Com a recuperação dos ativos brasileiros e a queda da Selic de 2016 para cá, um grupo de corretoras de valores da velha guarda desengavetou planos de investimentos para se transformar em plataformas completas para o público de varejo. A virada vem após o fenômeno XP ter atraído um comprador do porte do Itaú, a aquisição de 70% da Guide pelo grupo chinês Fosun, ou ainda a entrada no capital da Easynvest pela gestora americana de private equity Advent.
As casas que ainda não tinham redirecionado completamente o timão para o mundo digital passaram a privilegiar essa via. Algumas tentam, assim, estancar prejuízos dos anos ruins de bolsa e da economia brasileira e se manter relevantes no mercado de investimentos. Outras buscaram, durante a crise, nichos de negócios complementares, como administração e custódia de fundos.
Fundada em 1967, a Socopa - que criou o primeiro home broker do Brasil em 1997 - fez investimentos de R$ 3 milhões em marketing digital, na atualização da marca e infraestrutura tecnológica, apostando num modelo de atendimento "self service". A nonagenária Magliano, que recebeu o registro nº 1 na antiga Bovespa, desembolsou R$ 2 milhões para colocar de pé o canal Magliano Digital.
A Ativa, fundada por ex-executivos do Garantia há três décadas, estreou seu aplicativo em versão IOS e Android em janeiro para transações com ações e renda fixa via celular. Criada em 1995, a Planner fez investimentos de R$ 3 milhões ao longo de 2017 em novas tecnologias, pessoal e marketing e, a partir do segundo semestre, o cliente poderá fazer todo tipo de transação eletronicamente.
Com seu home broker rebatizado de "Socopa Invest" e com 30 fundos na prateleira, a corretora de Alvaro Augusto Vidigal, ex-presidente da Bovespa (de 1991 a 1996), quer arregimentar 100 mil investidores em dois anos, da base atual de 20 mil clientes, e alcançar R$ 20 bilhões em custódia, dos R$ 3 bilhões reunidos hoje.
Maior presença nas redes sociais, tutoriais de educação financeira e a "perseguição" via algoritmos do público mais jovem é a proposta da casa, que aposta no conceito de que, munido de informações, o aplicador tende a tomar suas próprias decisões de investimentos, diz Vidigal. "É um modelo mais dinâmico. O jovem se diferencia das gerações anteriores, é mais livre, quer ter a oportunidade de fazer as coisas dele, e por que não cuidar do próprio dinheiro?" Com o tempo, produtos como investimento em títulos públicos no Tesouro Direto, fundos e CDBs já se tornaram mais representativos do que a bolsa no mix de negócios da Socopa. "Queremos pegar uma beiradinha desse mercado. Ter uma mesa de ações dá um prejuízo desgraçado", brinca Vidigal Nos anos de crise, a decisão do grupo foi dar foco ao Banco Paulista, que atua no segmento de atacado e faz, por exemplo, a importação de dólares do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para distribuir no mercado brasileiro.
Mesmo com os investimentos feitos, a Socopa vai fechar as demonstrações financeiras de 2017 com lucro líquido próximo de R$ 9 milhões - até setembro, tinha acumulado R$ 7,8 milhões, segundo dados reportados ao Banco Central (BC). Nesses números constam os resultados da área de gestão, administração (janeiro a dezembro) e custódia (a partir de julho) de cerca de 500 fundos que estavam debaixo do banco e foram transferidos para a corretora.
A mudança de rota da Socopa ocorre num momento em que há a percepção de que o brasileiro vai sair do "arroz com feijão" da renda fixa e acrescentar novos riscos à carteira. "É um momento ímpar do mercado. Pela primeira vez, de fato, a bolsa vai concorrer com a renda fixa", afirma Vidigal.
