A venda do Yahoo Inc. para a Verizon Communications Inc. coloca um ponto de exclamação em um turbulento período de 20 anos que começou com o Yahoo no bem-sucedido papel de organizador da internet, mas que terminou com uma série de líderes fracassados e erros estratégicos.
A agonia prolongada do Yahoo serve como caso clássico de uma empresa com uma dúvida existencial que seus inúmeros diretores-presidentes não conseguiram responder: O que é o Yahoo?
Criado em um dormitório da Universidade de Stanford, em 1994, o Yahoo passou seus primeiros dez anos ganhando escala como um portal de internet. Aí, tanto o Google Inc. como o Facebook Inc. - que quase foram comprados pelo Yahoo - criaram bases lucrativas com ferramentas de busca e redes sociais. O Yahoo, com isso, acabou ficando para trás na economia on-line em rápida transformação que ajudou a criar. Sua receita e o número de visitantes caíram, enquanto a empresa penava para inovar seus vários serviços.
"Se você é tudo, você é meio que nada", diz Brad Garlinghouse, um ex-executivo do Yahoo que, em 2006, escreveu o "Peanut Butter Manifesto" (Manifesto da Pasta de Amendoim, em tradução livre), um memorando interno criticando a empresa pelo excesso de diversificação. "A triste realidade [...] é que ele nunca resolveu sua crise de identidade."
Garlinghouse diz que as estratégias voláteis do Yahoo frequentemente deixavam os funcionários confusos. Ele se recorda de, durante um retiro organizado pelo Yahoo em 2006, ter perguntado a gestores qual a primeira palavra em que pensavam quando ouviam o nome de uma empresa. No caso do Google, eBay e outros, as respostas foram claras: "busca" ou "leilão". No do Yahoo, não. Eles disseram "e-mail", "notícias", "busca" e outras coisas.
Uma série de seis diretor presidentes em 20 anos intensificou a confusão, num vaivém entre tecnologia e mídia.
Os fundadores Jerry Yang e David Filo inicialmente construíram um índice de sites de internet chamado "Guia para o World Wide Web de Jerry e David", enquanto adiavam o seu trabalho numa tese.
O primeiro diretor-presidente, um antigo roqueiro de cabelos grisalhos, Timothy Koogle, diz que entrou na empresa em 1995 sem nenhuma receita e com seis empregados que, segundo um recrutador, "precisavam urgentemente de supervisão de adultos".
No fim de 1997, o Yahoo estava entre os sites mais visitados. Ele listava 735 mil sites e oferecia gratuitamente e-mail, notícias, salas de bate-papo, atraindo 25 milhões de usuários únicos mensalmente. O salto explosivo no uso da internet alimentou o crescimento para 100 milhões de usuários, 2 mil funcionários e um valor de mercado de cerca de US$ 125 bilhões em 2000. Ao contrário dos rivais iniciais, o Yahoo já era lucrativo, em parte porque foi um dos pioneiros no uso da publicidade on-line.
Aí veio o estouro da bolha da internet. A partir de seu auge, em 3 de janeiro de 2000, as ações do Yahoo despencaram 93% em 20 meses. Koogle pediu demissão em 2001 e a firma começou sua primeira reestruturação.
O líder seguinte, Terry Semel, ex-executivo do estúdio W arner Bros., tentou transformar o Yahoo numa empresa de mídia. Ele queria cobrar mais tarifas por serviços premium, incluindo uma linha direta de astrologia que cobrava US$ 14,95 por pergunta. O Yahoo também parou de investir em sua ferramenta de busca, uma vez que seu índice de sites, que era gerenciado por pessoas, não conseguiu acompanhar a expansão da internet.
Enquanto isso, outra dupla de estudantes de Stanford construiu um motor de busca baseado em algoritmos, que chamaram de Google. Ela seria a ruína do Yahoo.
O Yahoo contratou o Google em 2000 para alimentar suas buscas, colocando o logotipo do Google em sua caixa de buscas. Semel discutiu a compra do Google com os fundadores Larry Page e Sergey Brin por US$ 1 bilhão, mas eles não chegaram a um acordo sobre o preço.
Em 2002, a grande presença do Google no comércio on-line fez a sua receita disparar.
Semel mudou de estratégia. O Yahoo pagou US$ 1,9 bilhão por duas empresas de tecnologia de busca e começou a alimentar suas próprias buscas em 2004. Semel também perdeu outra aquisição que daria ao Yahoo uma presença forte nas redes sociais e atrairia a cobiçada audiência jovem. Em 2006, o Yahoo chegou a negociar a compra do Facebook por US$ 1 bilhão, mas novamente as conversas foram encerradas por divergências quanto ao preço. O valor de mercado do Facebook hoje supera US$ 340 bilhões.
O Yahoo nunca conseguiu se recuperar. Em 2007, quando Semel pediu demissão, as vendas do Google eram mais que o dobro dos US$ 7 bilhões registrados pelo Yahoo.
Semel e outros ex-diretor presidentes do Yahoo não quiseram comentar ou não responderam a pedidos de entrevista.
O próximo diretor-presidente foi Yang, um dos fundadores, que se comprometeu a remodelar a empresa.
No início de 2008, a Microsoft Corp. fez uma oferta hostil para comprar o Yahoo por cerca de US$ 45 bilhões, um prêmio, na época, de cerca de 60%. Yang e o conselho rejeitaram as investidas da Microsoft por meses. Investidores irritados, incluindo o ativista Carl Icahn, tentaram tirar Yang do cargo e acabaram conquistando três assentos no conselho.
Questionado, em uma conferência do The Wall Street Journal, sobre como ele definiria o Yahoo, Yang teve dificuldade para dar uma resposta simples. "Eu penso no Yahoo como, nós temos que ser incrivelmente relevantes e significativos para os consumidores", disse ele. "E definimos isso como um ponto de partida. Nós queremos que você inicie seu dia no Yahoo." Em novembro, Yang pediu demissão.
Depois, vieram Carol Bartz, da Autodesk Inc., e Scott Thompson, do PayPal, que enfatizaram respectivamente os setores de mídia e de comércio eletrônico. Com a saída de Thompson, em 2012, o Yahoo voltou para suas raízes tecnológicas com Marissa Mayer, ex-gerente de produto do Google. Ela se concentrou na melhoria de produtos como e-mail e o site de compartilhamento de fotos Flickr, ao mesmo tempo em que ampliou os investimentos em software para celulares, vídeos on-line e ferramentas de busca. Em busca de talentos, ela também investiu cerca de US$ 2 bilhões na aquisição de mais de 50 startups.
A estratégia não conseguiu evitar a saída de profissionais talentosos e a queda de receita. Se ela fez algo, foi tornar clara uma verdade sobre o Yahoo: ele continua um portal de internet ambíguo.
Ex-empregados dizem que a origem do lento declínio do Yahoo é simples: ele perdeu os fenômenos das buscas on-line, redes sociais e celulares. "O que o Yahoo enfrenta hoje não se deve a decisões de três anos atrás", diz o investidor de capital de risco Andrew Braccia, ex-diretor de busca do Yahoo. "Deve-se a decisões tomadas há dez anos." Jornalista: Jack Nicas - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 26/07/2016
26 julho 2016
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terça-feira, julho 26, 2016
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Ruy Moura
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