Em 2016, gestoras encerraram ano com aportes de R$ 11,3 bilhões, queda de 38,7% em relação ao ano anterior
O apetite dos fundos de private equity por Brasil começa a crescer este ano, estimulado pela recuperação da economia e pela necessidade de boa parte das empresas, sobretudo as de médio porte, de levantar capital para expandir seus negócios. Após a severa recessão que o País atravessou, a estimativa agora é de que as gestoras aumentem entre 20% a 30% os aportes no País este ano, segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP).
Em 2016, as gestoras encerraram o ano com aportes de R$ 11,3 bilhões, uma queda de 38,7% em relação ao ano anterior. O balanço dos aportes injetados por fundos em 2017 ainda não foi divulgado, mas deve ficar nos mesmos patamares do ano anterior, diz Clóvis Meurer, fundador e membro do conselho deliberativo da ABVCAP.
"O ano de 2017 foi muito ativo para os fundos de private equity no mundo. Vamos começar a ver, a partir deste ano, o retorno desse movimento no País", afirma Newton Monteiro de Campos Neto, coordenador do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital (GVcepe), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Ao lado de Advent, o fundo global Warburg Pincus também está de olho em ativos no País. A gestora de investimentos canadense Brookfield, que não se encaixa no conceito puro de private equity, foi a que mais investiu durante a crise e ainda continua em busca de aquisições em infraestrutura em 2018. Já a gigante Carlyle quer aproveitar o bom momento da economia brasileira para sair de negócios já investidos, apurou a reportagem.
Melhorar gestão
As gestoras de investimentos têm um papel muito importante para a economia do Brasil, diz Campos, da GVCepe. "Lógico que o racional é investir em uma companhia para depois sair com lucro. Mas, no Brasil, especificamente, esses fundos desempenham uma função estratégica na gestão das empresas nas quais investe. Muitas empresas são familiares, com uma gestão pouco profissionalizada e a entrada desses investidores muda o direcionamento do negócio."
Foi o caso da Advent em algumas das empresas que o fundo investiu. Um dos exemplos mais bem-sucedidos foi no laboratório de diagnósticos Fleury, um dos maiores do País. O fundo tornou-se acionista em 2015, auge da crise, com aporte de R$ 350 milhões, e saiu em setembro passado, embolsando cerca de R$ 1,3 bilhão.
Nesse curto período que ficou no laboratório, controlado pelos médicos fundadores, fez mudanças significativas na empresa: com dois assentos no conselho, fortaleceu os três comitês do grupo, introduziu gestão de risco e finanças e o Fleury ficou mais rentável.
Esse mesmo modelo já começou a ser replicado na Estácio. Em abril, o Advent vai indicar um nome de sua confiança para presidir o conselho de administração da companhia de educação, no lugar de João Cox, segundo fontes. Juan Pablo Zucchini, da gestora, é apontado como substituto.
Piero Minardi, sócio-diretor do Warburg Pincus, disse que a gestora segue a mesma filosofia do Advent, de apostar em empresas com potencial de crescimento e de indicar nomes para o conselho das empresas, sem que seus sócios participem diretamente da gestão.
A gestora, que é controladora da rede Petz, foi responsável pelo processo de expansão da varejista voltada a animais pets, diz Minardi. O fundo global também é um das principais acionistas da empresa de alimentos Camil e avalia oportunidades de investimentos no País.
Minardi pondera, contudo, que o apetite dos investidores pode ser freado pelas incertezas políticas com as eleições deste ano, sobretudo pelo impacto que os possíveis candidatos podem ter sobre o câmbio.
Foram as incertezas políticas que deixaram o Carlyle mais cauteloso para ir às compras. Investidor ativo no Brasil, o fundo procura agora uma porta de saída para seus negócios: vai abrir o capital da Ri Happy e busca alternativa para a Tok Stok, segundo fontes.
De maneira mais agressiva, o Advent está ativo nas duas pontas: desinvestiu com sucesso de negócios maduros, como TCP e Fleury, por exemplo, e busca sair de outros, casos da varejista gaúcha Quero-Quero, que deverá abrir o capital. Mas ainda tem em alguns desafios, como a Restoque (varejo de roupas) e IMC (dona da Frango Assado). Procurados, Advent, Carlyle e Brookfield não comentam. POR ESTADÃO Leia mais em epocanegocios 19/03/2018
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Ruy Moura
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