16 novembro 2016

'Private banking' espera crescer com anistia

A anistia de recursos no exterior tirou das amarras da ilegalidade cerca de R$ 150 bilhões em recursos e agora os executivos à frente das áreas de "private banking" no Brasil vislumbram engordar as receitas de seus negócios com aconselhamento financeiro. A repatriação, de fato, codinome que acabou incorporado à Lei nº 13.254, não é a expectativa majoritária de quem comanda as fortunas dos brasileiros. Para uma eventual segunda fase do programa, o que se fala nos bastidores é que, se o Congresso aprovar a reabertura com a inclusão de políticos e parentes, outros R$ 100 bilhões podem se valer dessa alforria entre as diversas geografias.

"Pós-regularização, o aconselhamento para o cliente vai acontecer cada vez mais em terras brasileiras", diz o executivo-chefe da unidade de private banking do Credit Suisse Hedging-Griffo, Marco Abrahão. "O investidor que tinha recursos na Suíça, Nova York ou em qualquer outra jurisdição, agora se sente mais confortável para falar do patrimônio como um todo. A proximidade vai pesar porque muitas vezes ele tinha que viajar, se preocupar com o fuso horário para dar um telefonema. A tendência é trazer parte dos recursos para o Brasil."

Com cerca de R$ 92 bilhões sob gestão local e uma expansão projetada de 20% para 2016, o executivo não abre o volume de regularização que passou pelo banco suíço no Brasil. Mas estima que uma fatia de 15% a 20% do dinheiro declarado, algo entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões, possa irrigar o setor - e ele quer um pedaço disso, mesmo que o dinheiro não seja repatriado.

"É natural que, na sua estratégia de diversificação, o brasileiro mantenha recursos no exterior, porque muitas vezes ele já tem o negócio dele aqui, imóveis etc", diz Abrahão. "Mas mesmo com os recursos fora, ele pode nos procurar no aconselhamento financeiro, fazer metade aqui, metade na plataforma internacional."

Embora espere que cada vez mais os ativos locais ganhem relevância no portfólio dos seus clientes, Paulo Cocharki, responsável pelo UBS Wealth Management Brasil, considera que a tendência é o investidor manter a fatia regularizada fora do país. "Esse dinheiro não volta para o Brasil, vai ser mais uma discussão em que banco ele vai ficar. Com a anistia feita, ele vai repensar, vai ser um 'rouba-monte' internacional." A instituição tem cerca de R$ 7,2 bilhões sob o seu guarda-chuva local, mas grande parte do bolo de recursos dos clientes brasileiros está no exterior. "Esse dinheiro tem uma componente mais conservadora, de se proteger contra eventuais percalços que venha a ter", diz.

Depois de um 2015 em que o mercado de private banking avançou só 10,4%, menos que a variação do CDI, 2016 enseja um ritmo pouco melhor, mas ainda sem crescimento real. Segundo os dados divulgados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o setor fechou setembro com R$ 815,3 bilhões sob gestão, uma expansão de 16,1% em relação ao saldo de 12 meses antes. No acumulado do ano, a evolução foi de 14,6%. A quantidade de grupos econômicos ou famílias atendidas por essas plataformas aumentou em apenas 225, para 52,3 mil.

Na conta do incremento financeiro entra a varição dos ativos, incluindo juros e a "mãozinha" do Ibovespa, que acumulava até setembro ganhos na casa dos 35%. Para outubro, particularmente, a captação tende a ser negativa porque grande parte dos contribuintes que aderiu à regularização de ativos no exterior usou dinheiro local para quitar a obrigação, observa o diretor do Bradesco Private Bank, João Albino Winkelmann.

Com uma participação de mais de 10% em renda variável e recomendação aos clientes para dobrar a posição em juro real nas carteiras na virada de 2015 para 2016, o Itaú viu seu volume sob gestão no private crescer perto de 19% este ano e 25% em 12 meses. Com mais de 28% de fatia de mercado, a instituição tem sob seu guarda-chuva cerca de R$ 220 bilhões, o maior valor nominal da sua trajetória. Para Luiz Severiano, diretor do Itaú Private Bank, não dá ainda para esperar eventos de geração de liquidez significativos via mercado de capitais e a grande oportunidade para manter a velocidade de cruzeiro é a anistia.

"O cliente primeiro queria resolver o problema, usou o dinheiro para fechar o câmbio, pagar o DARF, mas a migração de recursos ainda é pequena", diz. "Aconteceu, ajudou nosso crescimento, mas foi muito pouco." Do que mapeou entre clientes novos e da base, ele diz ter capturado cerca 20% do volume potencial. Seu "sonho" é atrair entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões.

Para dar conta desse quinhão que almeja, Severiano diz já ter capacidade ociosa no time, com uma estrutura de 600 pessoas dedicadas ao private banking em praças como São Paulo, Miami ou Zurique, e outras 90 só para recomendação de investimentos, com 95% deles com certificação internacional (CFP). Está pronto para atender tanto quem queira repatriar quanto manter o dinheiro no exterior.

Com o enxugamento do Citi no Brasil, diante da venda de sua operação de varejo, e a aquisição do HSBC pelo Bradesco, sobrou um perfil abaixo de R$ 20 milhões, que gosta de ser atendido por uma placa internacional. E o Santander se beneficiou desse movimento, afirma a diretora de private banking do grupo espanhol, Maria Eugênia Lopez. Sem abrir o tamanho da área sob seu comando, ela diz que observou um incremento de 30% dos recursos sob gestão em 12 meses. E espera que o mercado de private banking volte a crescer acima da Selic, mais atrelado ao PIB no ano que vem, com a venda de empresas, ofertas secundárias de ações e distribuição de dividendos, eventos que voltem a gerar riqueza. Já para os recursos da anistia, sua expectativa é que a movimentação do portfólio se dê, principalmente, fora do país.

A anistia infla potencialmente o volume de recursos no radar dos banqueiros, mas após Donald Trump ser alçado à presidência dos Estados Unidos, o otimismo que se via com o Brasil também ameaça virar, pontua o estrategista de private banking do Banco Votorantim, Marcos De Callis. Sem uma estrutura "offshore", o banco fez poucos processos de regularização, mas a percepção é que, no geral, não há intenção do investidor de repatriar esses recursos.

O Bradesco, conta Winkelmann, não fez grandes esforços no processo de anistia, ficou com participação abaixo do intervalo de 17% a 20% que costuma ter nas suas diversas linhas de negócios. "O banco foi passivo. Fizemos do cliente que nos procurou." Mesmo assim, nos próximos três a seis meses, ele espera capturar algo do que foi regularizado, após incrementar a área em 19% neste ano. Às voltas com a integração com o HSBC, o maior empenho foi visitar os grandes clientes do private, para reter esse público. "A sobreposição, que o banco imaginava ser baixa, ficou entre 5% e 10%. Não houve perda. Se tivesse grande concentração, seria natural procurar um segundo banco. Em grandes fortunas, a sobreposição não chegou a 1%."  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 16/11/2016

16 novembro 2016



0 comentários: