Muito se fala sobre as limitações do mercado brasileiro de ações. Gestores de portfólio costumam dizer que somente metade das cerca de 450 empresas listadas na BM&FBovespa é considerada em suas estratégias de investimentos. As demais, pelos baixos padrões de governança e falta de transparência das informações, acabam não tendo liquidez alguma.
Poucos, no entanto, percebem a relação que existe entre este cenário de limitação do mercado de ações brasileiro e o recrutamento de executivos. A relação, porém, é fortíssima. Os diretores ou presidentes de empresas, executivos bem sucedidos, sempre tiveram como referencial para suas carreiras as grandes organizações multinacionais, além do mercado financeiro e das empresas de consultoria estratégica. Nesses lugares, seria possível construir as melhores carreiras, além de alcançar status profissional.
Já as empresas de capital nacional de pequeno e médio porte, independentemente de serem ou não listadas, raramente eram alvo desses profissionais, sobretudo entre aqueles que estão com a carreira em ascensão. Ou seja, essas companhias não eram percebidas como uma boa opção de risco e retorno para a carreira dos melhores profissionais. Com isso, as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) deixaram de atrair o principal fluxo de talentos das últimas décadas.
O risco das PMEs estavam associados à percepção de que empresas menores são menos sérias, mais informais, frágeis financeiramente e gerenciadas segundo o humor dos donos - e não necessariamente com base em processos, gestão, análise de cenários. Do ponto de vista do retorno, o ponto crucial era a remuneração abaixo da média, além de benefícios pouco atraentes. Historicamente, nas empresas nacionais, a remuneração anual do executivo chegava a ser 40% menor do que a ofertada pelas multinacionais.
E justamente a falta de interesse dos melhores executivos por esse tipo de empresa tem sido um limitador importante para o crescimento do mercado de ações brasileiro. Empresas menos estruturadas deixam de contar com profissionais altamente capacitados para garantir uma gestão mais eficiente, bons resultados e, consequentemente, maior acesso a capital para alavancar o negócio.
No entanto, essa realidade está mudando. Com o desenvolvimento da nossa economia - apesar de o Brasil ter sentido os impactos da crise europeia -, o fator que antes era visto como um limitador passa a ser uma grande oportunidade. Com ajuda de capital estrangeiro e de fundos de investimento de olho em negócios promissores, muitas empresas de capital nacional já profissionalizaram a gestão e enxergam o mercado de capitais como destino para o crescimento.
Prova disso é que tem sido cada vez mais comum colocarmos executivos de grandes empresas multinacionais, bancos de investimento e de consultorias estratégicas em empresas familiares, de capital fechado, que estão em processo de profissionalização, com ou sem a participação de um fundo de private equity. Os executivos que aceitam passar por este desafio têm oportunidades únicas de carreira, com a possibilidade de alto ganho financeiro. Tais oportunidades estão relacionadas ao fato de existirem sólidas empresas dentro deste perfil que possuem potencial de crescimento, desde que tenham acesso a capital e talento.
Os ganhos para os executivos, podem ser expressivos e estão, em boa parte, atrelados ao sucesso do plano de estruturação e crescimento da empresa. Por meio de instrumentos de remuneração de longo prazo, como planos de stock options, o executivo é remunerado proporcionalmente pelo aumento do valor do equity da empresa. Nesses planos, um CEO pode receber 2,5% do valor de mercado da empresa e um CFO, 1%.
Por outro lado, é preciso saber que os riscos existem. Em grande parte, eles estão associados à imaturidade da estrutura de governança corporativa das PMEs. Esse é o ponto que pode colocar os executivos em situações delicadas. Eles também devem saber lidar com ambientes menos estruturados, com sistemas e equipes menos qualificadas.
O desenvolvimento das PMEs é um dos pilares para o aumento do mercado de ações no Brasil. Os executivos que souberem avaliar boas oportunidades em empresas menores terão chances de desenvolvimento e de acúmulo de patrimônio que dificilmente outro tipo de carreira oferecerá. Para tanto, mais do que disposição para correr risco, é importante ter maturidade para avaliar todos os aspectos envolvidos nesse tipo de decisão. É fundamental ter capacidade de pensar no longo prazo e estar realmente disposto a arregaçar as mangas e ajudar a construir um novo Brasil. Por BERNARDO CAVOUR, SÓCIO DA FLOW, EMPRESA DE , EXECUTIVE SEARCH,
Fonte: estadao 04/03/2013
04 março 2013
A seleção de executivos e os IPOs
segunda-feira, março 04, 2013
Investimentos, IPO, Plano de Negócio, Transações MA, Valuation
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Ruy Moura
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