12 março 2013

Bancos procuram 'nova Natura'

Procuram-se empresas com alto potencial de crescimento, atuação voltada ao mercado interno e previsibilidade na geração de receitas para fazer oferta inicial de ações. Os candidatos devem ter gestão profissionalizada, boas práticas de governança corporativa e balanços devidamente auditados.

 O aviso acima é fictício, mas corresponde ao perfil das companhias prospectadas pelos bancos de investimentos para levar à bolsa. A tarefa de buscar novidades nos quatro cantos do país tem sido intensa num momento em que os investidores têm interesse em comprar ativos brasileiros, mas se queixam de que faltam boas opções.

 "Todo mundo está tentando encontrar a nova Natura ou a nova Qualicorp [empresa de planos de saúde]", afirma Fabio Resegue, chefe de distribuição de renda variável do Bank of America Merrill Lynch (BofA) para a América Latina, em referência a duas ofertas que foram bem-sucedidas quando lançadas.

 Alguns nomes são velhos conhecidos na lista de desejos dos investidores. A fabricante de cosméticos O Boticário e a alimentícia Bauducco são exemplos de empresas cujas ofertas de ações são esperadas há anos, mas que até hoje optaram por outros caminhos para se financiar.

 Os bancos de investimentos dizem ter em seu radar uma série de companhias - várias delas, pouco conhecidas - que reúnem as características buscadas pelos investidores. A maior parte são casos de empresas que se beneficiam da expansão da renda da população brasileira. "São histórias relacionadas à dinâmica da economia doméstica", afirma Fábio Nazari, chefe de mercado de capitais do BTG Pactual.

Por isso, companhias de educação, saúde, alguns segmentos do varejo, serviços financeiros e tecnologia são frequentemente apontados como candidatas em potencial. "Quem compra Brasil hoje quer comprar essas histórias de crescimento", diz Nazari.

 A bem-sucedida oferta inicial de ações da Linx, primeira operação realizada neste ano, é uma amostra desse perfil. A companhia, que desenvolve software para redes varejistas, se beneficia da expansão do consumo e tem apresentado crescimento consistente, tanto de forma orgânica quanto por meio de aquisições. A demanda pelas ações da empresa superou em quase 20 vezes a quantidade ofertada, e os papéis foram vendidos no teto da faixa de preço sugerida.

 "Os investidores estavam com um pé atrás, mas voltaram a se animar a colocar dinheiro no Brasil", afirma o presidente do Goldman Sachs no Brasil, Alejandro Vollbrechthausen.

 Se há interesse dos investidores por novos papéis e, ao mesmo tempo, empresas com perfil adequado para ir à bolsa, por que as ofertas de ações não têm saído com maior frequência?

 A resposta está em uma combinação de fatores. É preciso que as ações ofertadas sejam as que interessam aos investidores. Que as companhias com boas histórias queiram ir à bolsa. E que o ambiente econômico também dê sua dose de contribuição.

 "Os astros precisam estar alinhados", define o chefe do banco de investimentos do Credit Suisse no Brasil, Allan Libman.

 O fraco desempenho da economia brasileira e as incertezas que dominaram o cenário internacional em 2012 criaram um gargalo no fluxo de ofertas de ações. As turbulências levaram os empresários a frear os preparativos para captar recursos na bolsa e, quando o fluxo de capital internacional começou a voltar ao país, quase ninguém estava pronto para ir a mercado.

 Períodos de desaceleração econômica como o que houve no ano passado geram, naturalmente, uma "inércia" nos empresários em relação a seus planos para fazer ofertas de ações, observa Nazari, do BTG. Mesmo quando as condições melhoram, a retomada não costuma ser imediata porque muitas companhias preferem esperar para ver se as condições se firmam.

 Soma-se o fato de que, hoje, as opções de financiamento disponíveis para as companhias são bem mais amplas que as existentes alguns anos atrás.

 Os últimos anos foram marcados pela chegada, ao Brasil, dos maiores fundos de private equity do mundo. Muitos deles adquiriram participação em empresas que teriam o perfil necessário para ir à bolsa, adiando a estreia de várias dessas companhias no mercado acionário.

 Em paralelo, as emissões de títulos de dívida no mercado local tornaram-se mais acessíveis e conquistaram prazos mais longos. Também se abriu um espaço para captações externas de empresas brasileiras que não têm grau de investimento.

 Fazer uma oferta de ações - e assumir todos os custos financeiros e administrativos que isso implica - tornou-se apenas uma das possibilidades existentes para as empresas bancarem seus projetos de longo prazo.

 "As alternativas à disposição das companhias se ampliaram muito", afirma Renato Ejnisman, diretor do Bradesco BBI. "Os custos de dívida caíram e os prazos se alongaram."  Por Talita Moreira | Valor Econômico
Fonte: clippingmp - 12/03/2013

12 março 2013



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