01 agosto 2017

Investidor recebe com cautela retorno das empresas à Bolsa

O investidor encara com cautela e pouco apetite a risco a volta das empresas à Bolsa de Valores de São Paulo, após três anos de paralisia.

Neste ano, sete companhias lançaram ações na B3 (antiga BM&FBovespa), um salto em relação a um único IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) realizado em 2016. Os anos de 2015 e 2014 também tiveram só uma oferta inicial cada um.

Dessas, cinco saíram perto do piso da faixa de referência de preço ou abaixo dele, ou seja, o intervalo de valores calculado pelos ofertantes foi considerado superestimado pelos investidores.

O momento é de um "otimismo cauteloso, diferente de euforia", segundo Edmar Lopes, presidente do conselho de administração do Ibri (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores). Para ele, a precificação no piso mostra que "o mercado é do comprador, e não do vendedor".

"A confiança está retomando, mas o preço é evidência de que ainda há cautela do investidor. Se ele estivesse eufórico e disposto a pagar qualquer preço, os IPOs sairiam no topo da faixa."

Nesta segunda-feira (31), a resseguradora IRB estreou na B3 com o preço da ação no piso da faixa indicativa e a empresa de energia Omega ficou abaixo do piso.

No mês passado, o varejista Carrefour também concluiu seus IPO no piso da faixa de preço determinada.

Assim como a Omega, a locadora de carros Movida, no início do ano, teve de reduzir o preço dos papéis às vésperas da fixação de preços porque sua estimativa inicial não gerou interesse.

Já a Unidas, também locadora de veículos, e a empresa de tecnologia Tivit preferiram não seguir adiante devido à baixa demanda.

A companhia aérea Azul e a distribuidora de medicamentos Biotoscana estrearam na Bolsa no centro da faixa de preço. A empresa de diagnósticos Hermes Pardini ficou um pouco acima do piso.

O professor de finanças Edgar Abreu, da PUC-RS, diz que, com exceção da Biotoscana, todos os IPOs realizados após a revelação da delação do empresário Joesley Batista —que tornou incerto o futuro do presidente Michel Temer— foram precificados no piso.

"Mais de 50% dos investidores na Bolsa são estrangeiros. A informação de uma delação envolvendo o presidente pesa muito para ele. E há outras empresas na fila para fazer IPO que estão com medo, esperando resolver a incerteza política", diz Abreu.

CUSTO

Outro aspecto dos IPOs recentes é o custo em relação ao valor captado na transação. Estudo da Deloitte aponta que o preço para realizar as três primeiras ofertas públicas de ações do ano até abril (4,9% do valor captado) se equipara ao dos anos de patamares mais altos. O custo da única abertura de capital de 2016 ficou em 3,7%.

Para abrir capital na Bolsa, uma empresa tem de pagar comissões e honorários de advogados, consultores e auditoria externa. O processo é coordenado por instituições financeiras, que geralmente representam os custos individuais mais altos.

Carlos Zanotta, sócio da Deloitte, afirma que o custo sobe quando a empresa entra em compasso de espera para avaliar cenários indefinidos como o que o Brasil enfrenta.

Também reflexo do cenário econômico, alguns dos IPOs atuais se diferenciam da onda de 2007 por buscar melhorar a estrutura de capital das empresas reduzindo o endividamento. Há dez anos, na euforia das aberturas de capital, as estreantes na Bolsa queriam recursos para sustentar seus planos de expansão.

"Hoje, com menos crescimento, o investidor quer mais retorno. A empresa que tem menos divida consegue produzir mais lucro", diz Lopes.  Folha de S.Paulo - Leia mais em abinee.01/08/2017


01 agosto 2017



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