16 junho 2018

Otis pede para subir

O mercado brasileiro de elevadores despencou de 15 mil para 7 mil unidades por ano, entre 2012 e 2017, mas a líder do setor aumentou os investimentos e comprou uma divisão da concorrente Mitsubishi. Saiba onde a empresa quer parar

O executivo paulista Júlio Belinassi, presidente da fabricante de elevadores Otis na América do Sul, é conhecido por seus pares como um autêntico workaholic. Em duas décadas na companhia, criou o hábito de ser um dos primeiros a chegar à fábrica de São Bernardo do Campo (SP), a única da companhia na América Latina, e de deixar o escritório quando a novela das nove já está perto do fim. Quando não está na sede da empresa, dá expediente em uma das 30 filiais pelo País ou está em reuniões com clientes e fornecedores. “O mundo não para, os negócios não param e, por isso, não podemos dormir no ponto”, disse Belinassi, que começou na Otis como um engenheiro de manutenção.

Essa rotina tem ficado mais intensa desde 2016, quando assumiu o comando da operação regional da maior empresa do ramo no mundo, dona de um faturamento global de US$ 12,3 bilhões. O executivo recebeu a missão da matriz em Farmington, no Estado americano de Connecticut, de fazer a Otis subir enquanto o mercado descia.

Entre 2012 e 2017, as vendas totais de elevadores no mercado brasileiro despencaram de 15 mil para 7 mil unidades por ano, afetadas pela crise do setor da construção civil. “Foi um dos períodos mais desafiadores da Otis em 110 anos de história no Brasil”, afirma Belinassi. “Tivemos de colocar em prática um grande plano de reformulação de nosso modelo de negócios.”

O plano de reformulação se resume, basicamente, no conceito de seguir na contramão. Ao enxergar oportunidades de aquisições, comprou a divisão de elevadores da Mitsubishi Electric no Brasil. Com o negócio, que não teve o valor divulgado, incorporou ao seu portfólio as marcas LGTech e Melco, que pertenciam ao grupo japonês. “Mesmo no período mais difícil da crise, mantivemos em mente a certeza de que o mercado brasileiro, um dos dez maiores da Otis no mundo, voltaria a crescer”, diz Belinassi. “Acredito que voltaremos aos patamares recordes daqui a quatro ou cinco anos.”

A compra da Mitsubishi não apenas garantiu um aumento de quase 40% na capacidade de produção, como também gerou um forte aumento da demanda por serviços de reforma e de manutenção de elevadores, esteiras e escadas rolantes. A divisão, que antes da crise respondia por 50% das receitas, hoje representa cerca de 70% do faturamento. “As vendas de elevadores novos caíram muito, é verdade, mas muitas empresas decidiram reformar e modernizar seus elevadores antigos, um movimento que resultou em muitos novos contratos”, afirma o presidente.

Ascensão: elevadores e escadas rolantes da Otis em Xangai, na China. O país responde por metade das compras mundiais do setor, puxadas pela forte demanda do mercado imobiliário e pelas obras de infraestrutura

Graças ao crescimento da procura por serviços, segundo Belinassi, as receitas da Otis crescem a um ritmo de dois dígitos há mais de dois anos. “A empresa conseguiu reequilibrar suas fontes de receita em todos os mercados que tiveram grandes oscilações nos últimos anos, não apenas no Brasil, mas em mercados da África e América Latina”, diz o consultor Joey Feldman, analista de infraestrutura da corretora americana Telsey. “Com a China comprando metade de toda produção mundial de elevadores, as turbulências de alguns mercados tiveram impacto reduzido nos resultados globais das companhias.”

Para continuar subindo, a Otis aposta, principalmente, nas novas tecnologias. Depois de investir US$ 30 milhões na fábrica e no desenvolvimento de um centro de inovação no Brasil, nos últimos dois anos, fechou parceria com Apple, Microsoft e AT&T para a construção do “elevador do futuro”, como Belinassi define. Trata-se de um aplicativo de celular batizado de iCall, que, conectado à rede do edifício, informa a aproximação do usuário para que o elevador se posicione no piso correto, sem a necessidade de botões.

Além disso, leva o passageiro ao escritório ou à residência sem qualquer comando manual. Esses mesmos elevadores, ou os antigos que receberem a tecnologia, terão a capacidade de se comunicar com a central e informar eventuais problemas, como hoje funcionam frotas de aviões de companhias áreas. “Em menos de 12 meses, esse produto estará disponível para a venda no Brasil, revolucionando o modo como hoje se utiliza o elevador”, diz Belinassi. Leia mais em istoedinheiro 15/06/2018




16 junho 2018



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