Além de ajudar financeiramente, o investidor-anjo agrega conhecimento e contatos a uma startup para alavancar o negócio
Para crescer, startups contam com diversos tipos de investimento: do pessoal, quando empreendedores utilizam seu próprio dinheiro para começar um negócio, até fundos de venture capital, que investem quantias elevadas de dinheiro e são focados em negócios mais maduros. Entre diversos tipos de investimento existe o investidor-anjo, que entra logo depois da fase inicial da startup, com o objetivo de alavancar o negócio.
O que é um investidor-anjo?
O termo investidor-anjo surgiu na década de 1920 nos teatros da Broadway, em Nova York. Nessa época, alguns empresários que bancavam os altos custos das produções teatrais, apoiavam a execução da peça e participavam de seu retorno financeiro, começaram a ser conhecidos como “anjos”. Hoje, o investidor-anjo é conhecido não só por ajudar financeiramente a empresa, como também por trazer experiência e conhecimento.
Investidores-anjo são pessoas físicas que aplicam o próprio patrimônio – no caso, entre 5 e 10% dele – em empresas de alto potencial de retorno. Sua importância está no fato de que, além de ajudar financeiramente a startup, eles também trazem suas experiências e rede de contatos para auxiliar os negócios. Esse tipo de assistência também é conhecido como smart money, ou seja, dinheiro que vem acompanhado de conhecimento.
O investidor-anjo, além de ajudar uma startup financeiramente, contribui com sua experiência, conhecimento e rede de contatos.
Diferente de incubadoras e aceleradoras, que geralmente são representadas por pessoas jurídicas, os investidores-anjo são pessoas físicas. Além disso, como já falado, sua ação dentro de uma startup não se limita apenas ao financiamento financeiro, mas também envolve mentorias e acompanhamento pessoal aos empreendedores.
Mesmo com a crise, o mercado de investimento-anjo cresceu
Apesar da prática ser difundida em mercados internacionais há décadas, o investimento-anjo ainda é algo novo no Brasil. Porém, segundo a Anjos do Brasil, essa perspectiva está mudando.
De acordo com uma pesquisa divulgada pela instituição, o último ano teve um crescimento de 9% do valor investido por investidores-anjo. Por mais que a evolução seja menor quando comparada a outros anos, ela é considerada positiva uma vez que o cenário econômico e político do país ainda é instável. Além disso, há outros motivos que podem ser atribuídos a esse decréscimo, como a taxa de juros elevada e a falta de estímulos que, quando recorrente, compromete todo o setor.
Potencial é o que não falta no país. Ainda segundo a pesquisa da Anjos do Brasil, enquanto os Estados Unidos investiram US$ 21,3 bilhões e tem 298 mil investidores-anjo, o Brasil ainda está lá atrás. O país investe hoje cerca de R$ 851 milhões, número que equivale a 0,9% da média de investimentos internacionais. Para Cássio Spina, investidor-anjo e fundador da Anjos do Brasil, se o PIB do Brasil equivale a 10% do PIB dos EUA, haveria um potencial total de US$ 2,1 bilhões a R$ 7 bilhões por ano. Ou seja, cerca de 8 vezes o valor investido atualmente.
E a prática tende a crescer ainda mais nos próximos anos
Segundo Fábio Póvoa, investidor-anjo e diretor da Smart Money Venture, a taxa de juros elevada não será mais uma dificuldade em 2018. “Certamente o número de investidores-anjo no Brasil vai crescer com a queda da taxa de juros. Hoje não dá mais para deixar o dinheiro na poupança ou no tesouro direito. E isso está favorecendo as oportunidades de se investir com um certo risco de renda variável”, defende o especialista.
Outro fator que pode fomentar a prática de investimento-anjo é a Lei Complementar 155/2016, publicada no dia 28 de outubro de 2016. A norma presume que o investidor-anjo pode realizar aportes financeiros em microempresas ou empresas de pequeno porte sem que essas contribuições sejam consideradas como capital social das startups ou que sejam contabilizadas para fins de enquadramento como microempresa ou empresa de pequeno porte.
