24 abril 2012

Prêmio iG/Insper: Sinopec é a mais poderosa em fusões e aquisições

Estatal chinesa de petróleo avança de forma agressiva no Brasil com aportes de R$ 15 bilhões e a compra de concorrentes europeias

 O apetite da China por recursos naturais faz o Brasil ser um dos alvos principais de investimentos de companhias chinesas para garantir o abastecimento de energia. E a entrada de um novo player vindo do Oriente pode garantir a expansão e exploração do óleo brasileiro. A China Petroleum & Chemical Corp, ou Sinopec, tem investido nos últimos anos agressivamente no Brasil – cerca de R$ 15 bilhões - e crescido por meio de aquisições de companhias europeias.

Por isso, a Sinopec foi escolhida o maior negócio do ano e a empresa mais poderosa em fusões e aquisições no prêmio IG Negócios do Ano 2012. A empresa é estatal, mas tem ações listadas em Shangai, Nova York, Hong Kong e Londres. A companhia está presente no país desde 2004 e atuou na construção de gasodutos para a Petrobrás – foi ela a responsável pelo maior trecho do Gasoduto Sudeste Nordeste (Gasene).

 A Sinopec é a maior companhia petroleira e petroquímica na China e a segunda maior produtora de petróleo do país, com uma produção anual superior aos 350 milhões de barris equivalentes de petróleo e reservas da ordem de 4 bilhões de barris equivalentes de petróleo. É a primeira empresa de refino da China com uma capacidade de destilação da ordem de 3,9 milhões de barris por dia.

Está presente em 20 países de regiões como a África, Rússia, Ásia, América e Oriente Médio. De acordo com a Forbes, é a quarta maior companhia em faturamento do mundo, com uma receita bruta de US$ 391,4 bilhões, atrás de Shell, Wal Mart e Exxon Mobil. Para comparar, a Petrobrás teve vendas de US$ 145,9 bilhões em 2011.

A relação do Brasil com a China pode ser colocada como simbiótica. De um lado o país necessita de recursos estrangeiros para a exploração de petróleo. De outro, disposição chinesa por reservas naturais coloca o governo brasileiro numa posição de atenção. Em jogo, está a elevação das reservas brasileiras dos atuais 16 bilhões de barris para 100 bilhões de barris de petróleo nas próximas décadas, o que vai colocar o país como um dos líderes na exploração de óleo.

 Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestutura (CBIE), Adriano Pires, a estatal chinesa já tem reservas que a colocam lado a lado com a Petrobrás na exploração das bacias do pré-sal. De acordo com o especialista, a estratégia da Sinopec é garantir acesso a reservas internacionais para impulsionar o crescimento da economia chinesa. “Os chineses não estão interessados na operação das bacias petrolíferas no Brasil. A estratégia deles é serem sócios de empresas já estabelecidas e garantir reservas para exportar petróleo para o país asiático”, afirma.

 A economia da China cresce rapidamente, e o país já é o segundo maior consumidor de petróleo do mundo, atrás dos Estados Unidos. Enquanto os americanos consomem em média até 20 milhões de barris de petróleo por dia, os chineses tem um consumo médio de 13 milhões de barris. “Se as taxas de crescimento da economia chinesa se mantiverem nos próximos anos, na próxima década o país asiático deve se tornar o maior consumidor de petróleo no mundo”, pondera Pires.


O Brasil tem um cenário de destaque na exploração do óleo, ao lado da África e do Canadá, regiões em que a Sinopec também atua com força. A China já é a segunda maior importadora do insumo do Brasil. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o óleo bruto é o terceiro item na pauta de exportação, atrás de minério de ferro e soja.

 Em 2011, o Brasil exportou para a China cerca de US$ 4,88 bilhões de óleo bruto de petróleo, um crescimento de 83% em relação aos valores de 2010, quando a exportação foi de US$ 4,05 bilhões. Os números impressionam ainda mais se comparados as vendas externas de 2009, quando às vendas de petróleo foram de US$ 1,33 bilhões. Somente o óleo bruto respondeu por 11% das exportações brasileiras para a China, que em 2011 somaram US$ 44,3 bilhões.

 É possível comparar o crescimento das importações chinesas com os Estados Unidos, o principal cliente de petróleo do Brasil. Os americanos importaram cerca de US$ 5,7 bilhões em óleo bruto. Para Pires, a China deve se tornar o principal consumidor do petróleo brasileiro nos próximos dois anos.

