. Vanessa lembra que o BNDES, que tem estimulado a adesão de pequenas e médias à bolsa, também deverá participar das operações. Leia mais em Veirano 14/09/2015
15 setembro 2015
Oferta de ações restrita é opção para novatas na bolsa
terça-feira, setembro 15, 2015
Compra de empresa, Investimentos, IPO, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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