06 abril 2014

Carlyle faz sócios socorrerem controlada Urbplan no Brasil

Os sócios seniores do Carlyle já injetaram US$ 66,9 milhões e a empresa entrou com mais US$ 21,1 milhões na desenvolvedora imobiliária

Os sócios do Carlyle Group LP estão sendo chamados a injetar capital para resgatar um dos primeiros investimentos realizados pela empresa de private equity no Brasil, em uma tentativa de proteger seus crescentes negócios na maior economia da América do Sul. Os sócios seniores do Carlyle já injetaram US$ 66,9 milhões e a empresa entrou com mais US$ 21,1 milhões na Urbplan Desenvolvimento Urbano SA, desenvolvedora imobiliária que tem sido objeto de centenas de ações judiciais, em parte por não conseguir entregar diversos projetos de bairros planejados pelo país, de acordo com registros jurídicos e regulatórios.

 A Urbplan precisa de até US$ 200 milhões para concretizar o plano do Carlyle de recuperação após uma expansão demasiado ambiciosa que o deixou com uma dívida de alto custo de US$ 305 milhões. 

A desventura do Carlyle no setor imobiliário brasileiro ressalta o risco de fazer negócios no país, quase sete anos depois que David Rubenstein, um dos fundadores da empresa, disse que ele seria um “enorme” mercado de private-equity.

 As sociedades financeiras especializadas em aquisições raramente usam seu próprio dinheiro — e muito menos, o de seus investidores — para resgatar investimentos.

 Para a Carlyle, com sede em Washington, essa decisão pode ser necessária para proteger sua reputação e as crescentes obrigações em um país onde cada vez mais o setor jurídico responsabiliza os diretores e acionistas pessoalmente por queixas contra suas empresas.

 “A responsabilidade limitada, que antes era a regra, se tornou uma exceção”, disse Bruno Salama, professor de direito da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, em entrevista por telefone.


“Essa é uma séria ameaça a certos setores e private-equity é um deles”, disse Salama, autor do livro “O fim da responsabilidade limitada no Brasil”.

 O Carlyle gastou pelo menos US$ 100 milhões para comprar um bloco de controle da Urbplan em 2007 e para financiar a empresa até 2011. Esse investimento não deu resultados até o fim de 2012 e os investidores não quiseram investir mais dinheiro na empresa, de acordo com documentos do Carlyle. 

No relatório anual apresentado no mês passado na Comissão de Valores Mobiliários (SEC), o Carlyle disse que, se a Urbplan não finalizar seus projetos de construção, clientes e outros credores podem formular queixas contra a empresa de private-equity, “de acordo com a defesa do consumidor” e outras leis.

 O Carlyle está tomando medidas para revigorar a Urbplan, como a contratação de um novo CEO especialista em recuperações, André Machado Mastrobuono.

 “Infelizmente, apesar de nosso forte histórico de investimentos, nem todo investimento funciona”, disse o Carlyle em um comunicado por e-mail. “Tivemos um problema e entramos em ação. Juntos, com a nova diretoria e um plano novo, estamos trabalhando arduamente para transformar este negócio, incluindo a entrega dos projetos da Urbplan”.

 O investimento é um erro raro para o Carlyle, fundado pelos bilionários William Conway, Daniel D’Aniello e Rubenstein em 1987. Até 31 de dezembro, a empresa de aquisições tinha investido em mais de 470 transações corporativas, retornado anualmente uma média de 30 por cento aos investidores e supervisionado quase US$ 189 bilhões.

 Mesmo no rarefeito mundo de aquisições, os sócios gozam de tempos estimulantes. Os fundadores arrecadaram US$ 279 milhões em pagamentos e dividendos em dinheiro no ano passado, um aumento de 61 por cento em relação a 2012.

 “Isso pode criar um mau precedente”, disse James Hill, presidente do conselho do Benesch, Friedlander, Coplan e Aronoff LLP. “Investidores de outros empreendimentos que estão tendo perdas podem perguntar ‘onde está o nosso’ socorro”.

 Opções de saída

 Um potencial comprador pode exigir que o Carlyle garanta as obrigações atuais da Urbplan, segundo relatório anual do fundo. No fim do ano passado, elas incluíam uma dívida de US$ 305 milhões, que carrega juros com taxas flutuantes de 13,7 por cento a 19,3 por cento e compromissos para desenvolver terrenos com um custo estimado de US$ 125 milhões.

 “Se o Carlyle quiser vender a empresa, não acho que isso ocorrerá no curto prazo”, disse Mirian Abe, analista da Fitch. “Eles têm que arrumar tudo lá e mostrar algum resultado.”


 Miles Weiss e Francisco Marcelino, da Bloomberg | Leia mais em exame 20/03/2014

06 abril 2014



0 comentários: