19 outubro 2015

De volta para o futuro de 2008

A sete anos atrás estávamos vivendo o apogeu de uma grande crise financeira global. Há exatamente sete anos - out/2008 - postávamos neste blog texto sob o titulo  "Horizonte das operações de M&A” destacando 9 fatores relevantes que iriam influenciar  as  futuras operações de Fusões & Aquisições no mercado brasileiro. A relação  não esgotava o assunto, simplesmente evidenciava algumas ações que já estavam ocorrendo.

Estas duas datas, 2008 e 2015, tem em comum o fim de um período de bons tempos do otimismo nas operações de M&A no Brasil, e o inicio de um novo ciclo de dúvidas e ceticismo.

Comparando os cenários nos respectivos anos, merecem ser ressaltados dois pontos que não existiam em 2008. As investigações da Operação Lava Jato e a crise política brasileira. Tais fatos estão contribuindo fortemente para as estimativas dos números estratosféricos de desinvestimentos que irão ocorrer  "Com crise, R$ 150 bi em ativos estão à venda no país” . Vale lembrar que  os montantes dos negócios realizados em 2014, foram estimados em cerca de  R$ 242 bilhões, Fusões e Aquisições: 733 transações realizadas em 2014. 

Vamos aos 9 pontos destacados  no texto Horizonte das operações de M&A, de 2008:

1. As grandes operações de M&A serão postergadas - Por conta das incertezas, particularmente do impacto de eventuais restrições de crédito a taxas atrativas, os planos de crescimento agressivos que implicam em desembolsos elevados no curto prazo poderão ser suspensos ou adiados alguns meses devido à falta de crédito.
2. Crescimento das participações de Fundos de Private Equity – Os Fundos deverão aumentar sua representatividade no processo e ser um relevante parceiro fora do mercado de capitais para investimentos de longo prazo em empresas de capital fechado.
3. Redução do número de IPO’s - Mesmo que em 2008 praticamente não ocorreram operações de abertura de capital, havia, contudo, expectativas por parte de várias empresas que estavam se preparando para ir ao mercado. Um adiamento do processo de cerca de um a dois anos, até os mercados voltarem ao normal é inevitável. O foco das aquisições será preponderantemente com recursos do mercado doméstico.
4. Valuation – múltiplos menores - Comparativamente, os múltiplos praticados até recentemente sofrerão alguma redução por conta da redução da liquidez e da retração do número das empresas consolidadoras.
5. Redução das operações alavancadas - As operações de crédito alavancadas ficarão mais difíceis e as condições mais restritivas (covenants).
6. Participação maior para Earnouts - Nos casos em que o preço de aquisição é composto por parcela de pagamento no fechamento e parcela(s) dependentes de cumprimento de metas e indicadores de desempenho por parte dos gestores (earnout), esta última passa a ter maior peso.
7. Alongamento dos prazos pagamentos - Possivelmente haverá negociações para ampliar ao prazo de pagamento da aquisição e, principalmente, redução do valor da primeira parcela “cash”.
8. Due diligence mais demorada e rigorosa - Como forma de mitigar eventuais riscos de uma diligência mais expedita, os compradores serão mais rigorosos, principalmente em relação às contingências e seus respectivos desencaixes financeiros.
9. Consolidação entre grupos intermediários – limitações de crédito e difícil acesso ao mercado de capitais farão que empresas de porte médio, que tenham competências em mercado em crescimento poderão aproveitar economias de escala mediante fusões entre elas.

Relembrando um pouco mais da história,  interessante coincidência  entre dois pontos de vista a respeito das crises de 2008 e 2015:
O primeiro, noticiado em out/2008, do presidente da Vale, Roger Agnelli, na visão de comprador de empresas, e publicado no post deste blog sob o titulo Opções "baratas" daqui para frente -  em que afirma "Vamos ter, pelo menos, seis meses de um ajuste fortíssimo em todos os mercados. Isso nós estamos absolutamente conscientes", disse, acrescentando que "a crise é profunda, dura, fortíssima e quem não estava preparado vai ser expulso do mercado". "E quem se preparou direitinho para a crise vai poder ter muitas oportunidades pela frente", avisou ele, que avalia que haverá opções "baratas" daqui para frente.

O segundo ponto de vista, dito em set/2015, pelo diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto
"Vamos entregar as companhias brasileiras de bandeja, diz Edemir” .  A perda do grau de investimento pelo Brasil torna todas as empresas brasileiras mais vulneráveis e mais frágeis, não apenas do ponto de vista financeiro, mas porque o valor de mercado das companhias "caiu dramaticamente. Isso significa que vamos entregar as companhias brasileiras de bandeja para quem está de fora. O preço das empresas está na bacia das almas”.
Vale lembrar que o Brasil deu o primeiro passo na conquista de grau de investimento em abril de 2008, com a classificação da Standard & Poor.
E o único IPO realizado em 2015 foi o da FPC Par Corretora de Seguros, captando apenas 1% do montante realizado em 2007.

Referenciando as previsões antecipadas pelo filme "De Volta Para o Futuro" - que comemora 30 anos nesta semana,  o mercado de fusões e aquisições continuará bastante ativo. Possivelmente quebrando recordes tanto em número de transações  como em valores dos investimentos realizados.  Vamos aguardar. Autor Ruy Moura - fusoesaquisicoes.blogspot.com.br


19 outubro 2015



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