Nos EUA, levantar grandes aportes está mais fácil do que nunca; risco é de nova bolha de empresas virtuais
Quora, site de perguntas e respostas, não precisou levantar dinheiro. Ele mal tocou nos US$ 60 milhões de capital de risco que aceitou dois anos atrás.
Contudo, a empresa californiana, sem receita e com apenas 70 funcionários, anunciou ter arrecadado mais US$ 80 milhões.
Esse investimento de arregalar os olhos — sem propósito óbvio imediato — foi o mais recente numa dinâmica que está remodelando o Vale do Silício: startups já com o caixa recheado estão recebendo ainda mais investimentos.
Das cem maiores rodadas de capital de risco de que se tem notícia, 88 aconteceram nos últimos cinco anos, segundo a CrunchBase, empresa especializada nesse tipo de levantamento. Cada rodada resultou em mais de US$ 50 milhões para as empresas.
NYT
"Quanto mais capital se tiver no banco, mais à vontade e confiante você se sente", afirma Marc Bodnick, antes investidor de risco que agora comanda as operações comerciais da Quora. "É simples assim".
Vários fatores impelem a proliferação de investimentos grandes em estágio final de desenvolvimento. Empresas novatas de tecnologia estão ficando mais tempo sem abrir o capital, companhias de investimentos desejam botar fundos ociosos para trabalhar e investidores institucionais querem lucro em empresas privadas de rápido crescimento.
“Quanto mais capital se tiver no banco, mais à vontade e confiante você se sente"
Para empresas de tecnologia ávidas em conquistar a valorização mais elevada possível pensando numa venda ou no lançamento de ações, isso quer dizer que levantar grandes investimentos está mais fácil do que nunca. Na verdade, ao que parece, nunca existe dinheiro demais no banco.
"Existe uma expressão no Vale do Silício: coma quando a comida estiver passada", cita Nirav Tolia, diretor-presidente da Nextdoor, que ano passado aceitou US$ 60 milhões em investimento de risco apesar de ter muito dinheiro no banco.Ao mesmo tempo, o fluxo de dinheiro está inflacionando a valorização de empresas em estágio inicial, gerando o temor de nova bolha das ponto-com.
Tolia disse que apesar de a Nextdoor não ter necessidade premente por dinheiro, aceitar o investimento deu à empresa segurança adicional e reduziu a probabilidade de ela simplesmente desaparecer.
"Sempre é bom poder aumentar a pista de decolagem", destaca ele.
"Sempre é bom apostar no ponto mais distante para decolar".
Rodadas em estágio final cresceram enormemente nos últimos anos. O tamanho médio de tais investimentos até este mês é de US$ 44,1 milhões, o nível mais alto dos últimos cinco anos, um crescimento de 77% sobre o ano passado, segundo dados da CB Insights.
No começo de abril, o Airbnb, site voltado ao compartilhamento de casas, chegou perto de fechar um acordo de impressionantes US$ 500 milhões com investidores como TPG Growth, T. Rowe e Dragoneer Investment Group, segundo pessoas por dentro do negócio. Somente a TPG Growth estava preparada para entrar com até US$ 150 milhões na rodada.
Há pouco tempo, a Lyft conseguiu US$ 250 milhões de investidores como o grupo Alibaba, da China, e da Third Point, empresa de investimentos de Daniel S. Loeb, mesmo estando bem atrás da líder do segmento, Uber.
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Para alguns investidores, essa onda de financiamentos grandes no estágio posterior poderia reduzir a disciplina dos empreendedores. Uma série de investidores destacou os problemas da Fab.com, novata do setor de comércio eletrônico que levantou US$ 150 milhões no verão passado com a tenra idade de dois anos.
Em meio a críticas disseminadas de que a rodada representava dinheiro demais muito cedo, o diretor-presidente da Fab, Jason Goldberg, defendeu o gesto como uma forma de abrir novas oportunidades comerciais. Porém, o plano de expansão ambicioso demais e a queda nas vendas levou a uma onda de saída de funcionários e a uma retração dolorosa.
"Nós começamos a sonhar em bilhões quando deveríamos nos concentrar em fazer um dia apenas melhor do que o anterior", Goldberg escreveu num blog em janeiro.
E Alfred Lin, sócio da Sequoia Capital, admitiu que os investidores cada vez gastam menos tempo com a devida diligência.
"A velocidade com que as cartas de intenções são emitidas acelerou. Estamos jogando com regras um pouco diferentes do que há cinco anos".