Com a lei, o investidor-anjo não pode ser considerado sócio, em nenhuma hipótese, e não poderá responder por nenhuma dívida da empresa, inclusive no caso de recuperação judicial. Ou seja, a lei protege o investidor-anjo em relação a possíveis passivos que a startup possa ter. Segundo Spina, isso era um grande empecilho para os interessados nesse tipo de investimento que, muitas vezes, desistiam de investir por causa do medo.
Dessa forma, a prática de investimento-anjo no Brasil tende a crescer nos próximos anos. Tal crescimento ajudará não somente as startups, mas também a economia do país.
Por que se tornar um investidor-anjo?
Segundo Maria Rita Spina, investidora-anjo e diretora executiva da Anjos do Brasil, os fatores que motivam as pessoas a se tornarem investidores-anjo são variados. Além do retorno financeiro, muitos começam a investir para devolver à sociedade um pouco da ajuda que eles já receberam ou até mesmo para diversificar seu conhecimento.
Outro motivo, de acordo com Ana Paula Wey, investidora-anjo e sócia da WP Capital, é que esse tipo de investimento não gera problemas no futuro. “O investidor-anjo sabe o que está acontecendo com a empresa desde o começo, então ele não precisa se preocupar com informalidades (falta de pagamento de impostos, por exemplo), como no caso de investir em empresas mais antigas”, diz Ana Paula.
investidor-anjo
As razões para uma pessoa se tornar um investidores-anjo são diversas, bem como os benefícios trazidos por esse tipo de prática. Mas resta a questão: quais as vantagens de ser um investidor-anjo?
Potencial de lucro
Embora o risco de investir em uma startup seja considerado alto, o retorno financeiro costuma ser muito maior do que o capital investido — ou do que qualquer outro ativo disponível no mercado financeiro. Segundo Fábio Póvoa, a vantagem de investir em uma nova startup é que o potencial retorno de capital é maior do que deixar o dinheiro na renda fixa.
Contato com a inovação
Uma das principais vantagens de ser investidor-anjo, para Maria Rita Spina, é ter a oportunidade de apoiar pessoas inovadoras, criativas e que estão trazendo soluções relevantes para problemas reais. Segundo a especialista, essa troca de informação traz um retorno para o investidor que não é tangível em números.
O contato com a inovação, por exemplo, foi um dos fatores que levou Fábio Póvoa a investir. “Não existe um motivo principal, mas acredito que tenha sido uma conjunção de fatores. Eu queria voltar a empreender, mas não queria estar à frente da empresa. E com o investimento-anjo eu poderia ter ganhos financeiros consideráveis, me relacionar com founders talentosos e ter contato com startups disruptivas que mudarão o mundo”, conta Fábio.
Alinhar investimento a propósito pessoal
O investimento anjo não está relacionado apenas ao desejo em lucrar. Quem aplica seus recursos pessoais em uma startup busca, acima de tudo, realização pessoal. Maria Rita Spina, por exemplo, revela que sua maior motivação foi a oportunidade de apoiar o empreendedorismo feminino. “Eu me deparei com dois projetos de mulheres e decidi investir para apoiá-las. Eu queria que elas tivessem mais relevância como empreendedoras, já que hoje são poucas as que investem ou empreendem com um grande potencial de crescimento”, conta.
Quais são os pré-requisitos para se tornar um investidor-anjo?
Para ser um investidor-anjo não é necessária uma grande fortuna. O investimento geralmente é feito em conjunto com outros investidores e varia de R$ 50 mil a R$ 600 mil, sendo que cada anjo pode investir valores a partir de R$ 20 mil.
De forma geral, os investidores-anjo são pessoas físicas, sendo eles executivos ou empreendedores que já possuem um certo conhecimento ou experiência na área. Na maioria dos casos, são pessoas com grande interesse pelo empreendedorismo e com vontade de gerar novos negócios.
