26 dezembro 2012

Corretoras têm prejuízos e mercado espera fusões

Número de corretoras encolherá

 Encurraladas por custos crescentes, a maioria das corretoras independentes caminha para fechar 2012 no vermelho. Em um levantamento com as 27 maiores instituições que operam na Bovespa e não são ligadas a grandes bancos, 16 têm prejuízo no ano até setembro. Entre as que estão no azul, só 4 tiveram lucro líquido superior a R$ 1 milhão.

 O ano foi marcado por reestruturações internas e novas estratégias de distribuição de produtos. Para o futuro, o setor coloca na agenda a busca de parceiros para sobreviver. O objetivo é racionalizar e reduzir as despesas fixas, diante das margens menores.

 Edemir Pinto, da BM&F: "As corretoras precisam pensar em consolidação"

 Encurraladas por custos crescentes, a maioria das corretoras de valores independentes caminha para fechar 2012 no vermelho. Este foi um ano de reestruturações internas e novas estratégias de distribuição de produtos, ao estilo casa de investimentos. Com visibilidade ainda nublada, o setor coloca definitivamente na mesa a estratégia de unir forças e buscar algum parceiro para sobreviver. O objetivo é racionalizar as despesas fixas, diante das margens menores.

 Em um levantamento que englobou as 27 maiores corretoras não ligadas a grandes bancos em volume no segmento Bovespa (ações), 16 têm prejuízo no acumulado do ano até setembro. Entre as instituições no azul, apenas quatro conseguiram apurar um lucro líquido superior a R$ 1 milhão. A líder do segmento, a XP Investimentos, teve um ganho de somente R$ 5,043 milhões, cifra que se refere à corretora e não considera as demais frentes de negócios do grupo. "As despesas aumentaram porque dobramos o quadro de funcionários", diz o sócio-fundador Guilherme Benchimol. Além de sofrerem com as consequências da crise na Europa, como a redução no número de ofertas públicas iniciais (IPOs), as corretoras viram cair a receita decorrente da remuneração do dinheiro dos clientes em conta, devido à queda na taxa básica de juros.

 Nesse contexto, é consenso que uma nova fase de consolidação está por vir. Um estudo da consultoria A.T. Kearney em parceria com a consultoria financeira Finenge, duas casas que monitoram esse mercado, aponta que em dois anos o número de corretoras ativas pode encolher para cerca de 30% do atual. Isso indica algo em torno de 25 casas, considerando as 84 hoje autorizadas a operar na bolsa.

 O Programa de Qualificação Operacional (PQO) da BM&FBovespa aumentou as exigências. A certificação envolve a manutenção de equipes bem treinadas e plano de contingência, ou seja, toda a infraestrutura (servidores, banco de dados e links) precisa ser duplicada. Considerando a competição no setor, cuja tendência é agregar ao "home broker" (tela de negociação de ações pela internet) tradicional a vendas de produtos como LCI, CDB e fundos, o investimento pesado em TI se torna obrigatório.

 "As corretoras precisam pensar em consolidação, fusão ou parceria. Não vejo hoje resistência delas em falar sobre isso. Essa será a grande saída para a indústria", diz o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto. A bolsa, a propósito, faz parte de um grupo de estudo para reestruturar o mercado de intermediação de valores no Brasil. O grupo é integrado também pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras (Ancord) e a Cetip. Participam como ouvintes o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

 Silvana Machado, sócia da A.T. Kearney, vê corretoras de maior porte na ponta compradora, mas chama atenção especial para a tendência de fusões entre instituições menores. "Podemos esperar em 2013 duas ou três operações."

 Neste ano, duas operações foram anunciadas. A associação entre as corretoras Prosper e Planner e a aquisição de 100% do controle da Banif pela Caixa Geral de Depósitos (CGD). "Todas as corretoras já foram consultadas para alguma parceria ou consolidação. Além disso, há ao menos três instituições estrangeiras avaliando a entrada no mercado", diz Aleixo Vaquero, sócio da Finenge.

