12 março 2018

Dono da Gocil compra Broto Legal

Cansado de ficar na mão da indústria e disposto a diversificar seus investimentos, Washington Umberto Cinel, produtor de arroz e cana, criador de gado e empresário de outros diversos setores, fechou em janeiro a compra da Broto Legal, com sede em Campinas (SP) e conhecida pela marca homônima de arroz e feijão. "Agora estou nas gôndolas e dominando toda a cadeia", afirma ele.

O valor do negócio não foi revelado, mas o mercado calcula que tenha ficado em nove vezes o lucro dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), que foi o que recebeu a concorrente Camil na ocasião de sua abertura de capital. No caso da Broto Legal, o Ebitda foi de R$ 56,1 milhões em 2016, segundo o anuário Valor 1000, o que levaria a aquisição a R$ 505 milhões.

Cinel é mais conhecido por ser dono da empresa de segurança e terceirização de serviços Gocil e pela proximidade com o prefeito de São Paulo, João Dória. Ele explica que a Cinel Alimentos, empresa que adquiriu a Broto Legal, não tem relação com a Gocil. Segundo o empresário, trata-se de uma companhia criada por ele para os quatro filhos.

Foi a Broto Legal que se ofereceu no mercado, em maio de 2017, devido a conflitos societários. "A segunda geração de sócios tentou profissionalizar a empresa, mas a terceira geração não se entendeu. Então, decidimos vender a empresa", diz o CEO da Broto Legal, Lazaro Moreto, mantido no cargo por Cinel. O próprio Moreto já foi sócio da Broto Legal, mas vendeu a unidade de produção de arroz que tinha em Porto Ferreira para a empresa, em meados dos anos 1990, e saiu do negócio. Em 2000 voltou como funcionário.

A intenção agora é tornar a Broto Legal uma companhia de alimentos, não de comercialização de commodities. Atualmente, a companhia tem 3% do pulverizado mercado nacional de arroz e feijão, fatia que em São Paulo sobe para 7%.

Para isso, já foram investidos R$ 40 milhões em uma nova indústria de processamento de arroz que será inaugurada em abril em Uruguaiana (RS), onde também fica uma das fazenda do empresário – a outra fica em Alegrete, no mesmo Estado, e juntas as propriedades têm 7 mil hectares. "Será uma indústria de ponta, muito moderna e que vai agregar valor ao arroz produzido pela empresa", afirma.

Além de embalar a variedade tradicional, o arroz parboilizado e outros tipos mais comuns, a Broto Legal deve lançar em breve variedades de arroz negro e arroz vermelho. A capacidade de beneficiamento da empresa, hoje em 130 mil toneladas ano em Porto Ferreira (SP), ganhará mais 72 mil toneladas ao ano nos próximos anos.

Além desse aporte na fábrica, outros R$ 40 milhões serão investidos nos próximos dois anos em melhorias de processos, aumento de capacidade de produção em outras unidades e em um centro de distribuição em algum Estado estratégico. Também não estão descartadas novas aquisições no futuro para ampliar o portfólio.

A Broto Legal produz também 72 mil toneladas de feijão ao ano em Campinas e vende carne seca (jerked beef), soja em grão, farofa e azeite e atum com a marca Báltico. "Café e outros produtos secos, que podem compartilhar o mesmo processo de distribuição são interessantes, mas o foco agora é no crescimento dos produtos que temos para o todo o país, começando pela expansão ao Norte e Nordeste", reitera Cinel.

A Broto Legal encerrou 2017 com um faturamento de R$ 500 milhões e a meta é alcançar R$ 700 milhões neste ano. Para 2023, a intenção é chegar a R$ 2 bilhões. Atualmente, mais de 90% do faturamento é proveniente das vendas de arroz e feijão e pouco menos de 5% dessas vendas são exportação. "Queremos chegar a 10% em vendas externas", diz o CEO.

Para isso, além das variedades que serão lançadas, a Broto Legal diz confiar no fato de ser a única empresa certificada do segmento a não usar agrotóxicos no cultivo desses grãos. "Dá trabalho, uma vez que todos os carregamentos que chegam à unidade de beneficiamento precisam ser vistoriados pelo Instituto Adolfo Lutz, mas tem a compensação de termos um produto de qualidade, com valor mais alto do mercado nacional", afirma Moreto.

A história e o interesse de Cinel pelo agronegócio não são novos. Têm como primeiro capítulo a aquisição de uma fazenda no Xingu (PA) há 30 anos, quando nasceu o primeiro dos quatro filhos do empresário. A intenção era apenas esperar a valorização da terra, mas Cinel decidiu criar por lá gado Brangus, mistura de Angus com Brahman. Hoje, ele tem uma das maiores criações de Brangus do país.

Dez anos depois da aquisição em Xingu, Cinel foi ao Rio Grande do Sul para comprar touros Angus para cruzar com as vacas nelore e fazer o Brangus. Gostou da região e comprou uma fazenda em Uruguaiana que estava arrendada para um produtor de arroz. "Quando acabou o contrato com o arrendatário, decidi investir nesse negócio", conta. Na região de Botucatu, interior de São Paulo, a Cinel Alimentos também cultiva cana-de-açúcar e fornece para grandes usinas como a Cosan e São Manuel.

Há quatro anos, o empresário também viu outra oportunidade e comprou a paraguaia Villa Oliva, companhia que tem uma fazenda de 20 mil hectares de arroz e uma indústria de beneficiamento. A produção do país vizinho, aliás, será adquirida pela Broto Legal se for conveniente e o preço estiver bom. "São companhias separadas, com gestões diferentes e estratégias também diferentes. No momento, a Villa Oliva será apenas uma boa fornecedora como outras", diz.

Sobre o futuro da Cinel Alimentos, o empresário diz estar preparando calmamente os filhos. Por enquanto, o interesse deles é bem divergente – uma filha é ligada à arte, outra em publicidade e um terceiro também longe da empresa. A filha mais nova do empresário tem apenas 13 anos. "Aos poucos, ficarão próximos do que vão herdar". Por Fernanda Pressinott | De São Paulo Fonte : Valor  Ana Paula Paiva/Valor Leia mais em alfonsim 07/03/2018





12 março 2018



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