"Quando a Selic estava a 14%, o investidor tinha até preguiça de pensar em bolsa, agora com 6,75% precisa pensar." Vislumbrando um 2018 melhor, a Magliano começou a se reestruturar em agosto do ano passado para ter um braço digital e ampliar a oferta de produtos. Os primeiros testes com o novo home broker, que negocia ações, foram feitos em janeiro. Em três meses, a corretora deve ter os fundos de terceiros que já distribui listados na plataforma, além de títulos de emissão bancária. "Já tínhamos na nossa cabeça a necessidade desse investimento, estávamos só esperando pela melhora da situação do Brasil", diz o presidente Raymundo Magliano Neto.
A ideia é atender um varejo mais amplo, fora do seu perfil mais típico, que hoje se situa na faixa com patrimônio acima de R$ 300 mil. "Com o digital dá para fazer isso", afirma Magliano. A corretora, porém, não vai abandonar a interação com o cliente mais tradicional, que demanda maior proximidade.
As novas tecnologias servem ao propósito de abarcar o público mais jovem. A corretora contratou D'Arthagnan Vasconcelos Jr., ex- Votorantim Corretora e Deutsche Bank, para tocar o projeto digital e ampliou o time de 35 para 45 profissionais.
Com R$ 7 bilhões em custódia, a instituição espera fechar 2018 com R$ 10 bilhões e chegar a uma base total de 5 mil clientes, dos 2 mil atuais. A corretora acumulava até o terceiro trimestre de 2017 prejuízo líquido de R$ 923,3 mil, saindo de resultados negativos em 2016 e 2015 da ordem de R$ 2 milhões e perda de R$ 1,7 milhão em 2014.
Migrar para o mundo digital sem perder o perfil de corretora à moda antiga também é uma preocupação da Planner, de acordo com a diretora comercial Priscila Fracari Vargas. "O investidor já aplica em todos os produtos que estão em outras corretoras, com o diferencial que aqui fala com um ser humano", diz.
Como também atende clientes com volumes maiores, ela cita que esse perfil nem sente tanta necessidade do canal remoto, mas que, com as facilidades da mobilidade trazida pelo celular, a corretora decidiu tomar esse passo. "São os jovens que gostam de plataformas digitais, é o investidor que tem tíquete menor e toma decisões rápidas pela internet. Não é ainda o perfil dos nossos clientes, mas não quer dizer que a gente não persiga esse público", afirma.
Segundo a executiva, pensar nesses novos tempos é assegurar a perenidade do negócio, desenhar a estratégia para os próximos 30, 50 anos. Se antes o investimento era mais direcionado para a expansão orgânica, via abertura de filiais, a tecnologia agora deve permitir crescer a base de outra forma. "Essa virada vem em razão de uma série de mudanças no mercado ao longo dos anos, é um caminho que já vinha sendo desenhado, não surgiu do dia para a noite." Quando divulgar os resultados de 2017, a Planner vai apresentar prejuízo de cerca de R$ 4 milhões, ocasionado pela adesão ao Refis, no valor de R$ 7 milhões. Operacionalmente, diz Priscila, o resultado foi positivo.
Com a consolidação do cenário de queda de juros e a percepção de que os investidores migrariam para ativos de risco, no começo de 2017 a Ativa resolveu modernizar a sua plataforma e já está testando a versão para aplicativo de celular. A próxima funcionalidade a ser acrescentada será a aplicação em fundos, prevista para este trimestre.
"A diretriz é se reinventar sempre. Por mais que a corretora seja mais antiga, o foco é em tecnologia, na experiência digital", conta Lenon Borges, gerente de estratégia e produtos da Ativa Investimentos. "Aos poucos, vamos entregar resultados." O executivo não abre o valor investido, mas nos dados parciais referentes aos resultados de 2017 esses números estão implícitos. Até setembro, a instituição acumulava prejuízo de R$ 2,1 milhões, tendo saído de um lucro líquido de R$ 1,4 milhão no ano anterior e R$ 367,7 mil em 2015. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 06/03/2018
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terça-feira, março 06, 2018
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Ruy Moura
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