 Estimativas da própria Sinopec mostram, em 2020, cerca de 60% do consumo anual de petróleo da China será suprido por meio de importações. Além disso, a empresa acredita que a demanda por produtos de petróleo no país vai crescer entre 5% e 6% por ano de 2011 a 2015. A demanda da China por combustíveis deve subir para 286 milhões de toneladas em 2015. Em 2020, deve chegar a 336 milhões de toneladas.

Para o analista, o Brasil é um dos melhores lugares do mundo para investir quando o assunto é petróleo. “Primeiro porque é uma democracia e respeita contratos, diferente da Argentina. E também o país tem reservas grandes e promissoras, comparáveis com a costa oeste da África, em países como Angola, Nigéria e Guiné, e também com os ativos de óleo não convencional no Canadá”, afirma Pires. Existiam rumores no mercado de que a Sinopec estaria negociando com a Repsol para comprar uma fatia na YPF, que acabou sendo nacionalizada.

 A mesma Repsol é uma das empresas com a qual a Sinopec tem parceria no Brasil. A companhia espanhola vendeu 40% das ações da unidade brasileira para a empresa chinesa por US$ 7,1 bilhões. A joint venture foi realizada em dezembro de 2010 e é avaliada em US$ 17,8 bilhões. Com a operação, a Repsol-Sinopec se tornou uma das maiores companhias de energia de capital estrangeiro operando na América Latina.

 Repsol e Sinopec continuarão com seus planos de expansão no Brasil e participarão conjuntamente ou separadamente em futuras rodadas de licitação no país. Pires fala que existem rumores no mercado que a Sinopec poderia comprar mais 10% da operação, o que daria uma posição de maior destaque para a empresa nos investimentos brasileiros.

 A segunda aquisição da estatal foi a portuguesa Galp, pelo valor de US$ 4,8 bilhões por uma participação de 30% dos negócios no Brasil. A Galp é parceira minoritária da Petrobrás em importantes descobertas marítimas, incluindo o campo de Lula, hoje com o maior poço produtor do País, com 27 mil barris por dia e perspectivas de produzir 1 milhão de barris por dia.

 A próxima compra da gigante chinesa pode ser o BG Group, que tem ativos importantes na Bacia de Santos e é um dos principais parceiros da Petrobrás no pré-sal. A empresa britânica estaria se desfazendo de ativos para financiar a exploração no pré-sal brasileiro. “Por enquanto, isso é somente um rumor”, afirma Pires.

 Outro alvo da Sinopec é OGX, com a qual a empresa chinesa estaria em negociação para a compra de ativos de offshore. De acordo com a Reuters, a Sinopec teria feito uma oferta por participações em ativos da empresa de Eike Batista, em uma operação potencial de US$ 7 bilhões. A OGX conduz atividade exploratória em 29 blocos no Brasil.

Parceria de peso

 A própria Petrobrás também se aliou aos chineses. Em maio de 2011, a empresa brasileira anunciou um acordo para obter um empréstimo de US$ 10 bilhões do Banco de Desenvolvimento da China, oferecendo em troca uma oferta de petróleo à Sinopec durante dez anos. E a estatal concedeu à Sinopec direitos de exploração de dois blocos de petróleo e gás natural em águas profundas no Brasil.

 Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestutura, a empresa também deve ser agressiva nos próximos leilões dos blocos exploratórios do pré-sal. O governo brasileiro não realiza leilões desde 2008. Os próximos devem ocorrer até 2013, de acordo com sinalizações ao mercado. Já sobre um possível investimento da petrolífera em refino no Brasil, o analista é reticente.

 Para ele existe uma boa oferta de refino de petróleo na Ásia, embora as indústrias da Sinopec na China estejam próximas do uso total da capacidade. E também pelo fato de o governo brasileiro controlar o preço da gasolina no Brasil, o que inibe o investimento estrangeiro no setor. “No refino, existe uma barreira alta que é o controle do preço. É um investimento arriscado, propício a se perder dinheiro. E por outro lado, o frete do transporte de gasolina para a Ásia é alto. Acredito que o interesse da China seja em óleo crú”, afirma. “A China está diversificando os investimentos em ativos que o país necessita. É buscar ter acesso a recursos naturais com olhar estratégico”, finaliza Pires. Por Wendel Martins, Fonte:iG 24/04/2012

24 abril 2012



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