13 março 2018

'O rei voltou': AB Inbev começa a sair da geladeira

Bernstein traça três cenários para M&A

Depois de cinco anos com recomendação 'neutra', a Sanford C. Bernstein — uma respeitada casa de análise independente dos EUA — resolveu tirar a AB Inbev da geladeira e voltou a recomendar a compra do papel.

Em um relatório de 73 páginas intitulado 'O Rei Voltou', publicado hoje, os analistas decretam que o pior já passou para a cervejaria comandada por Carlos Brito.

A avaliação é de que a volta do crescimento de países emergentes e as sinergias que ainda devem ser entregues com a aquisição da SABMiller resultarão numa expansão dos lucros acima da média do setor — mesmo que a ABI continue a perder mercado nos Estados Unidos.

A Bernstein coloca um preço-alvo de US$ 132 por ação para o papel listado na Nyse — um potencial de alta de 14%. Mesmo com o empurrão da Bernstein, a ação subiu apenas 0,3% no pregão de hoje. (Depois de bater US$ 103 no início de fevereiro, o papel tem se recuperado e negocia ao redor de US$ 115.)

Nas contas da Bernstein, o faturamento da ABI deve crescer em média 5% nos próximos anos, com alta de 8% no lucro operacional e 13% no lucro líquido. O retorno total para o acionista, incluindo dividendos, é estimado em 17% no período — 3 pontos percentuais acima da média setorial.

Depois da baixa performance dos últimos dois anos, a ação está sendo negociada com um prêmio de apenas 6% em relação à média dos principais pares (Carlsberg, Heineken, Pernod Ricard, Remy Cointreau e Campari). A Bernstein avalia que esse prêmio deveria ficar mais próximo dos 15%, por conta do crescimento do lucro acima da média e do alto retorno sobre o capital investido.

Nos Estados Unidos, o consumo de bebidas alcoólicas está estagnado nos últimos anos e a cerveja vem perdendo participação para vinhos e destilados. Ao mesmo tempo, a ABI vem perdendo share -- com dificuldade no posicionamento frente a marcas mais premium. Desde 2012, a perda de mercado tem ficado entre 0,75 ponto percentual e 1,05 ponto percentual ao ano. Em 2017, a companhia respondeu por 42% do volume consumido no país.

O Bernstein não conta com uma melhora significativa. O banco estima uma queda de 3,5% para este ano, com queda modesta nas margens operacionais. "Modelamos o pior caso, mas torcemos pelo melhor", diz o relatório.

A ABI tem uma meta declarada de faturar US$ 100 bilhões até 2020 — praticamente o dobro dos US$ 56 bi de 2017. Para chegar lá, a Bernstein traçou três cenários para fusões e aquisições.

A mais provável delas é a compra da Castel, a segunda maior cervejaria da África, com cerca de US$ 6 bilhões em vendas -- divididas tanto em cervejas quanto em refrigerantes. A ABI já é sócia da companhia. Com a compra da SABMiller, herdou uma participação de 20% na Castel, que, por sua vez, tem 38% da SABMiller África.

"A SABMiller sempre viu a Castel como um ativo muito atraente e tinha um direito de preferência se Pierre Castel (que tem 91 anos) ou sua família decidissem vender ações," diz a Bernstein. "Assumindo que esse direito tenha sido transferido para a ABI na compra da SABMiller, e que a família decida vender, este seria um dos deals mais atrativos para a ABI."

A casa estima que a Castel vale entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões. Ou seja, a ABI teria que desembolsar US$ 40 bilhões para levar os 80% da companhia que ainda não detém, além de US$ 10 bi para recomprar a participação de 38% que a Castel tem na ABI Africa.

Outra possibilidade é a compra dos ativos de cerveja da Diageo, mais conhecida por ser dona do whisky Johnnie Walker do que da cerveja Guinness — um negócio que o mercado já especula há anos.

O segmento de cerveja representa apenas 16% da receita líquida da Diageo, e segundo a Bernstein, não há grandes sinergias entre as operações de destilados e cervejas — com exceção dos países africanos, onde a distribuição de um ajuda na de outro.

"A Diageo provavelmente é um vendedor muito relutante do seu negócio de cerveja. Mas, para todo ativo há um preço, especialmente se houver um comprador disposto a pagar um prêmio (incluindo benefícios fiscais), que imaginamos que possa levar o valor [dos ativos de cerveja] a até US$ 13,8 bilhões", diz o relatório.

Em outras palavras: "se o preço for bom, a Diageo pode criar sua rede de distribuição para destilados do zero. E, se a performance do negócio continuar a ficar abaixo dos pares, a Diageo pode ficar sob pressão de investidores ativistas para uma reestruturação radical".

O Bernstein termina o relatório com o 'sonho grande': uma fusão entre ABI e Coca-Cola, que criaria uma gigante integrada de cerveja e refrigerantes com um enterprise value (equity + dívidas) de mais de US$ 500 bilhões.

"A eventual aquisição da Coca seria muito atrativa, primeiramente devido à oportunidade de reduzir custos, mas também às sinergias com as engarrafadoras do sistema Coca nos mercados emergentes."
Abaixo, a ação da ABI desde 2013. Natalia Viri Leia mais em braziljournal 12/03/2018


13 março 2018



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