De acordo com Fábio Póvoa, não existe um padrão ideal de aplicação para um investidor-anjo, mas é recomendado que ele não comprometa mais do que 10% do seu patrimônio. “Para mim, como ponto de partida, um anjo deve ter cerca de meio milhão de reais no seu patrimônio líquido. Com esse dinheiro, ele investiria uma porcentagem dele em várias startups para que a taxa de risco seja menor e seu portfólio de investimento mais diversificado”, afirma Fábio.
Segundo Maria Rita Spina, esse pensamento em carteira é ideal para quem está começando a investir. A especialista defende que, embora exista uma variedade de valores que um investidor-anjo possa investir, é recomendado que ele tenha capital suficiente para injetar em mais de uma startup. “Um pensamento em carteira diminui os riscos que são demasiadamente altos. Logo, com um portfólio variado e uma boa carteira de investimentos, as chances de um retorno financeiro aumentam”, afirma Maria Rita.
Mais do que dinheiro, é necessário experiência e conhecimento
Os investidores precisam ter uma série de outras competências para agregar valor à startup, como: ampla rede de contatos, conhecimento e expertise na área demandada, um bom histórico empreendedor e conhecimento de mercado. Esses fatores aumentam as chances de sucesso da startup e atraem novos investidores para o negócio emergente.
Nesse sentido, a experiência de um investidor-anjo pode muitas vezes superar o valor do capital investido. Isso porque o mesmo ajuda o novo empreendedor a evitar erros que ele mesmo possa ter cometido no passado, poupando tempo e capital.
Quando o investidor-anjo entra em cena? E o retorno?
O investidor-anjo entra na fase de validação, na qual a startup está provando ou já provou o seu modelo de negócio. No caso, ele ajuda na concretização da startup e viabilização dela no mercado. Depois de um certo tempo, conforme o negócio se desenvolve, mais capital é necessário e mais investidores serão requisitados.
É nesse momento, segundo Fábio Póvoa, que um investidor-anjo líder começa a agir. Basicamente, ele comandará as rodadas de investimentos e ajudará o fundador da empresa a captar novos investimentos. Sua função nesse momento é atuar como conselheiro, deixando o terreno pronto para novos investidores.
O retorno positivo pode demorar para aparecer, já que o investimento-anjo se trata de uma aplicação de médio a longo prazo.
De acordo com Maria Rita Spina, como as atividades de investidores-anjo ainda são muito recentes no Brasil, não há estudos sobre o retorno financeiro no país. Ainda assim, ela afirma que é possível se basear em estatísticas mundiais que se aproximam da realidade brasileira, segundo as quais os retornos positivos acontecem entre 5 e 10 anos.
Quais são os obstáculos que podem ser encontrados no caminho?
É preciso ter cuidado ao se tornar um investidor-anjo. Segundo Ana Paula Wey, o modo de agir de um anjo também pode atrapalhar o desenvolvimento do projeto e a ele mesmo. “O investidor deve entender que ele é um conselheiro e está ali para ajudar. Ele não é um CEO, muito menos o chefe do empreendedor”, afirma.
Por outro lado, de acordo com Ana Paula, a resistência dos empreendedores também pode se tornar um obstáculo na vida de um investidor-anjo. Nesse caso, os empreendedores não seguem os conselhos do investidor, o que pode fazer a empresa parar ao invés de avançar.
Antes de se tornar um investidor-anjo, segundo Maria Rita Spina, é indicado participar de um grupo de investidores ou até mesmo investir com o auxílio de alguém mais experiente no mercado. Esses co-investidores agregarão valor tanto na hora de analisar o primeiro projeto quanto nos investimentos futuros.
Para Fábio Póvoa, o grande desafio para quem está começando é entender todo o processo de investimento. “Sem ter conhecimento da área você não consegue ter acesso às melhores oportunidades e não consegue analisar um pitch, o mercado, o potencial de investimento e histórico de tração, por exemplo”, diz Fábio. Para driblar essas dificuldades, segundo o especialista, uma opção é contar com uma boa educação e capacitação sobre o assunto. Isabella Câmara Leia mais em StartSe 19/06/2016
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Ruy Moura
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