A bolsa brasileira B3 quer modificar o mercado de acesso para pequenas e médias empresas, o chamado Bovespa Mais. Após 13 anos, a B3 chegou à mesma conclusão que parte dos empresários e investidores já tinha chegado: o segmento não engrenou no modelo formulado e precisa ser transformado.
Não se trata, portanto, de abrir mão de ter um mercado de acesso, mas sim torná-lo mais atrativo.
O que está em estudo na B3, segundo o Valor apurou, é eliminar algumas exigências criadas para o Bovespa Mais, que acabaram mais repelindo do que atraindo os empresários. Hoje, por exemplo, o mercado de acesso exige que a empresa tenha conselheiros independentes, assim como estabelece o prazo de até sete anos para fazer oferta pública inicial de ações (IPO) com 25% do capital em circulação. "A proposta não é impor uma regra, mas deixar que o investidor a imponha", explica um executivo do mercado que participa das discussões.
O parâmetro é a Bolsa de Londres (LSE), com o modelo de "nominated advisers" (ou simplesmente "nomads", na abreviação), em que assessores financeiros acompanham a empresa por anos para prepará-la para a bolsa e também após a listagem. O segmento de acesso da LSE, batizado de Alternative Investment Market (AIM), foi criado em 1995 e já teve mais de 3,6 mil listagens.
Atualmente são cerca de 1,5 mil empresas listadas.
Cada companhia que quer se listar no AIM tem que indicar e manter a contratação de um nomad, que será uma espécie de guia no processo de admissão e na vida da empresa como companhia aberta. Os emissores da AIM não são supervisionados pela Federal Security Autority (FSA) e não registram suas ofertas junto ao regulador. Diferentemente do mercado principal da LSE, as empresas no AIM também não são obrigadas a manter um percentual mínimo de ações em circulação, nem publicar relatórios trimestrais e sobre governança.
A própria LSE define os critérios e supervisiona os nomads, que, por sua vez, assumem o papel de uma espécie de "regulador" primário das empresas.
Entre as exigências para atuar como assessor, estão ter no mínimo dois anos em finanças corporativas, ter participado de ao menos três transações relevantes de mercado de capitais nesse período, além de contar com uma equipe mínima de quatro executivos considerados qualificados.
A bolsa brasileira tem consultado participantes do mercado sobre os possíveis ajustes. Álvaro Gonçalves, sócio da gestora de private equity Stratus, voltada para investimentos em médias empresas, já levou quatro companhias de seu portfólio ao Bovespa Mais. Ele participou, no mercado inglês, das discussões sobre mudanças no AIM quando houve a implementação dos nomads e hoje colabora nas análises dos janeiro da PagSeguro na Nyse e a oferta em preparação da Stone, também no mercado americano.
Para o executivo da Stratus, há ainda uma transformação a ser feita que passa pelos próprios emissores e dos investidores. "Temos uma barreira cultural em relação ao mercado de ações, de maneira geral, não só mercado de acesso. Por um lado, as taxas de juros já não são tão altas há algum tempo, o que deveria ter levado mais investidores para a bolsa", diz Gonçalves. "Do lado das empresas, ter uma regulação mais azeitada pode ajudar, mas o mercado funciona hoje. As empresas precisam olhar para a bolsa entendendo que ali tem uma fonte de financiamento que pode ser mais barato e saudável do que com empréstimo bancário." - Valor Econômico Leia mais em portal.newsmet 18/09/2018
18 setembro 2018
Bolsa prepara mudanças no mercado de acesso
terça-feira, setembro 18, 2018
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Ruy Moura
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