31 janeiro 2016

Eldorado Brasil se prepara para IPO ou emissão após resultado forte em 2015

A Eldorado Brasil, fabricante de celulose do grupo J&F, está se preparando para ir ao mercado de dívida ou de ações nos próximos meses se as condições forem favoráveis, com o objetivo de melhorar seu perfil de dívida ao mesmo tempo em que mira um aumento de capital e orquestra financiamento bilionário para seu projeto de expansão.

A companhia divulgou nesta terça-feira lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 1,87 bilhão de reais em 2015 depois de três anos de início de operação e conseguiu reduzir a relação dívida líquida sobre Ebitda em dólares para 3,7 vezes ao fim do ano passado, ante 7,9 vezes no quarto trimestre de 2014.

Com isso, o presidente da Eldorado, José Carlos Grubisich, acredita que o mercado de dívida "certamente" estará disponível neste ano para a empresa, disse o executivo à Reuters. Uma listagem na Bovespa também poderia ser um caminho, apesar da incerteza que pesa atualmente sobre o mercado acionário -- desde 2015, houve apenas uma abertura de capital na bolsa brasileira, da Par Corretora.

"Na nossa visão, liquidez (no mercado) não é o problema hoje e as taxas de juros no mundo estão baixas. O dinheiro não está sendo colocado para trabalhar por conta de uma percepção de risco. Mas a empresa é exportadora, tem baixo custo de produção, projeto de expansão sendo executado e vai ter rating muito favorável no momento certo", disse Grubisich.

Para ele, a Eldorado também é favorecida pelo câmbio e pela política de hedge conservadora. Além disso, uma colocação no mercado de capitais seria endereçada sobretudo ao investidor do exterior, onde o mercado vai melhor que o brasileiro.

A lógica de uma operação seria reduzir custo e alongar a dívida, não financiar a ampliação da fábrica em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Atualmente, a dívida líquida da Eldorado está em cerca de 7,9 bilhões de reais.

Uma decisão de ir a mercado ainda não foi tomada, mas, segundo o executivo, a prioridade agora é deixar a companhia pronta do ponto de vista regulatório e de qualidade de suas contas para aproveitar momento mais favorável dos mercados, algo que pode ocorrer nos próximos meses. "Estamos trabalhando na preparação de um 'info memo' com dados. Nunca sabemos quando o mercado vai estar pronto", disse Grubisich.

Já para financiar o projeto de expansão, de cerca de 8 bilhões de reais, a empresa discute uma operação de aumento de capital de 3 bilhões a 3,5 bilhões de reais, que poderia ocorrer por uma capitalização pelos sócios atuais ou uma colocação privada. Além disso, a Eldorado prevê obter de 5,5 bilhões a 6 bilhões de reais em linhas de financiamento.

Há discussões em andamento com agências de crédito de exportação sobre linhas quem poderiam ir até 700 milhões de dólares; financiamento de 1,2 bilhão a 1,5 bilhão de reais do FI-FGTS para a parte ligada a saneamento, energia e logística e de cerca de 1,5 bilhão reais em discussão em curso com o Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO). Uma participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também é discutida.

A expansão vai aumentar a capacidade de produção de celulose da Eldorado de 1,7 milhão de toneladas por ano para até 4 milhões de toneladas por ano, com a nova linha começando a operar em 2018.

O presidente da Eldorado pontuou que a empresa terminou 2015 com quase 1,5 bilhão de reais em caixa, suficiente para financiar a companhia ao longo de 2016. A geração de caixa da empresa é suficiente para o investimento preparatório até setembro ou outubro, quando deve tomar a decisão de compra dos principais equipamentos da expansão.

Para este ano, a empresa trabalha com previsão de receita líquida de 1 bilhão de dólares.

"A gente acha que a Eldorado está bem posicionada para todas as opções. Os bancos estão batendo na nossa porta toda semana", disse Grubisich, acrescentando que muitos investidores estrangeiros, como fundos com interesse na área florestal e investidores que querem ser parceiros acionários de longo prazo da companhia. "Esse tipo de investidor tem procurado a Eldorado para entender (a companhia), mas não tem nenhuma conversa em andamento."

CONSOLIDAÇÃO

Sobre eventuais movimentos de fusão e aquisição no setor de celulose no Brasil, a Eldorado se posiciona atualmente muito mais como possível compradora do que vendedora, disse Grubisich.

"No Brasil, as empresas são controladas por famílias, não tem aquisição hostil neste setor, toda estratégia tem que ser amigável", disse o executivo.

"Hoje não parece que tem nenhum acionista controlador de Suzano, Fibria e Klabin disposto a vender, mas se algum amanhã tiver disposição, nos colocamos muito mais no polo comprador do que no vendedor", afirmou Grubisich. "Hoje não tem ninguém tão rico para pagar prêmio e nem tão pobre a ponto de precisar vender", acrescentou.

No ano passado, reportagem da revista Exame disse que o grupo J&F, dono da Eldorado, estaria negociando a compra da Fibria, controlada pela família Ermírio de Moraes e pelo BNDES.

Para o presidente da Eldorado, uma combinação com a Fibria, que também tem fábrica em Três Lagoas, faria sentido, e a Eldorado poderia trazer outra abordagem estratégica, mas não existe nada de concreto em andamento, afirmou.

PREÇOS CHINESES

Sobre os preços de celulose em dólares na China, Grubisich disse que em dezembro foi registrada ligeira queda, depois de estabilidade em outubro e novembro e de pequeno aumento em setembro. A Ásia é o maior mercado da Eldorado, com 43 por cento do volume de venda de exportação.

Os compradores chineses têm buscado menores preços por conta da previsão de entrada de novas capacidades de produção no mercado neste ano, como a de Klabin e da Asia Pulp & Paper (APP) na Indonésia, além do período de menor atividade em fevereiro, devido ao Ano Novo Chinês, disse o executivo. Mas o entendimento do setor é de que a demanda não caiu.

"Vamos ter que esperar a volta do Ano Novo chinês para ver como está o equilíbrio de oferta e demanda. Acreditamos que a demanda continua forte, o mundo vai continuar precisando de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas de capacidade nova a cada um ano, um ano e meio", disse   Por Priscila Jordão  (Reportagem  adicional de Guillermo Parra-Bernal e Tatiana Bautzer) Leia mais em dci 26/01/2016

31 janeiro 2016



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