05 agosto 2019

Investidor deve analisar cenário de companhias no longo prazo

Adotar perspectiva mais abrangente sobre cada setor evita enganos com resultados que podem não ser sustentáveis

Se por um lado a divulgação de balanços ajuda o mercado a avaliar suas posições em relação às empresas, especialistas aconselham o investidor iniciante a não tomar decisões só com base na receita e lucro das instituições. "O passado ajuda a dar uma informação boa de como pode ser o futuro. Mas não basta achar que a empresa está sozinha", diz o professor de finanças da FEA-USP, Keyler Rocha. Para ele, é essencial que o investidor aprenda a analisar o contexto em que as empresas estão inseridas e as perspectivas dos setores em que querem investir. Como se fossem, de fato, abrir um novo negócio.

Além disso, uma análise dos números das empresas, somada à comparação de como evoluíram, pode dar ao investidor informações mais sofisticadas para tomar decisões. "Precisa analisar como a empresa cresceu. Seu endividamento aumentou? O investidor precisa ver qual é a estratégia da companhia", diz a professora de finanças da Fundação Dom Cabral, Virgínia de Oliveira.

A seguir, os principais trechos de entrevistas com professores da USP e da Fundação Dom Cabral sobre o assunto.

'Todo dia é dia de decisão no mercado'

Keyler Carvalho Rocha, professor de finanças da FEA-USP

O período de balanços é hora de fazer avaliações ou de tomar decisões?
Todo dia é dia de tomar decisão no mercado. Para quem está com recurso disponível, a melhor alternativa para prazos de um ou dois anos é a Bolsa. A Bolsa subiu, mas ainda tem muito a subir se as coisas derem certo. Agora, o negócio é diversificar, não ficar em 100% na Bolsa. E o recurso aplicado, esquece, deixa lá. Você só pode mudar de uma ação para outra. Esse é o jogo. Não é ficar comprando, vendendo e saindo.

Como o olhar para o passado dos balanços ajuda o investidor?
O passado ajuda a dar uma informação boa de como pode ser o futuro. Outros fatores também influenciam, como crescimento da renda, redução de tributos. Não basta achar que a empresa está sozinha. É como montar um negócio próprio. Há mercado para esse negócio? Como está esse mercado?

Como avaliar os setores?
Por exemplo, a guerra comercial provoca efeitos. Sem um acordo com os EUA, a China vai diminuir exportações. Isso vai prejudicar o Brasil, porque somos exportadores de matéria-prima. É um aspecto que o investidor precisa analisar. Se for o setor financeiro, por exemplo, tem outras questões para pensar, como as fintechs. Elas atrapalham o sistema bancário? Se caem os juros, isso pode atrapalhar o sistema bancário? Então talvez não seja tão atrativo comprar agora uma ação de banco.

A queda dos juros atrapalha o sistema bancário?
Atrapalha a rentabilidade. Os bancos têm de baixar juros e os rendimentos de aplicações que essas instituições fazem em títulos do governo também caem. Não estou dizendo que isso é fato, sempre tem de analisar. Os bancos digitais, que podem mudar o mercado, são opções, mas carregam risco. Enquanto grandes bancos continuam boa alternativa porque passam a ter um mercado com menos risco, o que compensa juros mais baixos. Além de não quebrarem.

O segredos nas entrelinhas dos balanços
Virginia de Oliveira, professora da Fundação Dom Cabral

Em que o investidor deve prestar mais atenção nesse período?
As pessoas em geral olham a receita e o lucro, mas é preciso saber de onde veio essa receita. Se é operacional ou se veio da venda de algum ativo da empresa. Quando é venda de ativos, não é recorrente, não tem sustentação para o futuro. O investidor também precisa comparar como a empresa estava antes e como está agora. Ela pode ter lucro e não ser capaz de pagar o capital empregado no negócio.

Como isso pode acontecer?
Para funcionar, a empresa assume dívidas com acionistas, bancos e outras instituições. Nem sempre o lucro é suficiente para remunerar esse capital e o investidor precisa ver qual é a estratégia do futuro. A dívida é boa até certo ponto, mas não acima do que o mercado assimila.

O que é uma dívida acima do que o mercado assimila?
Com mais de 70% de dívida em relação ao patrimônio, o mercado já olha a empresa mais receoso. Talvez a empresa esteja habituada àquele nível de endividamento. De qualquer modo, é preciso avaliar se o endividamento cresceu rapidamente.

Como selecionar as empresas para fazer esse acompanhamento mais detalhado?
É importante olhar o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Às vezes o Ebitda é alto e o lucro é baixo porque a parte financeira não está bem ajustada. Mas isso o gestor pode melhorar, analisar a parte tributária, trocar financiamentos. A operação (comprar, vender, pagar) é o que gira o negócio. Uma boa saída é comparar esses números com o mesmo trimestre de anos anteriores.

Que setores a sra. destaca?
Setores como o de equipamentos das empresas dependem muito do aquecimento da economia. Enquanto não tiver essa expectativa fica patinando. Os ligados ao consumo conseguem ajustar mais a oferta, têm mais controle para estocar, comprar menos e trabalhar prazo de pagamento. Setores que conseguem decisões de curto prazo com mais efeito são sempre bons.. Esrtadao Leia mais em terra 05/08/2019

05 agosto 2019



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