08 março 2016

Negócio entre Deutsche Boerse e LSE pode ser fim de megafusões

Se a fusão entre a London Stock Exchange (LSE) e a Deutsche Boerse sair do papel, essa pode ser a megafusão derradeira no setor, pois novas combinações em tal escala provavelmente esbarrarão em barreiras antitruste.

As duas companhias buscarão superar o tipo de preocupações regulatórias que aniquilaram a tentativa de fusão da Deutsche Boerse com a NYSE Euronext, quatro anos atrás, em um acordo bloqueado porque teria criado um quase monopólio sobre os derivativos negociados em bolsa na Europa.
As companhias poderão argumentar que há menor sobreposição entre certas linhas de negócios em qualquer das duas regiões, dizem especialistas no setor - por exemplo, apesar de a Deutsche Boerse ter uma grande operação europeia de negócios com derivativos, a LSE praticamente não está presente nesse tipo de mercado.

Se o negócio for aprovado, criará um [conjunto de] "Quatro Grandes" potências de trading que superarão as rivais em termos de valor de mercado e alcance mundial, como a ICE e a CME nos EUA, a LSE-DB na Europa e a Exchanges and Clearing de Hong Kong.

Cada uma delas teria operações mundiais tão grandes nas áreas de negócios com ações e derivativos, bem como com índices e liquidações de operações, que qualquer argumento defendendo que as linhas de negócios não se sobrepõem não poderia prevalecer, dizem profissionais do setor e analistas.

"As operadoras muito grandes já estão começando a correr o risco de bater de frente com a fiscalização antitruste onde quer que coloquem os pés", disse Patrick Young, um consultor de bolsas desde os tempos da primeira proposta de fusão da LSE com a Deutsche Boerse, em 2000.

"Estamos chegando ao ponto em que o grande jogo de fusão entre bolsas está chegando ao fim; as grandes potências já foram definidas".

É improvável que as autoridades reguladoras permitam que a CME e a ICE, por exemplo, se fundam, uma vez que um grupo combinado teria uma posição quase inconteste em negócios com valores mobiliários nos Estados Unidos.

Também é improvável que a ICE venha a ser autorizada a comprar um grupo LSE-Deutsche Boerse combinado, pois isso, na prática, criaria um monopólio de derivativos negociados em bolsa na Europa, dizem analistas.

Também seria difícil imaginar que o governo chinês permitiria que uma bolsa viesse a assumir a Hong Kong Exchanges & Clearing, disseram os analistas.

Se o negócio envolvendo a LSE for em frente, qualquer grande bolsa em busca de expansão poderá, em vez disso, ter que procurar alvos de menor porte.

"Não sobrou mais ninguém para ser comprado. Seria um leque de megabolsas comprando algumas bolsas selecionadas, de médio porte", disse Brian Taylor, da BTA Consulting, um consultor de bolsas de valores.

Na Europa, as próprias bolsas de menor porte, como a Euronext e a BME seriam obrigadas a reagir ao aumento da concorrência de uma LSE-Deutsche Boerse combinada para evitar ser espremidas do mercado, disse Christian Voigt, conselheiro sênior de regulamentação na Fidessa, em Londres, que desenvolve sistemas de trading.

"Todas as companhias controladoras de bolsas médio porte serão obrigadas a encontrar uma resposta", disse ele. "Se você estiver aprisionado em tal posição, terá de começar a crescer ou concentrar-se em um nicho ou em áreas especiais, para poder se diferenciar".

Uma fonte bem informada sobre a Euronext, com sede na França, que foi separada da NYSE em 2014, disse que a estratégia de manter sua independência não é mais defensável, mesmo que a fusão da LSE com a Deutsche Boerse não se concretize.

Uma fusão Londres-Frankfurt também poderia causar problemas para a americana Nasdaq. A bolsa americana de tecnologia correria o risco de perder cada vez mais terreno para as Quatro Grandes, uma vez que não tem o mesmo alcance mundial nem forte presença nos negócios com derivativos e como câmara de compensações entre as companhias de maior crescimento e margem no setor.
"Eu efetivamente acho que (a formação da LSE-DB) seria praticamente a última das megafusões e colocaria uma questão interessante para a Nasdaq.

Será que eles [seus executivos] precisarão partir para uma fusão, qual seria o foco deles?" questiona Rich Daniels, analista sênior da TABB Group, em Nova York.

Antes do desaquecimento da economia chinesa, a Ásia era vista como uma terra prometida para a bolsas ocidentais que desejavam explorar o crescimento da região e realizar um sonho de tornarem-se plataformas verdadeiramente mundiais.

No entanto, barreiras políticas nacionais tornam aquisições por empresas estrangeiras na Ásia mais difíceis do que em outros lugares, diz Taylor, do BTA Consulting. Em 2011, a Austrália proibiu uma tentativa da Bolsa de Cingapura de comprar a Australian Stock Exchange para evitar que um país estrangeiro viesse a ter influência excessiva em seu centro financeiro.

Analistas dizem que as bolsas asiáticas são mais propensas a adquirir o controle de similares ocidentais, em vez do contrário.

A Hong Kong Exchanges & Clearing comprou a London Metal Exchange em 2012, ao passo que a bolsa SGX, de Cingapura, está entre as pretendentes interessadas na Baltic Exchange, em Londres.
"Eu não acho que algum país asiático esteja disposto a abrir-se para o controle estrangeiro", disse Daniels, do Grupo TABB. "Eu não acho que politicamente seja um momento para a Ásia fazer parte de uma consolidação verdadeiramente mundial".

A proposta de fusão entre Londres-Frankfurt ainda não foi formalmente colocada para os reguladores, mas uma importante preocupação dos órgãos da concorrência poderia ser na área de compensação, já que a LCH.Clearnet, da LSE, e a Deutsche Boerse Eurex Clearing dominam na Europa.

Especialistas do setor dizem que a bolsa britânia poderia cindir a sua operação francesa, na tentativa de acalmar os reguladores. LSE e Deutsche Boerse não quiseram comentar.  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 08/03/2016

08 março 2016



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