 O estudo da A.T. Kearney aponta como alvos de fusão ou aquisição as corretoras Alpes, Ativa, Concórdia, Gradual, Mirae, Octo, SLW, Socopa, Solidez, Spinelli, Título, Tov, Um Investimentos e Walpires (ver em texto nesta página o posicionamento das corretoras sobre a previsão).

 Embora composta por 84 empresas, o setor tem um alto nível de concentração. Segundo a A.T. Kearney, as cinco maiores corretoras em volume na bolsa respondem por 57% do mercado. Considerando as dez maiores, a fatia é de 71%.

 O desafio na consolidação é encontrar o parceiro ideal. Analisar a situação financeira de uma corretora é difícil e uma das barreiras refere-se às contingências do passivo tributário. Durante a venda de ações da BM&F e da Bovespa que eram detidas pelas corretoras, no processo de desmutualização das bolsas, em 2007, uma parte do ganho obtido não foi tributada. A Receita Federal questiona o imposto referente ao lucro com a venda, alegando que houve devolução de patrimônio das bolsas para as corretoras. Antes, a BM&F e a Bovespa pertenciam às corretoras.

 "A questão ainda está tramitando. Apesar de alguns bancos e corretoras estarem reservando provisões, há espaço para reversão disso na esfera judicial", diz o advogado Celso Costa, sócio das áreas de bancos, seguradoras e mercado financeiro do escritório Machado Meyer. O escritório de advocacia representa mais de dez instituições no caso. Conforme apurou o Valor, dentre as 15 corretoras independentes com maior volume na bolsa, considerando o dinheiro reservado por todas que admitem o risco de derrota nesse imbróglio e divulgam dados ao BC, chega-se a uma cifra de R$ 73 milhões. 

Outra barreira para a consolidação diz respeito à gestão familiar das corretoras, cujos controladores demonstram baixa propensão a abrir mão do controle. Além disso, um negócio faz mais sentido caso o nicho de atuação das envolvidas seja complementar, nota Aleixo, da Finenge. "Por exemplo, uma que trabalha com pessoa física pode se unir a outra focada em derivativos na BM&F."

 Poucas operações se concretizaram neste ano, mas os rumores foram inúmeros. Um deles é de que a Magliano estaria fechando negócio com a Spinelli. Raymundo Magliano Neto, que sucedeu o ex-presidente da bolsa Raymundo Magliano Filho no comando da Magliano, admite que tem conversado com muitas corretoras. A Spinelli é apenas uma delas, diz ele. Nada ainda se concretizou. O problema é a falta de consenso quanto ao que vai acontecer no mercado de ações. "O ideal é uma associação, mas como se associar a outra empresa se uma parte acha que é para investir e a outra não?", diz.

 Entre as corretoras com prejuízo no ano, duas são novatas - a Octo Investimentos, cujas operações tiveram início em meados de 2011, e a Clear, no mercado há apenas sete meses -, de forma que as perdas referem-se basicamente aos investimentos que têm sido realizados. Já na SLW, este foi um ano de "arrumação da casa", nas palavras do presidente Antônio Milano Neto. O prejuízo de mais de R$ 6 milhões até setembro é explicado pelas despesas com demissões e pelos investimentos. Neste ano, a instituição investiu R$ 3,3 milhões em tecnologia e comemorou a conquista do selo PQO.

 A Icap, que tem o maior prejuízo do grupo, diz que os resultados estão melhorando aos poucos e que a companhia, presente em mais de 30 países, segue "firme e forte" no Brasil. "O mercado de pessoas físicas é o filé mignon", diz Paulo Levy, diretor do "home broker".

 A Fator Corretora, por sua vez, acumula um prejuízo de R$ 4 milhões até setembro. Segundo o diretor geral da Fator, Rogelio Gonzalez, houve uma redução de 42% no quadro de funcionários. "O ano que vem não será bom. Será parecido com este, mas ao menos estaremos ajustados e preparados." Por Conrado Mazzoni e Karin Sato Colaborou Aline Cury Zampieri

Fonte: Valor Econômico - 26/12/2012

26 dezembro 2012



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