A recuperação da economia brasileira e os juros em queda provavelmente vão mudar a natureza da atividade de fusões e aquisições no país em 2018, de vendas pressionadas por escândalos a transações motivadas por apostas de investidores na retomada do crescimento econômico, afirmam executivos de bancos de investimento e advogados especializados na área.
Conglomerados pressionados por escândalos de corrupção e dívida elevada foram forçados a vender importantes ativos no ano passado, o que ajudou a aumentar o valor das operações de fusões e aquisições no Brasil em 2017 para 61,77 bilhões de dólares, alta de 33 por cento sobre 2016. O valor médio das transações aumentou, já que o número de operações caiu de 615 para 544.
Executivos de bancos de investimento esperam um volume similar de operações no Brasil neste ano, mas com o estímulo destes novos motivos, conforme a economia brasileira se posiciona para crescer no maior ritmo em pelo menos cinco anos.
"Acredito que 2018 continuará a ter um grande volume de fusões e aquisições nas áreas de infraestrutura e energia, mas a retomada da economia deve estimular também negócios com empresas vinculadas ao consumo e varejo", afirmou Roderick Greenlees, chefe da área de banco de investimento do Itaú BBA, que liderou o ranking de operações em 2017 apurado pela Thomson Reuters, em número de transações.
Alguns dos primeiros acordos de 2018 ressaltam o novo tipo de interesse dos compradores pelo país.
A chinesa Didi Chuxing anunciou na semana passada a compra do controle da operadora de aplicativo de transporte urbano 99, como parte de uma expansão pela América Latina. A Boeing também está negociando com a Embraer, de olho nos jatos regionais e cargueiro militar da fabricante brasileira.
No ano passado, alguns dos maiores negócios foram vendas feitas pelo conglomerado J&F Investimentos, que acertou o pagamento da maior multa de leniência da história por seu papel em escândalos de corrupção como o desencadeado pela operação Lava Jato.
A J&F vendeu a Vigor Alimentos para a mexicana Grupo Lala em agosto e a fabricante de celulose Eldorado Brasil para a Paper Excellence em setembro.
Apesar das operações relacionadas aos escândalos de corrupção estarem diminuindo, alguns grandes grupos brasileiros ainda precisam vender ativos para reduzir seu alto endividamento, disse Leandro Miranda, diretor-gerente do Bradesco BBI, o líder do ranking de 2017 em valores das transações.
Os juros em queda neste ano também podem favorecer compradores financeiros, como fundos de private equity, em relação a investidores estratégicos. Os juros baixos também podem facilitar o financiamento dos acordos de fusão e aquisição, acrescentou Miranda.
Embora a volatilidade gerada pela eleição presidencial de outubro possa pesar sobre a atividade dos mercados de capitais, Greenlees, do Itaú BBA, não espera um impacto significativo sobre a atividade de fusões e aquisições. Apesar disso, ele disse que investidores vão observar os esforços do governo federal para aprovação da reforma da previdência para ajudar a equacionar o déficit fiscal.
"Neste sentido, a aprovação da reforma da previdência é mais importante do que a eleição para os investidores de longo prazo que são compradores em processos de fusão e aquisição", disse Greenlees.
O rali da Ibovespa nesta semana para novo recorde também levou o valor das empresas para níveis que podem estimular mais movimentos semelhantes ao maior negócio fechado em 2017.
Naquela transação, a Vale migrou para uma estrutura de apenas ações ordinárias, entrando no segmento Novo Mercado, da B3. A operação incluiu a fusão da holding controladora Valepar na Vale. A mineradora também está tomando passos graduais para a extinção do acordo de acionistas e sua transformação em uma empresa de capital pulverizado. A melhora da governança corporativa e o isolamento da companhia de influência do governo, ajudou a ação da Vale a acumular alta de 64 por cento no ano passado.
"Acredito que mais empresas se espelhem no exemplo da operação da Vale, que foi bem sucedida em mudar o paradigma de governança entre as maiores empresas brasileiras. Poderemos ver outras companhias que hoje são penalizadas pelo mercado querendo fazer o mesmo", afirmou Alessandro Zema, responsável pelo Banco de Investimento do Morgan Stanley no Brasil. Reuters Leia mais em dci 09/01/2018
09 janeiro 2018
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terça-feira, janeiro 09, 2018
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Ruy Moura
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