05 agosto 2019

Queda de aquisições impacta receita

Se o volume de ofertas de ações tomou ritmo nos sete primeiros meses do ano e ocupou os bancos de investimento, o mesmo ainda não se pode dizer das demais atividades de mercado de capitais no país.

Conforme levantamento da consultoria Dealogic a pedido do Valor, houve desaceleração nas receitas de fusões e aquisições (M&A), dívida e financiamentos, que se refletiram na queda de 4,9% no total de comissões dos bancos no período - somando US$ 509,3 milhões (correspondente a R$ 1,96 bilhão).

O volume financeiro de transações de M&A envolvendo empresas brasileiras somou US$ 24,59 bilhões de janeiro a julho (R$ 95 bilhões), queda de 27% em relação ao mesmo período de 2018. Nem mesmo a venda da TAG pela Petrobras para a Engie por US$ 8,6 bilhões ajudou a segurar os números. A base comparativa é forte, afinal no início do ano passado houve a megaoperação de fusão da Fibria e da Suzano e a venda da Eletropaulo para a Enel.

Mas o número de operações envolvendo empresas ou ativos brasileiros também caiu: de 230 para 195, conforme a Dealogic. "A atividade de M&A foi mais fraca no início do ano, mas está voltando a acontecer. Esse tipo de negócio depende muito de confiança [na economia]", diz Hans Lin, chefe do banco de investimento do Bank of America, que lidera o ranking geral de desempenho no período.

Os bancos ponderam que as atividades de mercado de capitais, como ações e dívida, são mais rápidas de estruturar e acontecem sob expectativas, enquanto uma aquisição ou fusão depende mais de dados concretos e tem tempo de maturação. Assim, enquanto o andamento da discussão da reforma da Previdência já ajudava bolsa e dívida, só a aprovação na primeira fase fez M&A começar a andar.

"Ofertas de ações levam de três a seis meses entre começar e terminar, mas em M&A falamos de 12 meses", diz Roderick Greenlees, chefe global de banco de investimento do Itaú BBA.

O menor volume de empréstimos sindicalizados por parte dessas instituições está diretamente atrelado ao M&A - uma vez que o maior volume de atividade vinha sendo justamente para financiar operações de compra e venda de companhias.

Para a segunda metade do ano, os bancos esperam um volume mais relevante. "O maior M&A do ano vai ser a cessão onerosa", diz Alessandro Zema, presidente do Morgan Stanley, referindo-se ao mercado de óleo e gás.

Agendado para novembro, o megaleilão do excedente de produção do pré-sal deve girar R$ 106 bilhões, segundo o governo. Apesar de ser via leilão, cada interessado contrata um assessor financeiro para participar da rodada, cujo edital será publicado em setembro. Os bancos também esperam maior atividade com o andamento das privatizações.

O único segmento em que as receitas cresceram foi o de coordenação de ofertas de ações. O número de operações foi cinco vezes maior no período e a diferença no caixa dos bancos só não foi ainda maior porque, no ano passado, contabilizaram comissões em dólares de grandes emissões em bolsas internacionais.

Além disso, há uma participação relevante no montante deste ano de operações cujo contratante é estatal - e as taxas que pagam são menores. "É natural que estatais sejam mais sensíveis a preço. De qualquer forma, quanto maior a oferta, menor o percentual de remuneração dos bancos", diz um executivo de banco. "Isso também acontece em M&A que envolve estatais, em que a remuneração também é menor", complementa outro banqueiro.

Na oferta da resseguradora IRB, que tinha Tesouro e Banco do Brasil como vendedores, a comissão era 0,75% da oferta e igual percentual de taxa de incentivo - que foi zerada por conta de um desentendimento entre o sindicato e acionistas vendedores. Na BR Distribuidora, o fee base foi de 1,2% e, na Petrobras, de 1,35% (ambas com mesmo percentual de incentivo). A média de follow-on costuma ficar em 2%. "Não vejo grande diferença nos percentuais, mas talvez uma participação de um número maior de bancos em operações de governo", diz Greenlees.

Já o volume de emissões de dívida local foi alto neste começo de ano, mas a participação de emissões corporativas externas foi menor - o que fez com que as comissões totais, em dólares, caíssem. Jornalista: Maria Luíza Filgueiras Fonte:Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 05/08/2019



05 agosto 2019



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