25 julho 2011

Como aprender a fazer negócios

Os negócios são cada vez mais globais; a lista das maiores empresas do mundo comprova isso.

NÃO ESPERAVA por uma resposta tão direta e franca quando perguntei ao professor Nitin Nohria, diretor da Escola de Negócios em Harvard, o motivo de sua viagem ao Brasil no próximo mês e ele disse que era uma questão de sobrevivência.

Sobrevivência daquela que é considerada, em vários rankings internacionais, a melhor escola de negócios do mundo, responsável há muitas décadas pela formação da elite empresarial norte-americana e cujas pesquisas estão no currículo da imensa maioria das faculdades de administração do planeta. É uma instituição que, por causa de seus influentes alunos, tem um fundo de quase R$ 4 bilhões.

No século 21, os negócios são cada vez mais globais e menos "americocêntricos". Para comprovar isso, basta ver as mudanças na lista das maiores empresas do mundo. "Para continuarmos na vanguarda, temos de ir para onde os negócios vão."
O próprio Nitin, especializado em estudo sobre lideranças e mudanças organizacionais, é exemplo dessa reviravolta. Indiano, autor de estudos que o levaram a viajar a mais de 50 países, ele é o primeiro professor nascido fora do Ocidente a ocupar a direção da faculdade.

Por que, afinal, uma viagem ao Brasil tem a ver com a sobrevivência daquela escola? Na resposta, você verá como se molda a educação de excelência no século 21.

Para Nitin, uma das principais razões de sua faculdade se destacar é a qualidade dos alunos. O Brasil é, hoje, segundo ele, um dos cinco mais importantes países a serem acompanhados por quem estuda o futuro dos negócios.
"Queremos sempre atrair os melhores alunos de cada país, capazes de empreender e inovar. Podemos estar nos Estados Unidos, mas temos de ser radicalmente globais para nos mantermos inovadores."

Esse ambiente cria um círculo virtuoso. Para ele, a escola poderia adotar o slogan informal de Nova York, cantado por Frank Sinatra ("If you make it there, I"ll make it everywhere"), ou seja, se você se dá bem ali, o mundo vai abrir as portas para você. Há um processo permanente de estímulo à competição, com a apresentação de projetos e planos de negócio dos estudantes.

Neste ano, aliás, eles estão inaugurando uma incubadora-modelo, reunindo professores, pesquisadores e alunos das mais diversas áreas, da medicina à engenharia, para trabalharem juntos. O projeto, nascido dentro de uma antiga estação de televisão, foi batizado de HI (Harvard Innovation).

A tendência histórica, na visão de Nitin, é as nações emergentes terem escolas de negócios cada vez melhores. Vejam como, na área de ensino de negócios, cresce o prestígio internacional de instituições como a Fundação Dom Cabral, a Fundação Getulio Vargas e o Insper.

Como as aulas são baseadas em casos concretos de sucessos ou fracassos empresariais, ter alunos brilhantes e provocativos produz visões criativas. Trabalha-se, portanto, em cima de um problema, ou seja, de um desafio. "Isso significa que temos de ter um contato próximo com o Brasil para ter mais casos de vocês levados aos alunos". Já são 198 casos nacionais estudados em sala de aula. "Quantas informações universais não se podem extrair da Natura?" Aqui entra o desafio de tentar navegar no excesso de informação e selecionar o que seria o essencial. "Para ser franco, ainda não sei se estamos lidando bem com o desafio do excesso informação. Temos de acompanhar a velocidade extraordinária da inovação, mas conseguir captar o que é relevante."

Uma das riquezas da escola é saber escolher e relatar bem esses casos explorados. É aí que entra o papel decisivo do que Nitin chama de professor-empreendedor. "Nossos professores não apenas têm paixão por ensinar mas também são empreendedores no sentido de que não param de pesquisar e de trazer novos olhares e desafios".

Para completar o círculo virtuoso, a faculdade promove conversas reservadas dos alunos (não podem ser divulgadas) com as melhores cabeças de negócios do mundo para falar de suas experiências. Em geral, são conversas francas, em que os autoelogios são menos importantes do que o aprendizado com os erros. "Tenho de pensar na educação dos próximos cem anos. Focar os Estados Unidos nos deixará obsoletos." E aí o caminho é fazer do mundo a melhor escola. Aliás, isso é apenas a continuação do que Nitin faz em sua própria vida -afinal, ele, além das pesquisas que realizou em 50 países, já morou em cidades como Calcutá, Mubai, Nova Déli, Londres e Boston, quase sempre se mudando para estudar.

PS- Uma lição: apesar de ser considerada a melhor do mundo, a Escola de Negócios de Harvard comporta-se com a humildade pragmática de quem sabe que tem muito a aprender. Não é o que vejo em muitos de nossos reitores, aparentemente satisfeitos. Fui criticado por todos os lados só porque disse que a Faculdade de Direito da USP, apesar de estar em primeiro lugar, deveria sentir-se envergonhada com o fato de que cerca de 40% de seus alunos não foram aprovados no exame da OAB. GILBERTO DIMENSTEIN
Fonte: FolhadeSão Paulo25/07/2011

25 julho 2011



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