Uma coisa que mudou nos últimos anos é a quantia de capital disponível para investimento em startups do Vale do Silício.
Muitas empresas de investimento realizaram grandes rodadas, ou seja, os apoiadores tradicionais das empresas de tecnologia estão bem posicionados para emitir cheques graúdos.
Porém, os investidores têm cada vez mais a companhia de fundos de hedge e empresas de participações privadas. Entre os principais investidores nas rodadas de financiamento que arrecadaram mais de US$ 100 milhões estão a Digital Sky Technologies e a Tiger Global Management, que ficaram ao lado de empresas de investimento tradicional como Andreessen Horowitz e Kleiner Perkins Caufield & Byers, de acordo com a CB Insights.
Quem também está entrando no ringue são fundos mútuos como T. Rowe Price e Fidelity Investments. Em muitos casos, tais empresas recebem acesso a startups promissoras com a compreensão de que permaneceriam como investidores até mesmo após o lançamento de ações.
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Alguns fundos de hedge estão até se transformando em empresas de capital de crescimento que investem em startups mais velhas. Por exemplo, a Coatue Management pretende criar um fundo de US$ 500 milhões dedicados aos tipos de investimentos que a firma fez em companhias como Snapchat e Hotel Tonight, site para reservas de última hora em hotéis.
"Isso era impossível dez anos atrás", argumenta Norm Fogelsong, sócio da Institutional Venture Partners, que fez grandes investimentos em empresas como Dropbox e Snapchat. "Simplesmente não existia tanto dinheiro no setor de investimento de risco. Só está acontecendo porque é possível".
Para as empresas que recebem a injeção de capital, ter tanto dinheiro no banco lhes permite controlar o próprio destino, em vez de ficar à mercê dos compradores ou do mercado.
"Se alguém quiser comprá-las, elas podem recusar ou esperar um preço mais alto", explica Peter C. Wendell, diretor geral da Sierra Ventures. "Se o lançamento de ações parece duvidoso, elas podem mandar olhar o balancete e esperar".
A Box, empresa de armazenamento em nuvem, quis lançar ações quando, segundo os dados, ela precisava levantar mais capital, mas a rival Dropbox arrecadou recentemente US$ 250 milhões e pode adiar o lançamento de ações, ainda mais se o apetite por papéis de tecnologia estiver caindo.
Em 2008, a HomeAway, site imobiliário, pretendia abrir o capital. Porém, quando começou a crise financeira, seus executivos decidiram postergar o lançamento de ações. Em vez disso, em novembro daquele ano, a HomeAway levantou US$ 250 milhões em capital de risco adicional e decidiu não pensar em abrir o capital por pelo menos dois anos.
“Existe uma expressão no Vale do Silício: coma quando a comida estiver passada"
"Assim, pudemos reiniciar o relógio", diz Lynn Atchison, diretora financeira da HomeAway. A empresa lançou ações em 2011.
A HomeAway não está sozinha. A idade média das empresas que abrem o capital hoje em dia é de dez anos, contra uma média de apenas seis anos em 2000, segundo Jay R. Ritter, professor da Universidade da Flórida.
"Rodadas que seriam realizadas em mercados públicos acontecem em mercados privados", frisa Scott Kupor, sócio e diretor de operações da Andreessen Horowitz, empresa de capital de risco que figura entre os participantes mais ativos em grandes rodadas da fase final de desenvolvimento.
Para os investidores, permitir que uma empresa de portfolio receba um ou mais financiamentos significa que as participações existentes podem ser diluídas.
No caso da Quora, a nova rodada avaliou a empresa em supostos US$ 900 milhões, mais do que o dobro da avaliação anterior de US$ 400 milhões. Isso significa que embora alguns dos primeiros investidores possam ter visto sua participação ser diluída pela nova rodada, o valor de sua parte cresceu.
"Quando sai por um preço alto, a empresa de investimento pode alterar o preço das outras ações que mantêm", afirma Wendell, da Sierra Ventures.
O resultado é que boa parte do ganho da empresa em valor está se dando antes mesmo da abertura de capital.
"A valorização que geralmente aconteceria no mercado público está ocorrendo no mercado privado", reforça Kupor, da Andreessen Horowitz. "É por isso que vemos T. Rowe, Fidelity e JPMorgan investindo. Eles estão dizendo: 'Não existe muito crescimento para nós no mercado público'". The New York Times | Leia mais em iG 03/05/2014
03 maio 2014
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sábado, maio 03, 2014
Compra de empresa, Plano de Negócio, Private Equity, Start-up, Tese Investimento, TI, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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