09 agosto 2020

Fundador da Folhamatic tem nova empresa

Maurício Frizzarin projeta investir R$ 100 milhões até o final de 2021.

Maurício Frizzarin, empresário que fundou a Folhamatic com 17 anos em 1990 e vendeu a empresa para a gigante inglesa Sage em 32 anos depois por quase R$ 400 milhões, está de volta com um novo negócio.

A nova empresa se chama Qyon Tecnologia e atua em um mercado similar ao que a Folhamatic atua, com um novo produto e planos ambiciosos, que incluem um investimento de R$ 100 milhões no Brasil até 2021.

O investimento será feito em conjunto com o Eight Sharp Capital LLC, um fundo de investimento baseado em Miami.

“Estamos construindo a melhor empresa de software com inteligência artificial do Brasil. Esse tempo afastado do mercado permitiu-me estudar profundamente a aplicação de inteligência artificial em softwares e fintechs”, afirma Frizzarin.

Frizzarin vendeu 75% da Folhamatic para a Sage em 2012, por R$ 398 milhões, uma venda parcial que já foi na época o segundo maior negócio do setor de software do país, só atrás da compra da Datasul pela Totvs em 2008, uma operação de R$ 700 milhões.

O empresário ficou ainda com os 25% restantes até 2015, quando o vendeu essa parte por um valor que não divulgado. Se o preço foi proporcional ao pago em 2012, ficaria em mais R$ 132 milhões.

Frizzarin e a Folhamatic já não apareciam muito antes da venda para a Sage e o empreendedor saiu de cena pelos anos seguintes.

Pela declaração de Frizzarin divulgada na nota divulgada sobre a Qyon, se entende que o empresário aproveitou a fortuna para se reciclar. 

No momento, ele cursa pós-graduação em business na Harvard Business School, além de ter cursado executive education em Inteligência Artificial na University of California, Berkeley e em Fintech na Harvard University.

A postura discreta do passado também ficou para trás. A nota que a Qyon já está analisando a compra de “pelo menos” mais três empresas no Brasil e uma na Califórnia.

A empresa deve funcionar no modelo de franquias, que já existem em um número “considerável” ao qual devem ser agregados 30 “nos próximos meses”. A meta de chegar 100 está no curto prazo.

O diretor comercial da nova empresa é Marco Paulo de Castro, que já havia sido gerente comercial na Folhamatic e era gerente de canais estratégicos dentro da Sage até março.

E qual é, afinal, o produto que a Qyon quer vender? Segundo a empresa explicou à reportagem do Baguete, trata-se principalmente um sistema de gestão para micro e pequenas empresas, com entrada em médias em algumas linhas de produtos, voltadas para controle de ponto, segurança no trabalho e obrigações fiscais

Os contabilistas, principal público da Folhamatic, também estão previstos como “parte do processo e do ecossistema no todo”, além de uma linha de produtos específica. 

Tudo feito do zero para rodar na nuvem, com tecnologia embarcada de inteligência artificial e big data, além de integração com meios de pagamento.

O lançamento da Qyon acontece meses depois da Sage decidir se desfazer da Folhamatic e outras aquisições feitas no Brasil, que incluem empresas similares, porém menores, como a Empresa Brasileira de Sistemas (EBS) e a Cenize Informática, que juntas custaram R$ 50 milhões.

Depois, a Sage gastou algo próximo a R$ 50 milhões para adquirir as paranaenses Empresa Brasileira de Sistemas (EBS), sediada em Curitiba, e Cenize Informática, de São José dos Pinhais.

A decisão foi divulgada pela empresa para acionistas em novembro e concretizada em março. 

O novo dono dos softwares brasileiros da Sage é o ex-presidente da empresa no país, Jorge Carneiro, que montou com eles um novo negócio, a Ao³. 

A Sage com sua operação no país, focado no X3, o seu software de gestão para empresas médias, que tem uma base pouco expressiva no Brasil.

Carneiro pagou £ 1 milhão pagos à vista e deve pagar outros £ 9 milhões em um prazo e condições não reveladas. Pelo valor da libra esterlina hoje (num pico histórico), estamos falando de algo em torno de R$ 70 milhões.

A Sage justificou a venda da Folhamatic e das outras empresas adquiridas pelo fato de elas não serem tecnologicamente compatíveis com os novos produtos da companhia, feitos para a nuvem.

Pode ser verdade, mas também é verdade que existe uma grande distância entre o que a empresa pagou pelas aquisições brasileiras e o preço de venda, que pode ser atribuído em parte ao fato que o Brasil de 2020 não é o Brasil de 2013, mas não só isso.

A informação que circula nos bastidores é que a Sage nunca conseguiu integrar os produtos brasileiros na sua estratégia e que havia insatisfação na base de clientes com o atendimento.

Então, enquanto a Ao³ procura recuperar o tempo perdido, a Qyon teria em tese um espaço para assediar a sua antiga base de clientes, com um produto novo.

A pergunta é se isso será suficiente, porque o quadro do mercado de sistemas de gestão para pequenas e médias empresas é muito mais amplo e tem se alterado com rapidez nos últimos tempos.

A Totvs, de longe o maior player brasileiro de ERP, acaba de montar a Eleve, uma nova divisão voltada para competir no mercado de sistema de gestão na nuvem para pequenas empresas, com um canal de vendas baseado em contadores.

É um produto que coloca a Totvs em competição direta com startups badaladas como Omie, ContaAzul e Contabilizei, que levantaram milhões de investidores, e agora também com a nova Qyon.

A Totvs está indo com força atrás dos contadores, oferecendo uma comissão de até 50% aos profissionais que venderem assinatura de seu sistema aos seus clientes, uma porcentagem que a empresa promete manter para sempre.

Esse mercado não é fácil, como prova a decisão recente da Omie, que fez uma  mudança radical de rumos, com a demissão de 134 funcionários, cerca de um terço do total, e um novo foco de mercado em clientes maiores do que os que tradicionalmente atendia.

A Totvs é um adversário temível, que já tem 48% de participação de mercado entre as empresas de pequeno porte, aquelas com até 170 funcionários, segundo a pesquisa “Uso de TI nas Empresas em 2019”, da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo.

Talvez seja por isso que apesar do investimento expressivo (que, aliás, pode ser bastante ampliado, se Frizzarin foi econômico nos últimos anos) e dos planos ousados, a divulgação da Qyon também tem um toque de modéstia.

“Não pretendemos ser a maior empresa do Brasil, mas a melhor e mais interdisciplinar do setor. Nossos usuários terão tudo que eles precisam em suas telas, com plena integração do seu sistema com o dia a dia da sua empresa”, afirma Frizzarin... Leia mais em baguete 09/08/2020



09 agosto 2020



0 comentários: