11 julho 2016

Genéricos perdem encanto para as “Big Pharmas

Em abril de 2009, o laboratório francês Sanofi Aventis pagou R$ 1,5 bilhão pela brasileira Medley, líder nas vendas de medicamentos genéricos no País naquela época. Um ano depois, a americana Pfizer comprou 40% da Teuto por R$ 400 milhões, com opção de assumir o controle entre 2014 e 2016.

As duas aquisições marcaram a entrada de grandes laboratórios internacionais, conhecidos como Big Pharmas, no pujante mercado de medicamentos genéricos brasileiro, que crescia a taxas chinesas.

Menos de uma década depois, esse encanto parece que acabou. O Teuto foi colocado à venda pela Pfizer e pela família Melo, fundadora da empresa. Os bancos de investimentos BTG e Goldman Sachs foram contratados para vendê-la. Procurada, a Pfizer não comenta.

A Sanofi Aventis ainda não bateu o martelo se colocará a Medley à venda. Mas fontes ouvidas pelo blog BASTIDORES DAS EMPRESAS acreditam que esse deve ser o caminho a ser seguido pelo grupo francês, que está se desfazendo de seu negócio global de genéricos.

Procurada, a Sanofi Aventis nega que a Medley esteja à venda. “Em relação a especulações de mercado, a Sanofi não confirma que a Medley esteja à venda”, informa a empresa, por meio de uma nota. “A Medley, uma das líderes na produção e venda de medicamentos genéricos e similares, ocupa papel fundamental nos planos de negócios da Sanofi no Brasil.”

O mercado de genéricos cresceu 11,75% em 2015, uma desaceleração em relação a anos anteriores. A receita foi de R$ 5,9 bilhões, o que representa 12,9% do faturamento total do setor, segundo dados da PróGenericos, entidade que representa as empresas da área. Por unidades, a fatia dos medicamentos sem marca é de 29%.

É um mercado e tanto para qualquer empresa. Mas as margens dos medicamentos genéricos são muito baixas, os descontos na ponta do varejo chegam a atingir 90% e a disputa pela preferência do consumidor nas farmácias é feroz.

“Esses grandes grupos querem canalizar seus recursos para medicamentos inovadores, como os biológicos, que são o futuro do setor, e trazem margens mais altas”, diz um especialista do setor farmacêutico.

A Medley, que liderou o setor de genéricos brasileiro, perdeu a primeira colocação para a EMS, do empresário Carlos Sanchez. Nos últimos anos, a farmacêutica da Sanofi Aventis enfrentou grandes turbulências, trocando até três presidentes. A empresa, que era a solução para a Sanofi Aventis, acabou se transformando em um problema.

A estratégia, a partir de então, foi abandonar a briga por participação de mercado. Com isso, ela reduziu os descontos para os varejistas e focou na rentabilidade. “Posso garantir que a operação hoje é super-rentável”, diz um ex-executivo da empresa.

Nessa reestruturação, a companhia perdeu a independência e se transformou em uma unidade de negócios da Sanofi Aventis, comandada por Carlos Aguiar, seu antigo diretor comercial. Essa mudança desagradou a muita gente internamente. “Há uma grande insegurança lá dentro”, afirma um ex-funcionário.

De acordo com dados da consultoria IMS Health, a Medley faturou R$ 993 milhões com genéricos em 2015, ficando atrás apenas da EMS Pharma, com receita de R$$ 1,158 milhão. A terceira colocada foi a Neo Química, do grupo Hypermarcas, com R$ 574 milhões. Os números já consideram os descontos dados pela indústria, distribuidores e varejistas.

A Teuto, por sua vez, tem um porte menor do que a Medley. No ano passado, faturou R$ 305 milhões, ocupando a 8ª posição no ranking de genéricos. Ao contrário da Medley, a Teuto trabalhou com grandes descontos na ponta do varejo para tentar ganhar mercado, apertando ainda mais as já apertadas margens.

Quem seriam os potenciais compradores? A líder do setor a EMS estaria fora da disputa. Hoje, ela conta com quatro laboratórios entre os 10 maiores vendedores de genéricos do Brasil. Além da EMS Pharma, o empresário Carlos Sanchez é dono da Germed, Legrand e Nova Química.

A Hypermarcas, segundo apurou o blog BASTIDORES DAS EMPRESAS, teria interesse na Medley. Com a Medley, ela ultrapassaria a EMS, tornando-se a líder em genéricos. Uma oferta, neste momento, seria bastante improvável.

Gigantes internacionais de genéricos, como as indianas Dr. Reddy´s e a Hetero, assim com a israelense Teva, poderiam aproveitar essa oportunidade, acreditam fontes do setor.

Com a saída das Big Pharmas, uma nova fase de consolidação dos genéricos parece estar a caminho.
Fonte: IstoÉ Dinheiro  Autor: Ralphe Manzoni Jr. Leia mais em tudofarma 11/07/2016

11 julho 2016



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